Por Geraldo Maia do Nascimento
O 30 de setembro é a grande data cívica de Mossoró, porque foi nessa data que pode se declarar “livre da mancha negra da escravidão”, cinco anos antes da famosa “Lei Áurea”, que libertou definitivamente os cativos em todo o país. Podia ter escolhido outra data qualquer mas não quis; podia ter escolhido o 5 de agosto, em que a provisão para a ereção da Capela de Santa Luzia marca historicamente o início do Arraial; podia ter escolhido, igualmente, o 15 de março, data da sua Emancipação Política ou o 24 de janeiro, data da instalação da sua primeira Câmara Municipal, o que determina o nascimento da unidade dentro da Província; da mesma forma podia ter escolhido o 9 de novembro, data em que a vila fora elevada ao predicamento de Cidade, título máximo do crescimento político da época; mas não quis. Preferiu escolher sua data entre aquelas que representavam uma vitória humana contra o egoísmo materialista. O 30 de setembro simboliza uma luta do povo, festejada não por imposição política, mas por instinto fraterno. Uma luta em que o povo de Mossoró pode dizer, como disse São Paulo: \"combati o bom combate\".
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O
30 de setembro é a grande data cívica de Mossoró, porque foi nessa data que
pode se declarar “livre da mancha negra da escravidão”, cinco anos antes da
famosa “Lei Áurea”, que libertou definitivamente os cativos em todo o país.
Podia ter escolhido outra data qualquer mas não quis; podia ter escolhido o 5
de agosto, em que a provisão para a ereção da Capela de Santa Luzia marca
historicamente o início do Arraial; podia ter escolhido, igualmente, o 15 de
março, data da sua Emancipação Política ou o 24 de janeiro, data da instalação
da sua primeira Câmara Municipal, o que determina o nascimento da unidade
dentro da Província; da mesma forma podia ter escolhido o 9 de novembro, data
em que a vila fora elevada ao predicamento de Cidade, título máximo do crescimento
político da época; mas não quis. Preferiu escolher sua data entre aquelas que
representavam uma vitória humana contra o egoísmo materialista. O 30 de
setembro simboliza uma luta do povo, festejada não por imposição política, mas
por instinto fraterno. Uma luta em que o povo de Mossoró pode dizer, como disse
São Paulo: \"combati o bom combate\".
Mossoró
foi a primeira cidade do Rio Grande do Norte a fazer campanhas sistemáticas
para libertação dos seus escravos. Não foi uma luta de poucos; foi uma luta que
envolveu, de uma maneira ou de outra, toda a cidade de Mossoró. E por ter sido
uma luta coletiva, pacífica e pioneira no Estado, é comemorada ainda hoje como
sendo a maior festa cívica da cidade.
O
Rio Grande do Norte não chegou a ser um Estado que dependesse da mão de obra
escrava para o seu desenvolvimento. A 1º de setembro de 1848, Casimiro José de
Morais Sarmento, deputado geral pelo Rio Grande do Norte, falava na sessão
daquele dia:
\"Concorda
em que o trabalho do escravo não é necessário. No Rio Grande do Norte há poucos
escravos, e quase toda a agricultura é feita por braços livres. Conhece muitos
senhores de engenho que não têm senão quatro ou cinco escravos, entretanto que
têm 20, 25 e 40 trabalhadores livres, e se não os têm em maior número, é pelo
pequeno salário que lhes pagão. Disto se convenceu o orador quando ali foi
presidente, porque em conseqüência de elevar o salário a 400 reis por dia,
nunca lhe faltarão operários livres para trabalharem na estrada que teve de
fazer\".
Mossoró,
particularmente, nunca foi uma cidade escravocrata. Possuía apenas 153 escravos
em 1862, para uma população livre de 2.493 indivíduos. Estatisticamente o percentual
era insignificante. A cidade não tinha engenhos; cuidava do gado e para isso
não precisava de muitos braços. Mas se o número de cativos era tão baixo, o que
justificou o movimento abolicionista em Mossoró?
1877
foi um ano terrível para os sertões nordestinos. A terra era devastada por uma
aterrorizante seca que se estendeu até 1879. A população faminta abandonava
seus lares em busca do litoral. Mossoró, Macau e Areia Branca, no Rio Grande do
Norte, Aracati e Fortaleza, no Ceará, abrigaram grupos numerosos de flagelados.
Mas não eram só os pobres que sofriam com a seca não. Os ricos fazendeiros,
donos de escravos também sofriam. E para amenizar os prejuízos, esses
fazendeiros mandavam para as cidades litorâneas seus escravos para serem
vendidos, e Mossoró por ser uma das cidades onde o comércio mais florescia,
recebia muitos escravos para esse fim. Desse modo era estabelecido na cidade o
comércio dos escravos. Várias casas comerciais se especializaram nesse tipo de
mercadoria, entre elas a Mossoró&Cia. de propriedade do Barão de Ibiapaba.
Os escravos comprados em Mossoró eram remetidos para Fortaleza e, dali, para as
províncias do sul. Talvez tenha sido esse tipo de comércio que tenha despertado
o sentimento de piedade pelos cativos. A ideia de libertação dos escravos
começou no Ceará em 1881.
Em
Mossoró, a ideia surgiu por ocasião de uma homenagem prestada na “Loja Maçônica
24 de Junho” ao casal Romualdo Lopes Galvão, líder da política e do comércio.
Presente à homenagem se encontrava o Venerável da “Loja Maçônica 24 de Junho”,
Frederico Antônio de Carvalho, a quem coube a ideia da fundação de uma
sociedade cuja finalidade fosse a liberação dos cativos.
Em
6 de janeiro de 1883 foi criada \"A Sociedade Libertadora
Mossoroense\", cuja presidência provisória fica a cargo de Romualdo Lopes
Galvão. Adere ao movimento os melhores elementos da terra. A diretoria
definitiva fica formada por Joaquim Bezerra da Costa Mendes como presidente,
Romualdo Lopes Galvão como vice-presidente, Frederico de Carvalho como primeiro
secretário, o Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque como orador. Nessa
época, Mossoró contava apenas com 86 escravos. A 10 de junho alforria 40 desses
escravos. A Sociedade Libertadora tinha um Código, com um único artigo e sem
parágrafos, onde estava determinado que \"todos os meios são lícitos a fim
de que Mossoró liberte os seus escravos\".
Leia
na próxima semana a conclusão deste artigo.
Geraldo
Maia do Nascimento
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Pois é caro Pesquisador Mendes, sua Grande Mossoró deu exemplo de civilidade, além de exemplo de coragem quando enfrentou o grupo de cangaceiros.
ResponderExcluirAntonio Oliveira