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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ, CONTINUAÇÃO, ÚLTIMA PARTE DA SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO

Por: Honório de Medeiros(*)
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Segunda teoria acerca da invasão: o ataque a Mossoró resultou da paixão de Massilon por Julieta, filha do coronel Rodolpho Fernandes (terceira e última parte)

Pois bem, Massilon teria uma paixão por Julieta, filha do Coronel Rodolpho Fernandes. 

Temos, aqui, um entreato:  
Amarílio Gonçalves[1]: 

Coronel Isaías Arruda

Em virtude da amizade com o ‘coronel’ Isaías Arruda, na verdade um dos grandes coiteiros de Lampião no Ceará, o Rei do Cangaço, como era chamado, esteve, mais de uma vez, no município de Aurora. Em suas incursões pelo município sul-cearense, o bandoleiro se acoitava na fazenda Ipueiras, de José Cardoso, sobrinho de Isaías.

Uma dessas vezes foi nos primeiros dias de Junho de 1927. Na fazenda Ipueiras, onde já se encontrava Massilon Leite, que chefiava pequeno grupo de cangaceiros, Lampião foi incentivado a atacar a cidade norte-rio-grandense de Mossoró – um plano que o bandoleiro poria em prática no dia 13 do citado mês. Em razão do incentivo, Lampião adquiriu do ‘coronel’ um alentado lote de munição de fuzil que, de mão beijada, Isaías havia recebido do Governo Federal (Artur Bernardes), quando este promoveu farta distribuição de armas a ‘coronéis’ ‘para alimentar o combate dos batalhões patrióticos à coluna Prestes’.

Presente àquela negociação, que rendeu ao ‘coronel’ Isaías a considerável quantia de trinta e cinco contos de réis, esteve o cangaceiro Massilon, que teve valiosa influência junto a Lampião, no sentido de atacar Mossoró, cujos preparativos tiveram lugar na fazenda Ipueiras. Consta que 

O cangaceiro Massilon Leite

Massilon Leite – associado a Lampião no sinistro empreendimento – tinha em mente assaltar a agência local do Banco do Brasil e sequestrar uma filha do cel. Rodolfo Fernandes.

Alexandro Gurgel conta que Pedro Dantas Filho, natural de São José do Brejo do Cruz e morto em 2002, aos 88 anos, conheceu Massilon, que comerciava gado na cidade, e este lhe informou que o cangaceiro nutria uma paixão platônica pela filha de Rodolpho Fernandes e via no ataque a Mossoró uma oportunidade de raptar a moça.


Calazans Fernandes[2], no seu livro histórico “O Guerreiro do Yaco”, a vida romanceada do Coronel Childerico Fernandes, nos conta o seguinte: 

O cangaceiro Lampião

Do Alto da Conceição, na entrada de Mossoró, Lampião avaliou o tamanho da cidade que via pela frente. Ao contar as igrejas, sua reação imediata foi segurar Massilon pelo cangote:

“Cidade de quatro torres é demais para cangaceiro atacar. Você ainda me paga”. 

Vinha contabilizando os insucessos da carreira do bandido e ainda ignorava completamente que, devido a ele, Mossoró recebia sinais de alerta através de Esther Fernandes, uma das filhas de Rufino, da Maniçoba, mulher de Ezequiel Fernandes de Souza, sócio de Alfredo Fernandes e Cia., da família de Rodolfo Fernandes.

Coronel Rodolfo Fernandes

Ela fazia a ponte entre o irmão Zé Rufino, de Vitória, e o prefeito de Mossoró.

Ao mesmo tempo em que Zé Rufino, então com 26 anos, conhecera Massilon, havia conhecido o jovem Virgulino, de 20. Tropeiros nos mesmos caminhos, os dois se cruzavam ao abrigo das oiticicas na travessia do rio nas cercanias de Apodi. Num desses encontros, nos tempos perversos de 1918, Zé Rufino assistiu a Virgulino surrar de chicote uma velha que roubava farinha para alimentar a penca de filhos. Desentenderam-se, trocaram advertências, mas o episódio encerrou-se aí. 

Nas mesmas sombras e lazer, desde essa época Massilon e Zé Rufino encontravam-se na lide dos comboios de algodão, de peles de oiticica, dos sertões para Mossoró, de onde, dos armazéns de Alfredo Fernandes & Cia., tiravam o sal para os varejos da Tromba do Elefante, as charqueadas do Cariri no Ceará e do Gurguéia no Piauí, de rotas mais curtas do que as de antigamente para o São Francisco e as Minas Gerais, porém mais freqüentes naqueles anos de expansão da carne de sol.

Das estradas, a parceria dos dois chegou à mesa do café da manhã dos Fernandes, que Massilon associava a milhões e a mulheres perfumadas. Na casa de Esther, na intimidade da família, o cabra de olhar trigueiro deslumbrou-se no luxo do mobiliário e no jeito fortuito das moças orgulhosas nos seus vestidos de seda.

Mesmo nas suas suspeitas, Lampião só desconfiou de que a obstinação de Massilon em atacar Mossoró escondia uma paixão quando já era tarde. Pelo resto da vida, aliás, ele nunca saberia que seu cabra alimentava a intenção única de se valer do chefe e seu bando como escudos, para raptar a irmã[3] do prefeito Rodolfo:

“... que fiquem com todo o dinheiro. Eu só quero a minha Julieta”... 
Como se diz no Sertão: 
“é tudo “foquilore”!


Ou será verdade? Agreguemos aos depoimentos de Amarílio, Alexandro e Calazans o fato, que pode ter outra conotação, como será analisado mais adiante, de Massilon ter assumido para si a responsabilidade de atacar a casa do Coronel Rodolpho Fernandes enquanto Jararaca e seus parceiros distraia os defensores pela frente.

Por qual razão houve o ataque à residência do Intendente e, não, ao comércio? Por qual razão Massilon comandou o ataque? Por qual razão os cangaceiros, comandados por Jararaca, antes de se posicionarem para o ataque à residência do Intendente invadiram a residência de Joaquim Perdigão, seu genro, mas não atacaram seu vizinho?

CONTINUA... 

Leiam, anteriores a este texto, em
www.honoriodemedeiros.blogspot.com:
1) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO;
2) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: COMO ERA A CIDADE NA ÉPOCA DA INVASÃO;
3) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO(Primeira Parte);
4) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO (Segunda Parte);
5) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO; PRIMEIRA PARTE.
6) SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO: O ATAQUE A MOSSORÓ RESULTOU DA PAIXÃO DE MASSILON POR JULIETA, FILHA DO CORONEL RODOLPHO FERNANDES (SEGUNDA PARTE).
[1] “AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE”; TAVARES, Amarílio Gonçalves; 2ª. Edição; Ceará.
[2] “O GUERREIRO DO YACO”; Fundação José Augusto; 2002; Natal, RN.
[3] Aqui o autor equivocou-se: é a filha do Coronel.


(*)Mestre em Direito; Professor de Filosofia do Direito da Universidade Potiguar (Unp); Assessor Jurídico do Estado do Rio Grande do Norte; Advogado (Direito Público); Ensaísta.


honoriodemedeiros.blogspot.com. 



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