Por Honório de
Medeiros
“Lampião e o
Rio Grande do Norte”, cujo subtítulo é “A história da grande jornada”, de
Sérgio Augusto de Souza Dantas, Gráfica Editora, é uma obra seminal. Não é
possível mais, a partir do lançamento, tratar do Cangaço, seja no Rio Grande do
Norte, seja de uma forma geral, sem uma consulta à obra.
Mossoró é
assunto importante, no livro. Não pode ser diferente. Mesmo tratando da
incursão do bando de Lampião ao Rio Grande do Norte, desde sua entrada pela
Tromba do Elefante, margeando Luis Gomes, até sua saída, no rumo de Limoeiro do
Norte, Ceará, a ida a Mossoró é onipresente, por que o quixó preparado por
Massilon e o Cel. Izaias Arruda, de Aurora, Ceará, no qual Virgolino – assim
mesmo, com “o”, como nos previne o Autor – é parte fundamental do trabalho.
As informações
colhidas durante quatro anos de pesquisa, perambulações, visitas, entrevistas,
cruzamento de informações, consulta à literatura hoje vastíssima sobre o
cangaço estabelece um contraponto interessante com o estilo do Autor. Para
coroar, um valioso acervo fotográfico é colocado à disposição de quem adquiriu
o livro.
Em relação a
Massilon, acerca do qual mantenho permanente interesse, Sérgio Dantas, jovem
juiz norteriograndense agrega informações valiosíssimas, dentre elas o “raid”
que esse personagem singular empreendeu nos costados do Jaguaribe e Cariri logo
após o episódio de Mossoró. Isso significa dizer que a lenda segundo a qual
Massilon, mesmo antes da célebre foto de Limoeiro, Ceará, já se separara de
Lampião e teria ido embora para o Norte, não é verdadeira. Alguns, inclusive,
diziam que o cangaceiro que aparece na foto tirada em Limoeiro não seria, na
realidade, Massilon.
Detalhada, a
história da marcha espanta pela riqueza de detalhes. Assim, ficamos sabendo da
passagem de Lampião por todo o território do Rio Grande do Norte cidade por
cidade, povoado por povoado, sítio por sítio, fazenda por fazenda. Os
acontecidos nas cercanias de Martins e Umarizal, antiga “Gavião”, são relatados
com precisão. E tudo quanto aconteceu em Apodi, antes da chegada de Lampião,
protagonizado por Massilon, recebe tratamento de pesquisador sério e
interessado.
A descrição
geográfica e sociológica dos lugares pelos quais passou o bando de cangaceiros
merece respeito. Através dela é possível perceber o dia-a-dia daquelas
comunidades existentes no início do século XX. E a descrição dos mal-tratos,
arruaças, bebedeiras, torturas físicas e psicológicas comove e revela a
sensibilidade do Autor.
Agora resta
esperar que a obra semeie críticas e informações outras, alguma correção de
rumo – se for o caso – para retornar ainda mais rica para o acervo dos
historiadores e sociólogos do Brasil. É assim que ocorre quando uma obra deixa
de pertencer ao Autor, por sua importância, e passa a fazer parte do
referencial bibliográfico ao qual pertence.
* Republicação
http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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