Por Rangel Alves
da Costa*
Minha
sertaneja...
Sim, apenas
uma mulher, mas uma mulher sertaneja. E onde se imagina a timidez tristonha se
avista a pujança da vida, como a florada fascinantemente bela das craibeiras.
Minha doce
sertaneja...
Há uma flor do
campo onde esteja, há um lírio do mato aonde vá, há uma catingueira florida na
imaginação. E um jardim sertanejo toda vez que passa vestida de chita.
Minha linda
sertaneja...
O jambo caiu
do pé e de você apossou, e em seu corpo fez moradia morena de matiz perfumado.
Daí sua pele trigueira, urucum sertanejo queimado de sol.
Ah minha linda
sertaneja...
Araçá no seu
lábio, araçá no seu beijo, araçá em tudo. Uma fruta do mato, uma fruta que é
mel, um mel que é tão puro quanto a sua beleza.
Linda, linda
sertaneja...
Mulher vestida
de sol, ornada de lua, perfumada de mato, singela como o amanhecer. E a mulher
assim não se encontra em revista, senão no que avista o olhar o sertanejo.
Minha bela
sertaneja...
Bela Maria, a
bonita. Bela Enedina, a cangaceira. Bela Adília, bela Sila, bela Rosinha, todas
tão belas que nem as durezas do mundo tingiram com outra feição a beleza
agrestina.
Sempre bela
sertaneja...
Mire-se nas
mãos e braços nus e rudes do mandacaru. Acredita-se apenas em espinhos. Mas
basta se aproximar para sentir e amar, sentir e se apaixonar pela bela flor do
mandacaru.
Minha linda
sertaneja...
O que seria da
manhã sem seu sorriso à janela? O que seria do caminho sem seu passo
caminhante? O que seria da noite sem a penumbra enluarada envolvendo a sua
face?
Tão linda e
bela sertaneja...
Açoita o vento
nas tardes sertanejas e teus cabelos esvoaçam como voo passarinho. E como
passarinho voa cantando a mais bela canção que meu coração quer ouvir.
Oh minha bela
sertaneja...
Recordo
cirandando a ciranda nas noites de lua cheia, rodando a roda da infância, e eu
passando apressado num cavalo de pau em busca de uma estrela para seus cabelos.
Minha doce
mulher sertaneja...
Quando a seca
chegou e tudo secou, e você passava com pote na cabeça no caminho do tanque,
sabe o que eu avistava? Alguém que logo voltaria para saciar minha sede.
Minha bela
sertaneja...
Um dia escrevi
seu nome num pé de pau e ainda está lá. Um dia joguei uma semente debaixo de
sua janela e a plantinha está lá. Um dia fiz uma promessa e ainda espero o seu
beijo.
Minha linda
sertaneja...
Que seja
sempre a terra, o chão, o sertão. Seja como a terra que frutifica o que há de
melhor, como o chão que se firma sem fraquejar, como o seu sertão ornado de lua
e de sol.
Por fim, minha
sertaneja...
Buscando nas
palavras bíblicas, olhai os lírios dos campos, que nem fiam nem tecem, mas nem
mesmo Salomão em todo seu esplendor pôde se vestir como eles. E és a flor mais
bela que sobre a terra brotou.
E não deixai
que as ervas daninhas se arvorem de ferir a mácula e a graciosidade do todo que
há na mulher. Na mulher sertaneja.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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