By: Rostand Medeiros
QUANDO
AS PEDRAS CAÍRAM DO CÉU NO RIO GRANDE DO NORTE
Um
meteoro de aproximadamente 10 toneladas caiu a cerca de 80 quilômetros da
cidade de Satka, na Rússia, mas a onda expansiva afetou várias regiões
adjacentes e até a vizinha república centro-asiática do Cazaquistão.
Casos de
Quedas de Corpos Celestes no Rio Grande do Norte
Um Meteoro
atravessou o céu da Rússia na manhã desta quinta-feira, dia 15/02/2012,
lançando bolas de fogo na direção da Terra e fazendo centenas de vítimas,
quebrou janelas e provocou vários outros problemas. O nosso Rio Grande do Norte
já viu este tipo de situação.
O Rio Grande
do Norte, desde que a sua história passou a ser registrada através de
documentação escrita, guarda poucos informes de fatos naturais que, de tão incomuns,
marcaram o momento em que ocorreram, fazendo com que os homens do passado
registrassem para a posteridade estes acontecimentos insólitos.
Um dos
fenômenos naturais incomuns que mais chamavam a atenção dos antigos habitantes
das terras potiguares eram os tremores de terra. Comuns até os dias atuais,
estes acontecimentos geológicos ocorrem principalmente na região da antiga
Baixa Verde, atual município de João Câmara. Desde o final do século XVIII,
antigos cronistas já registraram a impressão que os tremores deixaram junto aos
antigos habitantes. Quem está na faixa dos 30 anos de idade, certamente deve se
lembrar do terremoto ocorrido em 1986, que abalou a região, alcançando a
magnitude de 5.3 na escala Ritcher e que marcou profundamente a história potiguar
e chama a atenção dos geólogos.
Se
ocasionalmente os potiguares sentem o solo tremer, muito mais raros são os
registros de bólidos vindos do céu, de meteoros despencando com estrondo na
nossa região. Entretanto, estes fenômenos já ocorreram.
Uma chuva de
meteoritos em Macau
Nos anais do
VIII Simpósio de Geologia do Nordeste, realizado em 1977, em Campina Grande,
Paraíba, encontramos o resumo de uma pesquisa realizada pelos geólogos
brasileiros Celso de Barros Gomes, da USP (Universidade de São Paulo), W. S.
Crurvello, do Museu Nacional do Rio de Janeiro acompanhado dos cientistas
norte-americanos K. Kiel, da Universidade do Novo México e E. Jarosewich, do
Instituto Smithsonian, de Washington, que estiveram na região de Macau e Açu,
em busca de restos de um meteorito, que caiu do céu no dia 11 de novembro de
1836.
A queda deste
bólido ocorreu ás cinco da tarde, nas imediações da foz do rio Açu, em uma área
territorial que então pertencia ao município de Macau. Segundo os relatos da
época devido ao impacto no solo, morreram algumas vacas e a queda do objeto
celeste foi acompanhada de um forte clarão e ribombos. Aparentemente o
meteorito se fragmentou em vários pedaços, alguns maiores e outros tocaram o
chão no formato de uma chuva de pequenas pedras. Fontes pesquisadas por estes cientistas
relataram que o clarão produzido pela queda deste meteoro foi visto por uma
embarcação que se encontrava a 324 milhas náuticas, ou cerca de 600 quilômetros
de distância, da costa potiguar. Consta que os tripulantes relataram a passagem
do objeto seguindo em direção a costa, que não era visível aos tripulantes a
esta distância.
Durante as
pesquisas de campo, foram encontrados restos do meteorito, que foi recolhido e
transportado para o sul do país, onde análises detalhadas apontaram a
existência principalmente de ferro-níquel na sua composição.
O resumo deste
trabalho científico não informa de qual fonte histórica provinham estes dados,
mas aparentemente este é o primeiro relato conhecido, descrevendo a queda de
meteoritos no Rio Grande do Norte.
Um juiz
informa a queda de um meteorito em Açu
Dezenove anos
depois, coincidentemente a mesma região anteriormente atingida seria o local da
queda de outro meteorito.
