Por: Rangel Alves da Costa(*)
MENSAGEM
DA MISSA DE 7º DIA
MISSA DE 7º
DIA
ALCINO – UMA
MENSAGEM DE RECONHECIMENTO
E PARA O SEU
ETERNO DESCANSO
Ontem, 07 de
novembro de 2012, na igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Poço
Redondo, ocorreu a celebração da missa de 7º dia em memória de Alcino Alves
Costa. Através da oração, os seus irmãos sertanejos pediram pelo descanso
eterno de sua alma. Foi um gesto de fé na misericórdia de Deus, na ressurreição
da carne e na vida eterna.
Durante o ato,
foi lida a seguinte mensagem escrita pelo seu filho Rangel Alves da Costa:
Sete dias que
separam a vida terrena da vida eterna. Ontem a presença entre nós, hoje ao lado
do Senhor.
Mas a dimensão
de Alcino Alves Costa é tão grande, tão imensa e profunda, que mesmo o chamado
de Deus aos 72 anos não o fez partir sem deixar entre nós os reflexos de suas
duradouras realizações.
Reflitamos bem
e percebamos que Alcino não possuía apenas esse nome de batismo, Alcino Alves
Costa, pois poderia ser reconhecido e chamado Sertão, Poço Redondo, História,
Poeta Matuto, Caipira de Poço Redondo, ou simplesmente Sertão, Viola e Amor.
Ninguém mais
amou sua terra, seu povo e sua história do que Alcino. Não só venerou no seu
humilde coração sertanejo, como teve a singela preocupação de transcrever para
a posteridade, para estas e as futuras gerações, o viver de um povo, suas
lutas, suas conquistas, seus costumes e tradições.
Ninguém mais
amou aos seus do que Alcino. Pessoa de grandiosa família, pois seu sangue não
corria apenas nos seus filhos, netos e parentes, mas em toda população
poço-redondense, em todo o povo sertanejo.
Por essa
imensa família chamada sertão devotou um amor desmedido. Para sentir mais de
perto o chão do seu lar, o calor de seus caminhos ensolarados, seguia pelas
ruas e estradas com sua inseparável havaiana. Luxo apenas na sua honra
sertaneja de ser, de levantar a voz e dizer da benção divina nascer e viver no
sertão.
Foi político,
prefeito por três vezes, grande liderança entre os seus. Mas disso só lhe
restou aquilo que tão bem foi citado pelo poeta Carlos Drummond: Um retrato na
parede! Contudo, por trás dessa fotografia a grande obra de Alcino pelo seu município,
pela sua cidade: construiu um lugar, deu-lhe vida, arborizou-o, espalhou praças
e cimentou seus caminhos. Até hoje o melhor de Poço Redondo vem dessa herança
administrativa deixada por Alcino.
Por não querer
carregar sozinho o seu sertão no coração, o poeta matuto começou a descrevê-lo
para os seus e para o mundo. Vestiu roupa de sol e trilhou as veredas
cangaceiras para mostrar as dimensões de tantas batalhas inglórias, dos filhos
de Poço Redondo que trocaram o lar pelo espinho. Desceu as águas do Velho Chico
para cantar a vida ribeirinha, os lamentos pescadores, as lutas para salvar o
leito que é vida e pão.
Sem jamais
tocar qualquer instrumento, ainda assim Alcino dedilhou a viola caipira,
trazendo consigo Tonico e Tinoco para mostrar ao seu povo a importância da
autêntica música sertaneja, aquela mesma que fala da simplicidade do amor, da
vida campesina, do sertão de imensa lua, da vida que é a nossa.
Quando
prefeito, sua festa era um festejar sertanejo, trazendo para o seu povo sua
raiz musical. Forró, cantoria matuta, grandes nomes da musicalidade nordestina
já pisaram nesse chão em eventos de rua e para jamais esquecer. Não há um de
mais idade que não recorde dessa preocupação daquele jovem prefeito em
respeitar a identidade do seu povo.
Assim, Alcino
foi múltiplo, foi muitos, vários, diversos, e assim continuará. E continuará
não apenas pelos seus livros, sua poesia, suas músicas, sua voz ao entardecer
dos sábados na Xingó FM, mas também, e principalmente, porque soube tão bem
enraizar aquilo que se eternizará: ontem, hoje, amanhã, daqui a mil anos, e
para sempre, será lembrado como aquele que de havaiana nos pés cruzou as
fronteiras do conhecimento e foi bradar nas mais altas academias as riquezas do
seu sertão.
Saiba, meu bom
sertanejo que, como diz a música, ainda que a noite traiçoeira nos tenha
chegado tão impiedosamente, buscamos o possível conforto por saber que repousa
eternamente na casa do Senhor, guarnecido sempre pelo amor e pelas preces dos
seus filhos, netos, parentes, amigos e todo o povo sertanejo.
Por isso mesmo
que Poço Redondo deve sentir muito orgulho desse seu filho amado que há sete
dias nos deixou. São sete dias que nos separam de sua presença; sete dias em
que o Senhor fez o chamado para ouvir de sua voz uma história de Sertão, Viola
e Amor.
Biografia do autor:
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta
e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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