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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Os primeiros transportes Coletivos de Mossoró III - 17 de Novembro de 2013



Por Geraldo Maia do Nascimento
               
No rumo do Sertão, um dos primeiros a se aventurar com viagens de caminhão foi Jaime Mouro, com uma linha que ligava Mossoró a Patu. Há uma história (ou estória?) engraçada envolvendo Jaime Moura. Contam que existia aqui em Mossoró um cidadão chamado Joaquim Leão, que era tido como “pé-frio”. E sempre que esse cidadão resolvia viajar em algum caminhão, algum problema acontecia: arriava um pneu, a bateria não funcionava e até tanque de gasolina era furado. E quando, na hora da partida, Jaime Moura via aquele cidadão se aproximar de seu caminhão, ficava apavorado. O pior é que para evitar inimizade, não podia negar a vaga. Mas um certo dia, depois de enfrentar vários transtornos durante uma viagem, resolveu deixar Joaquim Leão no meio do caminho, próximo da Estação Ferroviária de Caraúbas. Esse pegou o trem para continuar a viagem com destino a Mossoró, mas logo após o seu embarque começaram os problemas com a composição: uma prancha carregada de algodão pegou fogo e as labaredas atingiram o vagão vizinho que estava cheio de latas de óleo, causando uma grande explosão. Resultado: o trem ficou parado no meio do caminho. Mas Joaquim Leão conseguiu, numa propriedade próxima, o empréstimo de um cavalo para prosseguir a viagem, vindo pernoitar em São Sebastião (hoje Governador Dix-sept Rosado). De madrugada foi pegar o animal para prosseguir viagem, mas o mesmo estava morto: tinha sido mordido por uma cobra. Como podemos notar, havia sim razão para as preocupações de Jaime Moura com relação a Joaquim Leão.
               
No caminho de Pau dos Ferros, havia o caminhão de Sérvulo Marcelino. Era um sujeito brincalhão, alegre, contador de anedotas. A viagem no carro de “seu Servo” era um horror para aqueles mais pudicos. Anedotas desrespeitosas e palavrões acompanhavam toda a viagem. Mas havia uma exceção: era quando o Bispo, D. Jaime, resolvia viajar em seu caminhão. D. Jaime era conhecido como um Bispo pobre, que não possuía automóvel e precisava fazer muitas das suas peregrinações nas boleias dos caminhões. E quando sua viagem era para Pau dos Ferros, mandava um seminarista avisar a Jaime Moura, que o Sr. Bispo precisava de um lugar. Diante disso, o mesmo se desdobrava em atividades para tornar o caminhão mais apresentável: limpava os vidros, costurava os assentos que estavam rasgados e até mandava pintar a tabuleta do itinerário, quando esta estava desbotada. E dava instrução aos seus auxiliares com relação ao linguajar durante aquela viagem:
               
- “Olhe, seu “Xandoca”, amanhã a viagem é de muito respeito, diga isso a esse canalha que vai em cima da carga, pois quem disser um nome feio, uma palavra imoral, você pega e joga no meio da estrada.
               
- Mesmo que seja muié, “seu Servo”? Perguntou o ajudante, admirado daquela ordem.
               
- Seja lá o que for... respondeu o dono do veículo.”
               
Madrugada alta, friorenta, com o caminhão roncando, devorando a estrada do fio, da chapada do Apodi. No meio de uma reta, ouve-se bater na cabine. Sinal que se pedia parada. Sérvulo freia o veículo com violência, bota a cabeça pra fora e pergunta:
               
- Que é que há?
               
De cima da carga respondem:
               
- “Seu Servo”, é uma mulé que quer dá uma coisa...
               
- Pois eu quero, respondeu o motorista. Nessa altura, Sérvulo Marcelino, caindo em si, e insinuando um riso murcho, disse:
               
- Mas, meu Deus!... Me perdoe, Senhor Bispo.
               
Esses são “causos” gostosos envolvendo os pioneiros de nossas estradas de rodagem. Pessoas simples, mas que deixaram os seus nomes gravados nos anais da nossa história.
               
Com o desenvolvimento da cidade, muitos outros transportes surgiram. O aparecimento de novas estradas e melhoramento das já existentes permitiram que empresas se instalassem na cidade, prestando serviço de transporte coletivo de maneira mais profissional e, consequentemente, mais seguro. Mas até pouco tempo era possível se ver os famosos “mistos”, ainda em plena atividade, em linhas regulares entre Mossoró e os municípios de Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas e outros. Hoje, esse tipo de transporte é visto apenas como atração turística nas festividades juninas de Mossoró.


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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fonte:
http://www.blogdogemaia.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com




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