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domingo, 21 de outubro de 2012

NATALIA QUEIROZ MINHA MÃE, FOI ENTREVISTADA EM 1990



DEPOIMENTO DE NATÁLIA QUEIROZ SOBRE A INVASÃO DE LAMPIÃO A MOSSORÓ EM 13/06/1927 

Esse texto foi extraído do meu livro “MEMORIAS DE UM TEMPO FUGAZ”, que  será publicado em breve. Está na fase de revisão para depois ir ao prelo. Eis a entrevista:

P - Onde a senhora estava na véspera do ataque de Lampião a Mossoró? A senhora fugiu no trem para Areia Branca?

N - Estava na casa do prefeito Rodolfo Fernandes com um grupo de amigos e familiares, todos curiosos com a evolução dos acontecimentos, pois o ataque de Lampião a Mossoró poderia acontecer a qualquer momento.Sei bem que Júlio Maia ( um dos líderes da resistência e primo do Prefeito), chegou e disse que nós tínhamos que ir também para Areia Branca de trem. Continua Natália – os homens estavam se organizando em trincheiras. O prefeito foi muito corajoso, decidido, isso é que é a verdade., Acho que fomos no último trem, já muito lotado. Foi uma verdadeira folia. Eu era muito jovem, claro que estava com medo mas naquela idade tudo era aventura. Eu ainda não conhecia João Almino. Passamos três dias em Areia Branca. Era tanto boato!  As informações eram desencontradas, mas voltamos no primeiro trem.

P - Já sabiam que Lampião havia sido derrotado?

N- deram ordem para a gente voltar, pois Lampião já havia saído, mas tinha sempre aquelas pessoas que duvidavam de tudo. No percurso, acho que já bem perto de Mossoró, avistamos um carro e o trem diminuiu a marcha para saber notícias. Nessa ocasião o pai de Idália, (esposa de Chico Xavier de Queiroz), o senhor Antonio do Carmo, muito nervoso perguntou ao motorista do carro em voz alta, como estava a cidade. O motorista respondeu:- “tudo em paz”, mas ele entendeu “tudo em bala” .Ficou então gritando para o trem parar.E dizia : – Ta vendo, tudo em bala”. Foi um verdadeiro alvoroço. Algumas pessoas choraram, mas o maquinista desceu e foi conversar com o motorista do veiculo ficando esclarecido que estava tudo em paz. O trem prosseguiu viagem.

P-  O trem estava muito cheio?

N- sim estava mas nem todo o pessoal que tinha ido a Areia Branca voltou naquele dia, alguns ainda permaneceram por vários dias e a cidade de Mossoró ainda passou quase um mês com boatos. Diziam que Lampião ia retornar ou que estava na passagem do rio. Lembro-me de Jararaca na cadeia, fui olhar. Dr. João Marcelino foi o médico que o atendeu. Dizem que Jararaca  foi enterrado vivo, pelos policiais que iam levá-lo para Natal.

P- O que aconteceu após a fuga de Lampião?

N-  Sim, mas o bando de Lampião fugiu em direção a Jucuri e de lá até a fazenda Veneza, que era uma propriedade de Alfredo Fernandes. O gerente dela era Childerico (Childerico  Fernandes de Souza), primo de seu pai. Chegaram de manhã cedo (dia 14). A Bebela (Felisbela Rodrigues Fernandes) me disse muito depois o sofrimento que passaram. Acabaram com toda a comida existente lá, estoque de carnes, mataram muitas galinhas a tiro e mandaram fazer comida.  Eram mais de 50 cangaceiros. Saquearam tudo e ainda levaram 15 contos de reis que Childerico estava guardando para compra de umas reses. Bebela me disse também que só conseguiu guardar um queijo que caiu e ela jogou para debaixo de um armário. A certa altura Lampião perguntou se Childerico era primo do prefeito. Ele disse que sim. Não houve confusão por isso, mas  tinha um cangaceiro chamado Massilon que evitou muito as agressões que alguns queriam fazer. Eles ficaram na fazenda por todo o dia 14 e depois seguiram para Limoeiro do Norte.

Concluiu Natália: – eu não conhecia ainda João Almino. Minhas amigas é que falavam dele e diziam que ele era irmão de Celso Almino. Ora, se eu também nem sabia quem era Celso.

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