Seguidores

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Luz de lampião

Por Robson Rodrigues

Historiador Luiz Bernardo Pericás lança luz nova sobre um tema ainda controverso na História brasileira.

'Talvez, o caso mais emblemático em relação a Lampião tenha sido sua aliança com Floro Bartolomeu e o Padre Cícero para lutar como ‘capitão’ de um Batalhão Patriótico contra a Coluna Prestes''.

(LDH) – Existe uma visão ambígua sobre o cangaço que vai desde suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro até as ações motivadas por interesses pessoais dos coronéis. Em sua opinião, os cangaceiros foram heróis ou vilões?

(LBP) – Não acho que termos como “heróis” ou “vilões” possam ser utilizados de forma séria dentro de trabalhos de caráter historiográfico, em textos que procuram fazer análises mais sofisticadas sobre qualquer tema. Estas palavras podem, por certo, ser empregadas como “retórica” (e normalmente é o que ocorre), e, de antemão, já mostram a posição política ou ideológica de quem as utiliza. No caso dos cangaceiros, o ideal é tentar entendê-los como produto de determinadas circunstâncias, de determinados contextos políticos, sociais, históricos. Ou seja, compreender por que o fenômeno surgiu; por que surgiu daquela forma; como se desenvolveu; suas particularidades; e assim por diante. Eu os descreveria como sertanejos que, por uma diversidade de motivos, decidiram ingressar na vida de crimes.

(LDH) – Para alguns estudiosos ele é considerado um bandido e para outros, um homem que lutava por justiça social e contra um regime de opressão...

(LBP) – Talvez, o caso mais emblemático em relação a Lampião tenha sido sua aliança com Floro Bartolomeu e o Padre Cícero para lutar como “capitão” de um Batalhão Patriótico contra a Coluna Prestes. Em outras palavras, Virgulino Ferreira estava junto do que havia de mais retrógrado, conservador e reacionário na época, o “coronelismo” e a Igreja, ao lado do governo Artur Bernardes, ou seja, do lado do establishment, da legalidade. Naquela ocasião, ele não tinha intenção de combater o Estado nacional ou as injustiças do sertão.

Por outro lado, Luiz Carlos Prestes, que alguns anos mais tarde iria se tornar o principal dirigente do Partido Comunista do Brasil, era justamente quem combatia o governo da época, ao lado dos tenentes, em sua longa marcha por boa parte do País, enfrentando tropas federais e jagunços contratados. Prestes, ao longo dos anos, aprofundou seu conhecimento do marxismo, se envolveu com o PCB e o Comintern e lutou o resto da vida pelo socialismo.

Já Lampião, em troca de uma patente de capitão, preferiu ficar do lado do governo; gostava de estar na companhia de “coronéis” e políticos; e nunca teve qualquer intenção de mudar a realidade ao seu redor, de transformar o meio social e a situação econômica dos sertanejos mais pobres.

Ele era, por certo, um homem inteligente, hábil, um grande combatente, estrategista e negociador. Mas ainda assim, era um bandido. Por isso, roubava tanto de ricos como de pobres, torturava e matava indiscriminadamente (inclusive trabalhadores rurais) e não tinha nenhum sentimento de classe em relação ao povo mais pobre da região.

http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/35/artigo191360-2.asp

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo14:13:00

    É verdade caro Robson, em matéria de estratégia não sei quem ganharia para Lampião. Se a ele fosse dada oportunidade, com certeza teria sido útil à Nação Brasileira.
    Muito grato,
    Antonio Oliveira

    ResponderExcluir