Na Revista do
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, volume XIV, de 1916,
encontra-se a transcrição de um documento datado de 28 de agosto de 1855,
produzido pelo então juiz de direito de Açu, João Valentim Dantas Pinagé, que
informa ao então Presidente da Província, Antônio Bernardo dos Passos, que ele
estava enviando a capital da província algumas amostras de um meteorito que
havia caído na região de Açu. Informava o magistrado que as amostras
apresentadas pesavam juntas “duas arroubas”, equivalente a 30 quilos, e sua
queda havia deixado o povo da região assombrado com o fato que aquelas rochas
“pudessem vir do céu”.
O juiz
informava que o objeto foi visto desde as “praias”, provavelmente entre as
áreas territoriais dos atuais municípios litorâneos de Guamaré, Macau e Porto
do Mangue, e por outros locais da Comarca de Açu. Durante a sua queda, o
meteorito foi visto vindo da direção nordeste, seguindo em descendente na
direção sudoeste e sendo testemunhado por várias pessoas na região.
Infelizmente o
juiz Pinagé não informou exatamente a data do ocorrido, nem o local exato do
impacto, mas indica que recebeu as amostras que remetia para Natal “quatro dias
depois da passagem do meteoro”.
Tarcísio
Medeiros, em seu ótimo livro “Aspectos geopolíticos e antropológicos da
história do Rio Grande do Norte”, comenta sobre este fato.
Um “corisco”
assombra Santana do Matos
Quarenta e
dois anos depois, no dia 8 de abril de 1897, a primeira página do jornal “A
Republica”, estampava uma nota intitulada “Aerólito”, onde uma “pessoa de fé,
ultimamente chegada do sertão”, informava que no dia 21 de março, um domingo,
pelas cinco e meia da tarde, foi visto por diversas pessoas, tanto na área
urbana e na zona rural da pequena Santana do Matos, um objeto incandescente, em
formato de um ”globo brilhante caindo do céu”.
“A
Republica”, 8 de abril de 1897.
As testemunhas
comentaram que durante a queda o objeto se mostrava extremamente luminoso e
soltava fagulhas. No impacto, segundo o informante, o estrondo foi ouvido a uma
distância de oito léguas, equivalente a cinquenta quilômetros. O fenômeno
natural chamou a atenção de todos, tendo um grupo de pessoas se deslocado ao
ponto onde ocorreu à queda.
Segundo a
nota, o impacto se deu na região da “serra de São João”, a sudeste da sede do
município de Santana do Matos, onde as pessoas do lugar informaram que um
grande “bálsamo”, provavelmente alguma árvore frondosa, fora reduzida a
“estilhaços”, mas nenhuma parte do “aerólito” foi encontrado.
A não
existência de uma cratera de impacto, que houvesse deixado uma marca mais
permanente no solo da região, deixa a entender que o bólido poderia ser
classificado como um meteorito de pequenas dimensões. Provavelmente durante a
queda, com o atrito junto à atmosfera terrestre, esta rocha foi perdendo massa,
criando fagulhas e ao tocar o solo teve força suficiente apenas para destruir
esta possível árvore frondosa. O que de toda maneira causou um tremendo espanto
aos habitantes da região.
No final do
século XIX, ainda era comum a utilização por parte da imprensa do termo
aerólito, em detrimento a meteoro ou meteorito. Para o homem simples do campo,
e a nota registra isto, a pedra caída do céu era tão somente um “corisco”.
Extremamente
econômico na discrição, o relato não cita fontes, nome do informante e outras
informações mais apuradas. Mas tudo indica que o local da queda seja localizado
no município de Jucurutu, próximo a fronteira com Santana do Matos, na área da
fazenda conhecida como “São João”, ou “Saco de São João”, onde existe uma serra
homônima.
Um corpo
celeste ilumina a noite de Caraúbas
Passados seis
anos da queda deste meteorito, o Rio Grande do Norte, foi novamente “visitado”
por outra rocha vinda do céu. Na edição do jornal “A Republica”, de 23 de
outubro de 1903, o correspondente baseado na cidade de Caraúbas, remeteu uma
série de notícias referentes ao município. Entre estas constam informes da seca
que assolava a região e sobre o benemérito trabalho do senhor Benevenuto
Simões, em perfurar poços na busca do precioso líquido. Em meio a notas
políticas, sobre casamentos e de viagens de membros da elite local ao Rio de
Janeiro, uma pequena nota, novamente intitulada “Aerólito”, informava ter sido
“nossa vila espectadora de um lindo drama”.
