Por Geraldo Maia do Nascimento
Em
30 de setembro de 1883, há exatos 121 anos, Mossoró declarava-se “livre da
mancha negra da escravidão”. Não foi a primeira cidade brasileira a declarar
livre os seus escravos. “Coube-lhe, no entanto, a saliente posição de fazer a
redenção de elemento servil com mais ardor, com a solidariedade total de suas
forças administrativas e políticas, num movimento eminentemente nacional,
comentado pela imprensa das capitais do norte e do sul do Império e também por
um órgão da imprensa norte-americana, além de ser observada e interpretada na
Corte e nos seus gabinetes pelo destemor do comunicado ao Imperador D. Pedro
II, de ter Mossoró feito a libertação sem ajuda imperial”, como disse Lauro da
Escóssia. O comunicado a que se refere Lauro, foi um telegrama ao Imperador,
despachado pelos abolicionistas Romualdo Lopes Galvão, presidente da Câmara
Municipal, e Almino Álvares Afonso, grande tributo da liberdade, comunicando o
fato.
Mossoró
foi a primeira cidade do Rio Grande do Norte a fazer campanhas sistemáticas
para libertação dos seus escravos. Não foi uma luta de poucos; foi uma luta que
envolveu, de uma maneira ou de outra, toda a cidade. E por ter sido uma luta
coletiva, pacífica e pioneira no Estado, é comemorada ainda hoje como sendo a
maior festa cívica da cidade.
O
Rio Grande do Norte não chegou a ser um Estado que dependesse da mão de obra
escrava para o seu desenvolvimento. A 1º de setembro de 1848, Casimiro José de
Morais Sarmento, deputado geral pelo Rio Grande do Norte, falava na sessão
daquele dia:
\"Concorda
em que o trabalho do escravo não é necessário. No Rio Grande do Norte há poucos
escravos, e quase toda a agricultura é feita por braços livres. Conhece muitos
senhores de engenho que não têm senão quatro ou cinco escravos, entretanto que
têm 20, 25 e 40 trabalhadores livres, e se não os têm em maior número, é pelo
pequeno salário que lhes pagão. Disto se convenceu o orador quando ali foi
presidente, porque em consequência de elevar o salário a 400 reis por dia,
nunca lhe faltarão operários livres para trabalharem na estrada que teve de
fazer\".
Mossoró,
particularmente, nunca foi uma cidade escravocrata. Possuía apenas 153 escravos
em 1862, para uma população livre de 2.493 indivíduos. Estatisticamente o percentual
era insignificante. A cidade não tinha engenhos; cuidava do gado e para isso
não precisava de muitos braços. A ideia de libertação foi trazida do Ceará,
através da Loja Maçônica “24 de junho”, e conquistou a opinião pública. E como
isso aconteceu?
Em
6 de janeiro de 1883 foi criada \"A Sociedade Libertadora
Mossoroense\", uma entidade cujo objetivo era tornar viável a libertação
de todos os escravos da cidade de maneira pacífica e ordeira. A Sociedade
Libertadora tinha um Código, com um único artigo e sem parágrafos, onde estava
determinado que \"todos os meios são lícitos a fim de que Mossoró liberte
os seus escravos\".
Nessa
época, Mossoró contava apenas com 86 escravos. A 10 de junho eram alforriados
40 desses escravos.
No
dia 30 de setembro de 1883, a cidade amanheceu com as ruas todas engalanadas de
folhas de carnaubeiras e bandeiras de papel coloridas. A alegria contagiava
todos os lares. Ao meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia no
1º andar do prédio da Cadeia Pública, onde funcionava a Câmara Municipal (hoje,
Museu Municipal Lauro da Escóssia). O Presidente da Sociedade Joaquim Bezerra
da Costa Mendes, abre a solene e memorável sessão, lendo em seguida, diversas
cartas de alforria dos últimos escravos de Mossoró, e depois de emocionado
discurso declara \"livre o município de Mossoró da mancha negra da
escravidão\".
Depois
da sessão, a festa tomou as ruas da cidade. O Dr. Almino Afonso pronunciou
inúmeros discursos, empolgando os auditórios que o aplaudiam delirantemente. E
foi também o Dr. Almino Afonso que criou o \"Clube dos Spartacos\"
composto, na sua maioria, por ex-escravos, tendo sido eleito presidente o
liberto Rafael Mossoroense da Glória. A função desse clube era de dar abrigo e
amparo aos ex-escravos, que aqui chegavam por mar ou por terra. Era a tropa de
choque dos abolicionistas. Como território livre, Mossoró passou a ser
procurada por todos os escravos que conseguiam fugir. Sabiam que aqui chegando,
encontravam abrigo. O Clube dos Spartacus sempre conseguia evitar que os
escravos voltassem com os donos. Tudo isso aconteceu cinco anos antes que a
Princesa Isabel assinasse à famosa \"Lei Áurea\", que acabava com a
escravidão em todo território nacional.
O
dia 30 de setembro passou a ser a grande data cívica da cidade. A Lei nº 30, de
13 de setembro de 1913, declara feriado o dia 30 de setembro que até os dias
atuais é comemorado com muito entusiasmo pela cidade de Mossoró.
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Autor Geraldo Maia do Nascimento
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Veja Professor Mendes, que além de libertar os escravos cinco anos antes da Proclamação Geral, Mossoró cuidou de uma instituição para proteger ex-escravos. Comprova assim que, Mossoró ainda jovem, já era um povo civilizado que não desejava ver seus irmãos escravizados. PARABÉNS AOS MOSSOROENSES.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha