Vejam como
Virgulino Ferreira, LAMPIÃO, o maior dos cangaceiros e um dos mais famosos
bandoleiros que o mundo conheceu, realmente marcou indelevelmente a sua
presença nos anais da humanidade. Em sessão da Câmera Federal, no ano de
1926, os deputados Francisco Rocha, da Bahia, e Batista Luzardo, do Rio Grande
do Sul, debateram de forma acalorada mas cordialmente, a respeito simplesmente
a quem Lampião prestava serviços, se à Coluna Prestes, em incursão pelas
adustas terras nordestinas, em meados desta década, ou se das forças
legalistas.
Francisco
Rocha dizia que Lampião houvera servido de vanguarda às forças do
revolucionário Carlos Prestes, uma vez que ajudou os tais a transpor o rio
Pajeú, em Pernambuco, fulcrado no telegrama do general Mariante, a saber:
Virgulino Ferreira, foto de 1926 em Juazeiro do Norte
“Em juazeiro,
fomos informados de que Lampião e seus sicários estavam servindo de guia às
tropas rebeldes, durante a travessia delas no vale Pajeú, onde normalmente
aquele bandido estabeleceu o seu centro de operações. Aliás, o estado-maior do
S. General Joao Gomes, recebendo essa informação, nunca fez desmentido
posterior. A partir da passagem do São Francisco, na região de jatobá, quando
assumi o comando do meu grupo de destacamento, não houve mais notícia da
presença de Lampião entre os rebeldes. Podeis fazer o uso que vos convier.
Saudações”
Bem como se
serviu deste comunicado, segundo ele, do Estado-Maior:
“Não só em
Juazeiro, como em Salvador e no Rio, tivemos notícias de que Lampião, por si e
por sua gente, estava auxiliando os rebeldes na travessia destes, na região do
vale do Pajeú, e regiões vizinhas, onde se tem desenvolvido, mais
acentuadamente, a atividade daquele bandido, que ali localiza seu habitual
esconderijo”.
Deputado
Batista Luzardo
O deputado
gaúcho, por sua vez, desqualificou o sobredito telegrama, bem como o comunicado,
alegando tratar-se de documentos que não "são provas irretorquíveis, que
são apenas notícias colhidas aqui e acolá, sem o caráter de seriedade e
veracidade a que estava obrigado". Para defender o argumento de que, pelo
contrário, Lampião havia, sim, prestado o seu concurso às forças legalistas, ou
seja, ao Governo Federal, e que havia estado sob a proteção do padre Cicero e
sob o amparo do deputado Floro Bartolomeu. Ao tempo em que fez leitura de
trechos da carta publicada pelo “Jornal do Comércio”, de Pernambuco, de 4 de
junho daquele ano de 1926, assinada pelo padre Cícero Romão Batista, datada de
30 de abril deste, ao Dr. Simões da Silva.
“Ilustre e
distinto amigo Sr. Simões da Silva – Minhas saudações – Acuso nas minhas mãos a
sua apreciada carta de felicitações pelo meu aniversário natalício e, bem
assim, os jornais em que o meu nobre amigo, dando mais uma prova de sua
generosa fidalguia, fez, embora imerecidos, brilhantes comentários em torno da
minha modesta pessoa.”[...]
Existe, aqui
no nordeste, um afamado bandoleiro, Virgulino Ferreira, geralmente conhecido
por Lampião. Ele tem desenvolvido toda sua nefanda atividade, durante
longos anos, nos estados de Pernambuco e Paraíba, sem que os respectivos
governos, apesar dos esforços empregados , pudessem pôr termo aos seus
crimes. Ultimamente, quando os patriotas de Juazeiro perseguiam os
revoltosos, nos sertões pernambucanos, Lampião voluntariamente, entrou em ação
com eles e, reunido a um dos seus contingentes, veio a esta cidade, alegando
que o fizera de ordem do Dr. Floro e no caráter de soldado da legalidade.
Eu,
efetivamente, sabia que o Dr. Floro o mandara chamar para auxiliar a reação
contra as hostes revolucionárias. Assim, me pareceu, não devia e nem podia agir
contra esse homem, pois que, se o fizesse, cometeria uma traição, pelo menos, á
boa fé que o trouxera à minha terra. Ademais, não sou autoridade que tenha
o dever de prender criminosos. Preferi, pois, como sempre costumo fazer,
agir conselheiralmente e consegui do renomado cangaceiro a formal promessa de
retirar-se do Nordeste. Aliás, por este processo, já tenho conseguido livrar
este pedaço do território brasileiro de outros bandidos de igual jaez, como
foram Luiz Padre, Sinhô Pereira, Joaquim Macie, etc., contra os quais nunca
valeram as providências oficiais. Destes, graças à minha intervenção ficaram
livres os nossos laboriosos sertanejos e eles, deslocados do meio onde se
viciaram, vivem pacatamente, lá no longínquo Estado para onde os destinei, como
bons cidadãos.”
Antonio Correa
Sobrinho
Fonte: Jornal
“O Globo” – 17/07/1926
Foto: Revista
O Malho,17 de abril de 1926.
Fotos
pertencentes ao acervo de Raimundo Gomes
E de 25 a 28
de Julho...
Cariri Cangaço
Piranhas 2015
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