Autor – Felipe Torres
PUBLICADO EM – http://lounge.obviousmag.org/sarcasmo_e_sonho/2014/08/a-verdade-por-tras-de-maria-bonita.html
Aos 18 anos,
Maria Gomes conheceu Lampião, um caboclo alto, corcunda, manco e caolho.
Curiosamente, o apelido pelo qual ficou conhecida não surgiu no Sertão, mas no
meio urbano do Rio de Janeiro, em 1937, inventado por jornalistas.
Ano de 1929,
município de Jeremoabo, Sertão da Bahia. Lampião era um caboclo alto, um tanto
corcunda, cego do olho direito, óculos ao estilo professor, manco de um pé
(baleado três anos antes), com moedas de ouro costuradas na roupa. Exalava
mistura forte de perfume francês com suor acumulado de muitos dias. O
cangaceiro podia até não preencher os requisitos de um bom partido, mas foi com
esses atributos que conquistou a futura mulher, filha de casal com uma dezena
de filhos.
Os pais de Maria Bonita
Maria Gomes
Oliveira tinha 18 anos quando subiu na garupa do cavalo de Virgulino Ferreira
da Silva. Corpo bem feito, olhos e cabelos castanhos, um metro e cinquenta e
seis de altura, testa vertical, nariz afilado. Era bonita, habilidosa na
costura (assim como era Lampião) e adorava dançar. Foi o suficiente para
Virgulino quebrar a tradição do cangaço e permitir o ingresso de uma mulher nos
bandos, o que abriu precedente para várias outras.
Curiosamente,
ela nunca foi conhecida como “Maria Bonita”. Segundo o historiador Frederico
Pernambucano de Mello, o “nome de guerra” não surgiu no Sertão, mas no meio
urbano do Rio de Janeiro, em 1937, por meio do uma “conspiração” de
jornalistas. A partir dali, tomou conta do Brasil.
Até então, a
mulher de Lampião era chamada de Rainha do Cangaço, Maria de Dona Déa, Maria de
Déa de Zé Felipe ou Maria do Capitão. O nome definitivo surgiu inspirado em um
romance de 1914, Maria Bonita, de Júlio Afrânio Peixoto, adaptado para o cinema
23 anos depois. Vários repórteres chegaram ao consenso para padronizar a
informação disseminada pelos jornais impressos.
Nos três
primeiros anos, de 1929 a 1932, as mulheres do cangaço ficavam reclusas no Raso
da Catarina, refúgio no nordeste da Bahia. Quando, enfim, foram autorizadas a
acompanhar os bandos de cangaceiros, passaram a conviver com a elite sertaneja,
esposas e filhas de coronéis poderosos.
“Disso resulta
o aprimoramento da estética presente em trajes e equipamentos, além do
aburguesamento de maneiras. A máquina de costura, o gramofone, a lanterna
elétrica portátil – e logo, a filmadora alemã e a câmera fotográfica, pelas
mãos do libanês Benjamin Abrahão – chegam ao centro da caatinga, amenizando os
esconderijos mais seguros, levados pelos coiteiros”, destaca Frederico
Pernambucano de Mello.
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.
http://tokdehistoria.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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