LEMBRANDO AO LEITOR QUE OS VÍDEOS POSTADOS SÃO APENAS PARA PROPAGAR O CANGAÇO, E NÃO FAZEM PARTE DESTE TEXTO.
No sertão do
Nordeste brasileiro, as violentas disputas entre famílias poderosas e a falta
de perspectivas de ascensão social numa região de grande miséria levaram ao
surgimento de bandos armados, gerando o fenômeno do cangaço. Cangaço é a
denominação dada ao tipo de luta armada ocorrida no sertão brasileiro, do fim
do século XVIII à primeira metade do século XX. Cangaceiro era o homem que se
dedicava a essa atividade, trazendo sempre atravessada nos ombros sua
espingarda, como um boi debaixo da canga. Já no começo do século XIX, o
cangaceiro trazia a tiracolo ou dependurada no cinturão toda sorte de armas
suplementares, como longos punhais que batiam na coxa e cartucheiras de pele ou
de couro, praticamente a mesma indumentária de Lampião, cem anos mais tarde.
Existiram três tipos de cangaço na história do sertão: o defensivo, de ação
esporádica na guarda de propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios,
disputa de terras e rixas de famílias; o político, expressão do poder dos
grandes fazendeiros; e o independente, com características de banditismo. No
primeiro caso, após realizarem sua missão de caçar índios no sertão do Cariri e
em outras regiões, a soldo dos fazendeiros, os cangaceiros se dissolviam e
voltavam a trabalhar como vaqueiros ou lavradores. As rixas entre famílias e as
vinganças pessoais mobilizavam constantemente os bandos armados. Parentes,
agregados e moradores ligados ao chefe do clã por parentesco, compadrio ou
reciprocidade de serviços compunham os exércitos particulares.
O cangaço político resultou, muitas vezes, das rivalidades entre as oligarquias locais, e se institucionalizou como instrumento dessas oligarquias, empenhadas na disputa para consolidar seu poder. Mas no final do século XIX surgiram bandos independentes que não se subordinavam a nenhum chefe local, tendo sua origem no problema do monopólio da terra. Esse tipo de cangaço já existira no passado, em função das secas, mas não conseguira perdurar, eliminado pelos potentados locais, assim que se restabeleciam as condições normais de vida.
O primeiro dos grandes bandos independentes foi o de Antônio Silvino (1875),
pernambucano que, desde jovem, na última década do século XIX, se dedicara ao
cangaço a serviço da família Aires. A partir de 1906, afastou-se das lutas
políticas e dos conflitos entre famílias, passando a lutar pela dominação
armada de áreas do sertão. Atuou em Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e
Paraíba, espancando, assassinando, cobrando tributos e saqueando. Ferido em
1914, durante combate, foi preso e condenado a trinta anos de prisão em Recife,
sendo indultado em 1937.
Virgulino Ferreira, o Lampião, o mais famoso de todos os cangaceiros, assumiu a
chefia de seu bando em 1922. Por causa da organização e disciplina que impunha
seus cabras, raramente era derrotado, além do fato de aparecer perante a
população sertaneja como um instrumento de justiça social, procurando, dessa
forma, justificar seus crimes, que atingiam pobres e ricos indistintamente.
Morreu em combate em 1938. Outros cangaceiros famosos foram Jesuíno Brilhante
(1844-1879), cearense, morto em luta com a polícia; Lucas da Feira, baiano,
enforcado em 1849; José Gomes Cabeleira, pernambucano, e Zé do Vale, piauiense,
igualmente enforcados nas últimas décadas do século XIX.
Os três tipos de cangaço muitas vezes coexistiram. O defensivo e o político
ocorreram por todo o país e sobrevivem, a bem dizer, até os dias atuais. O
independente, porém, tem localização certa no tempo, pois surgindo em fins do
século XIX, praticamente desapareceu em 1939, com a morte de Corisco, o Diabo
Louro, o mais famoso chefe de bando depois de Lampião.
A extinção desse fenômeno social foi consequência sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abriam para as massas nordestinas com a migração para o Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores. Mais de dez anos antes da morte de Corisco já os nordestinos começavam a migrar para as fazendas paulistas de café, em longas viagens a pé; de 1930 em diante, a industrialização no Sul, a abertura de novas frentes agrícolas, como a do norte do Paraná, e a interrupção da imigração estrangeira tornaram mais intensa a demanda de braços do Nordeste, trazendo, como consequência, uma intensa migração para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Extensa é a bibliografia sobre o cangaço, de estudos sociológicos à reportagem documental. Na literatura, destacam-se o romance O Cabeleira (1876) de Franklin Távora, e as obras de José Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Guimarães Rosa, este último autor de Grande sertão, veredas, considerado o maior romance já escrito sobre os cangaceiros. No cinema, sobressaíram O cangaceiro (1953) de Lima Barreto e Deus e o diabo na terra do sol (1964) de Gláuber Rocha.
A extinção desse fenômeno social foi consequência sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abriam para as massas nordestinas com a migração para o Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores. Mais de dez anos antes da morte de Corisco já os nordestinos começavam a migrar para as fazendas paulistas de café, em longas viagens a pé; de 1930 em diante, a industrialização no Sul, a abertura de novas frentes agrícolas, como a do norte do Paraná, e a interrupção da imigração estrangeira tornaram mais intensa a demanda de braços do Nordeste, trazendo, como consequência, uma intensa migração para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Extensa é a bibliografia sobre o cangaço, de estudos sociológicos à reportagem documental. Na literatura, destacam-se o romance O Cabeleira (1876) de Franklin Távora, e as obras de José Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Guimarães Rosa, este último autor de Grande sertão, veredas, considerado o maior romance já escrito sobre os cangaceiros. No cinema, sobressaíram O cangaceiro (1953) de Lima Barreto e Deus e o diabo na terra do sol (1964) de Gláuber Rocha.
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