Por Antonio Corrêa Sobrinho
Amigos,
A literatura
do cangaço quando em vez produz coisas interessantes, que nos fazem refletir
com mais vagar, observar de outros ângulos, como o texto abaixo, do
"Jornal de Notícias", ano 1932, Lampião no auge da fama, texto este
que, embora octogenário, o tenho como se produzido agora, já que durante todo
esse tempo esteve longe do olhar interessado de gerações, praticamente
esquecido, eu diria, abandonado em meio a inúmeras outras matérias, muitas das
quais de valor desprezível, não fosse este paciente pescador.
“JORNAL DE NOTÍCIAS” – 30/03/1932
Lampião
verdadeiro “gentleman” é um galã de finas qualidades. Como um
cronista parisiense vê o terrível bandoleiro galantear, com sentimentalismo, as
senhorinhas.
Léon Treich é
um dos mais curiosos cronistas parisienses. Ele é o tipo autêntico do cronista
de sucesso, que adultera os fatos e fantasia de tal modo os assuntos, a ponto
de afastar-se da verdade dos fatos, só para dar expansão ao seu jornalismo
sensacional tão apreciado na França.
E, nesse objetivo comete os maiores desatinos que a imprensa pode comportar.
Os sertões brasileiros, bem mais civilizados que os da velhíssima África que aterrorizaram o pacatismo bandor (Savage), não podiam escapar à sanha jornalística do mal avisado repórter.
E Lampião, o vulto de maior expressão do Nordeste, foi o homem escolhido para
personagem do cronista do “Gringoire”, onde Léon Treich emprega a sua atividade
de “touriste mental”.
Mas o jornalista Léon é um bicho! Adultera tudo. A começar pelo nome de Lampião.
Lampião, para o jornalista francês é “Lampeô”. E o nome do bandido não é Virgulino Ferreira e sim Virgulino de Oliveira. Escondendo, porém, o nome e o vulgo do bandoleiro, Léon descobre coisas notáveis. Descobre, por exemplo, que Lampião é um “gentleman na extensão do termo”.
Passa, então, a contar o noticiarista francês coisas excepcionais: os traços
característicos dos enormes óculos de vidro negro que abrigam seus olhos
incendiados e “sapolitesse meticuleuse, raffinée”.
Isso de polidez com Lampião, cujo acervo de assassínios já sobe a 160, só como pilhéria e da boa.
Mais adiante, Lampião, para o cronista, comanda vinte “gentils garçons”.
Corisco – “gentil garçom”...
Continua,
porém, o jornalista Léon chamando a Lampião “belle Virgulino”. Quase “cheirosa
criatura”...
E acentua:
“Porque o belo Virgulino é grande amante de mulheres”, prognosticando, em seguida:
E isto é quase certo, será o que o perderá um dia – como já aconteceu a tantos outros”.
Conta ainda o episódio amoroso, salientando as “belas maneiras de Virgulino:
Uma moça apertada em seus braços, ameaçou-o, um dia, meio sincera, meio gracejadora:
- Eu tenho vontade de vender você à polícia.
Ele a apertou fortemente contra o peito, prendeu seus lábios e simplesmente:
- Não me vendas. Eu valho mais. Entrega-me simplesmente!”
Outra aventura galante descoberta pelo gênio novelesco de Léon Treich:
Foi no Piauí. Lampião assalta uma pequena casa do comércio local. E uma senhora, a proprietária do estabelecimento:
- O dinheiro – ou eu atiro –, bandidos.
- Nunca! Respondeu a mulher.
O dinheiro – ou eu atiro –, retrucou um outro, metendo-se no diálogo.
- Se o Lampião estivesse aqui, você não falaria assim.
Virgulino tomou a dianteira:
- Eu sou Lampião, senhorinha. Que deseja?
- O Lampião não desampara as mulheres sós, disse a pobre moça, concentrando a sua coragem e tornando-se pálida como cera.
O bandido inclinou-se e descobriu-se:
- É verdade, senhorinha, algumas vezes. Entretanto, quando elas têm a imprudência de não ser bonitas...
E depois de ter beijado a mão da jovem comerciante, ele ordenou aos seus homens que se retirassem”.
Para as nossas
sentimentais a figura de Lampião galanteador, beijando a mão das damas
fazendeiras suplicando, terno e amoroso: “Entrega-me, simplesmente”, deve
assumir proporções imprevistas.
Falta, entretanto, a visão do repórter do “Gringoire”, o “it” dos cronistas elegantes e modernos.
Tivesse o jornalista Léon essa visão um pouco mais apurada e descobriria “Lampeô” nas caatingas cearenses ou nos altos sertões baianos, não chefiando, de fuzil em punho, vinte “gentils garçons”, mas guiando uma luxuosa barata, do mais recente modelo a convidar as incautas e jovens sertanejas para um passeio à praia mais próxima, ou um “aperitivozinho”, às 5 horas nas elegantíssimas restingas por entre os mais lindos e evocativos suspiros e beijos apaixonados e quentes, como na mundaníssima Biarritz, que o jornalista do “Gringoire”, preocupado com os sertões brasileiros, não teve tempo ainda de conhecer...
(Do “Diário da
Bahia”)
Notas:
1.
"Gringoire" – Jornal francês fundado em 1928 por Horace de Carbuccia.
Foi um dos grandes semanários entre as duas grandes guerras mundiais.
2. Léon Joseph Marie Eugene Treich (17 de março de 1889 – 13 de junho de 1974), foi um jornalista, autor e escritor francês.
3. Biarritz (raramente aportuguesada para Biarriz) – é uma comuna francesa da região administrativa da Aquitânia, no departamento dos Pireneus Atlânticos.
4. Walter Savage Landor (30 de janeiro de 1775 - 17 de setembro 1864) – foi um escritor e poeta Inglês.
2. Léon Joseph Marie Eugene Treich (17 de março de 1889 – 13 de junho de 1974), foi um jornalista, autor e escritor francês.
3. Biarritz (raramente aportuguesada para Biarriz) – é uma comuna francesa da região administrativa da Aquitânia, no departamento dos Pireneus Atlânticos.
4. Walter Savage Landor (30 de janeiro de 1775 - 17 de setembro 1864) – foi um escritor e poeta Inglês.
Fonte principal:
Internet
Fonte: facebook
Página: Antônio
Corrêa SobrinhoCangaçofilia
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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