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segunda-feira, 22 de junho de 2015

SILA- UMA GUERREIRA ATÉ O FIM! (ALGUMAS LEMBRANÇAS DE MINHA INFÂNCIA)

Por Susi Ribeiro Campos

Boa noite amigo José Mendes Pereira, como lhe prometi, escrevo aqui algumas lembranças de minha convivência com minha sogra Sila, ex-cangaceira de Lampião.


Após algumas visitas que fizemos em seu lar, Dona Sila e eu sempre que possível, nos comunicávamos por carta, inclusive ela me ajudava nos estudos sobre o Cangaço que continuavam na escola.

Em 1980, eu então com doze anos de idade fui passar minhas férias escolares no apartamento de minha avó, que morava ao lado do Shopping Ibirapuera, e naquela época, ficar dias ao lado de um Shopping, era uma maravilha para uma criança.

Marcamos o dia e ela foi nos visitar.

Minha avó, Elfrida Clara Alves Machado Ambrogini, era baiana, de Salvador, mas que havia sido criada em São Paulo, onde chegou com seus pais ainda criança, por motivo de trabalho do meu bisavô. Casou-se com um italiano e passou a integrar totalmente a comunidade europeia.

Lembro-me que mesmo assim sua frase preferida era:

"Ai que saudades que eu tenho da Bahia"!

Os comentários dos parentes que haviam ficado na Capital Baiana, seguiam os jornais da época, e ela realmente tinha verdadeiro pavor do nome "Cangaceiro." Não foi fácil explicar a ela que os cangaceiros não eram o que os jornais da época diziam, mas que os jornais trabalhavam do ponto de vista do Governo da época.


Quando Sila chegou, com ar alegre, bonita, bem vestida, perfumada como sempre foi, minha avó não queria acreditar que se tratava de uma ex-cangaceira de verdade.

Sila e ela enfim, ficaram muito amigas. conversaram por muito tempo sobre costura, tema que agradava a ambas.

Sila era muito alegre ao conversar comigo e com minha avó..., mas dentro de seu olhar, eu sentia uma tristeza escondida, uma mulher que havia sofrido muito... lutado a vida inteira para criar seus filhos de forma digna.


Havia trabalhado duro ao lado do marido Zé Sereno e até mesmo se recusava a aceitar um emprego muito bom, de costureira, em uma fábrica, pois haviam descoberto que ela estava grávida e, segundo nos contou, se não "tirasse a criança" nada de emprego. Mesmo precisando muito, ela se indignou e não aceitou, estava grávida de Wilson.

Só por esse motivo que ela deve ter mencionado a outras pessoas também, tenho tanto a lhe agradecer, pois foi através dela que meu falecido esposo Wilson Ribeiro de Souza, ou simplesmente Ribeiro, como gostava de ser chamado pelos amigos, veio a este mundo. Seus olhos brilhavam de emoção ao contar suas histórias, era muito "viva", tinha muita energia!

Era morena clara como Wilson, cabelos ligeiramente ondulados, curtos, bem alinhados, olhos castanhos, alta e magra, mas muito estilosa, roupas bem cuidadas, sóbria, discreta, uma senhora Dona Sila.

Olhou minha avó e perguntou: "- Nossa! É baiana? Tão branquinha para ser da Bahia" ao que minha avó respondeu que apenas havia nascido em Salvador, foi criada na Cidade fria e cinzenta de São Paulo, onde todo mundo fica branco demais, além de ser neta de portugueses.

Lea Ambrogini de Lima e sua filha Susi Ribeiro Campos

Foi uma grande alegria para mim poder mostrar à minha avó (meu avô italiano já havia falecido), a meus pais, e a toda uma escola, na época eu estudava ainda no "Colégio Maria Imaculada" no Bairro do Paraíso em São Paulo, que o Cangaço e os Cangaceiros eram "gente igual a gente" só que com uma diferencial: Grandes Batalhadores, pessoas que sofreram muito para chegar a serem vistos sem preconceitos pelos paulistas, paulistanos, e até mesmo pelos nordestinos das grandes cidades, que os conheciam apenas "de ouvir falar", através da mídia da época, que eram os Jornais.

Minha avó, a qual eu chamava de Pitinha, ficou muito amiga de Sila e propôs a ela, se poderia ser minha madrinha de Batismo, pois eu, por motivos da diferença religiosa entre meus pais, ainda não havia sido batizada.

Esse fato acabou por não acontecer, mas desde então, eu passei a chamá-la de Madrinha até o fim de sua vida. Fui batizada já adulta, em São Paulo, antes de me casar com Wilson.

Batismo de pessoa adulta na década de noventa, se realizava de uma só vez, após um curso, o "Batismo/Primeira Eucaristia e Crisma" de uma só vez, na Igreja Santa Maria Goretti no Butantã/Vila Gomes.

Desculpe por não poder lhe fornecer fotos amigo José Mendes Pereira, mas após o que aconteceu quando fiquei viúva de Wilson, e fui completamente roubada pela família evangélica que mencionei no primeiro texto, tudo que consegui de fotos que tenho hoje foi recolhido nos lixões e terrenos baldios da cidade por onde procurei.

Fotos de Sila e Dadá

Sila, Ilda Ribeiro de Souza (há controvérsias sobre seu verdadeiro nome, e eu procuro não entrar no assunto, pois é fruto do trabalho de pesquisadores) segundo seus documentos pessoais, nasceu no dia 24 de outubro de 1919, sei disso, pois, posteriormente quando convivi com ela, já como minha sogra, a acompanhava ao médico e portanto a ajudava com seus cartões e RG.

Sobre nossa convivência "nora/sogra" lhe escreverei outro dia.

Muito obrigada pela oportunidade, meu amigo!

Meu desejo é que Sila hoje descanse na Paz de Deus! ELA FOI, É, E SEMPRE SERÁ UMA GRANDE GUERREIRA ATÉ O FIM! 

Com toda admiração da nora,
Susi Ribeiro Campos.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

3 comentários:

  1. Anônimo16:55:00

    Meu Grande amigo José mendes pereira, quero lhe agradecer mais uma vez por aperfeiçoar com suas fotos e seu profissionalismo os relatos que aqui deixei sobre minha sogra Sila.
    Tenha certeza de que onde ela estiver estará te agradecendo também!
    Abraços! Deus te abençoe!
    Susi Ribeiro Campos.

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  2. Estamos aqui Susi Ribeiro! O nosso blog faz as postagens que são enviadas, só não postamos política e intrigas. Quando aprontar outro trabalho, envie-nos que será postado de imediato.

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  3. Anônimo14:41:00

    Muito Obrigada amigo, lhe enviarei sim, sobre Sila!
    Obrigada por postar minha foto com minha mãezinha! Abraços!
    Sua amiga
    Susi Ribeiro Campos

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