“A
Republica”, 23 de outubro de 1903.
Por volta das
nove horas da noite do dia 30 de setembro, uma quarta-feira, foi visto um
brilhante meteorito que percorreu todo o firmamento, deixando um rastro
luminoso em sua queda e produzindo uma forte iluminação sobre a pequena cidade.
O bólido foi visto vindo da direção sudoeste, seguindo descendentemente na
direção oeste, e que após cinco minutos produziu um forte estrondo.
Devido à
diferença de tempo entre a visualização do meteorito e o estrondo produzido
pelo impacto, partindo do princípio que o correspondente calculou corretamente
o tempo, este bólido caiu em uma área distante da sede municipal e a nota do
jornal não especifica o ponto exato da queda.
Mesmo sendo um
fenômeno raro, chama a atenção à economia de informações do correspondente,
onde é mais provável que o mesmo não tenha sido testemunha direta dos fatos,
anotando informações prestadas por terceiro, mas nada mais sobre este fato foi
comentado.
Os meteoritos
Os meteoritos
são classificados de fragmento de um meteoroide que resistiu ao impacto com a
atmosfera e alcançou a superfície da Terra ou de outro planeta antes de se
consumir. Eles podem ter desde poucos quilos e dimensões mínimas a serem
pesadas pedras voadoras de várias toneladas. Quase todos os meteoritos são
fragmentos procedentes dos asteroides ou cometas. Podem ter em suas composições
minérios como ferro-níquel, silicatos ou ferro metálico. Os meteoritos têm
geralmente uma superfície irregular e uma camada exterior carbonizada, fundida.
Todos os dias a terra é bombardeada por uma chuva de pedras vindas do espaço, a
maioria são inofensivos micrometeoritos. Acredita-se que por ano, caiam sobre a
terra seis toneladas de rochas.
Os maiores
meteoros, quando se chocam com a Terra, sempre deixam suas marcas, criando
crateras profundas.
Acredita-se
que o maior meteorito que atingiu a atmosfera da terra, mas sem comprovação
definitiva, ocorreu no dia 30 de junho de 1908, na bacia do rio Podkamennaya
Tunguska, a 64 quilômetros ao norte de Vanavar, na Sibéria, Rússia. Acreditam
os cientistas que um meteorito de 30 metros de comprimento, explodiu a 10
quilômetros de altitude, tendo produzido uma onde de choque sentida a mais de
1.000 quilômetros de distância. O maior meteorito conhecido, que se chocou
contra a superfície terrestre, foi encontrado em Hoba West, próximo a
Grootfontein, na Namíbia, África, com 59 toneladas.
Estima-se que
ao longo de 600 milhões de anos, o planeta Terra tenha sido atingido em mais de
duas mil ocasiões por asteroides de grande peso. A maior cratera do mundo,
comprovadamente criada pela queda de um meteorito, é chamada Coon Butte, ou
Cratera Barringer, localizada próximo à cidade de Winslon, Arizona, nos Estados
Unidos.
Em 1784, no
sertão da Bahia, próximo a região de Canudos, caiu próximo a uma serra, um
meteorito de 5.400 quilos, conhecida como Pedra de Bendegó. Este corpo celeste,
com muito sacrifício, foi transportado em 1888 para o Rio de Janeiro e
encontra-se até hoje exposto no Museu Nacional. Contudo, cientistas descobriram
que o maior meteorito que já tocou o solo brasileiro, ocorreu na divisa entre
Goiás e Mato Grosso, é conhecido como “Domo de Araguainha”, deixou uma marca na
forma de uma cratera de 40 quilômetros e este impacto ocorreu à cerca de 350
milhões de anos.
Os impactos
ocorridos no Rio Grande do Norte e aqui relatados, certamente não foram os
únicos casos de impacto destes corpos celestes em solo potiguar, que apesar de
possuir uma superfície territorial pequena, não está isento de receber novas
“visitas celestes”.
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Grande do Norte Antônio
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