Por Alcino Alves Costa
Em nossos
livros “Lampião além da versão” e “O Sertão de Lampião”, existe em cada um
deles um capítulo discorrendo sobre a vida e morte de Deluz e de Juriti, este
assassinado cruelmente pelo famoso e temido sargento, então delegado de Canindé
de São Francisco. No “O Sertão de Lampião”, a página 269, está o capítulo “A
morte do sargento Deluz” e no “Lampião além da versão, a página 345, está o
capítulo “Juriti: perverso na vida, valente na morte”.
Amâncio Ferreira da Silva - Sargento Deluz
Amâncio
Ferreira da Silva era o verdadeiro nome do sargento Deluz. Nascido no dia 11 de
agosto de 1905, este pernambucano ainda muito jovem arribou para o Estado de
Sergipe, indo prestar os seus serviços na polícia militar sergipana.
Os tempos
tenebrosos do banditismo levaram Deluz para o último porto navegável do Velho
Chico, o arruado do Canindé Velho de Baixo. Por ser um militar extremamente
genioso, violento e perverso, ganha notoriedade em toda linha do São Francisco
e pelas bibocas das caatingas do sertão. Dos tempos do cangaço ficou na
história, e está registrada no livro “Lampião em Sergipe”, o espancamento
injusto que ele deu no pai de Adília e Delicado, o velho João Mulatinho,
deixando-o para sempre aleijado.
No
pós-cangaço, sem jamais sair de Canindé, também ficaram na história aquelas
versões de que os assaltantes de Propriá quando presos eram entregues a Deluz e
ele ao transportá-los em canoas que faziam o trajeto Propriá/Canindé, prendia
as mãos dos prisioneiros e amarrava uma pedra nos pés dos mesmos jogando-os
dentro do rio. Um de seus maiores prazeres era caçar ex-cangaceiro para
matá-los sem perdão e sem piedade. Foi o que fez com Juriti, prendendo-o na
fazenda Pedra D`água e o assassinando de maneira vil e abjeta jogando-o em uma
fogueira nas proximidades da fazenda Cuiabá.
Foi em virtude
de desavenças com o seu sogro, o pai de Dalva, sua esposa, que naquele dia 30
de setembro de 1952, quando viajava de sua fazenda Araticum para o Canindé
Velho de Baixo, se viu tocaiado e morto com vários tiros. Morte atribuída ao
velho pai de Dalva, o senhor João Marinho, proprietário da famosa fazenda
Brejo, no hoje município de Canindé de São Francisco.
Diz à história
que João Marinho foi o mandante, chegando até ser preso; e seu genro João Maria
Valadão, casado com Mariinha, irmã de Dalva, portanto cunhado de Deluz, ainda
vivo até a feitura desse artigo, com seus 96 anos de idade, completados no mês
de dezembro de 2011, foi quem tocaiou e matou o célebre militar e delegado que
aterrorizou Canindé e o Sertão do São Francisco.
Cangaceiro Juriti
Foi o sargento
Deluz o matador de Manoel Pereira de Azevedo, o perverso e famoso Juriti.
Manoel Pereira de Azevedo era um baiano lá das bandas do Salgado do Melão. Um
dia arribou de seu inóspito sertão e viajou para as terras do Sertão do São
Francisco, indo ser cangaceiro de Lampião, recebendo o nome de guerra de
Juriti.
Este
cangaceiro possuía uma aparência física impressionante. O seu porte atlético
abismava as mocinhas sertanejas que se derramavam em desejos para receber os
seus carinhos e o seu amor. Contrapondo a toda essa atração que despertava nas
jovens, Juriti carregava em seu sentimento e em sua alma um extremado pendor
para brutais violências; cangaceiro de atitudes monstruosas sentia especial
prazer em torturar e assassinar com requintes animalescos as infelizes vítimas
que caiam em suas mãos, como aconteceu com José Machado Feitosa, o rapaz de
Poço Redondo que ele após torturá-lo medonhamente, o assassinou com uma
punhalada em seu pescoço.
Em pouco tempo
Juriti angariou extraordinária fama.
A fama de ser
um cangaceiro que deixava as mocinhas sertanejas loucas de paixão e a fama de
ser um assecla perverso ao extremo. Uma menina-moça, chamada Maria, filha de
Manoel Jerônimo e Àurea, irmã de Delfina da Pedra D`água, deixou-o alucinado.
Aquela ardente paixão foi recíproca. E o jamais imaginado pelos seus pais
aconteceu. A menina de Mané de Aura deixou seu lar, seus pais e se jogou no
mundo. Os seus sonhos e a sua ilusão era passar a viver nos braços do tão
falado e comentado cabra de Lampião.
Na Grota de
Angico vamos encontrar Juriti e Maria vivendo aquele instante de suprema
agonia. Lampião, Maria Bonita e seus companheiros foram abraçados pela morte.
Sem o grande chefe o viver cangaceiro não era possível. Os bandos espalhados
pelas caatingas foram se desfazendo. Alguns fugiram e outros se entregaram as
autoridades de Alagoas e Bahia.
Juriti seguiu
o mesmo caminho de muitos. Após enviar a sua Maria para a proteção do pai e a
ajuda do amigo Rosalvo Marinho que a levaram para Jeremoabo, onde ela foi
recebida e bem tratada pelo capitão Aníbal Ferreira que deixando o papai
surpreso e feliz liberou a sua filha para que com ele retornasse para sua casa
e para o aconchego de sua família. Ainda mais. Solicitou a ajuda de Maria, do
pai e de Rosalvo Marinho para que ambos fizessem com que Juriti e seus companheiros
também viessem se entregar.
Juriti e
Borboleta são convencidos pelo amigo da Pedra D`água e também seguem para
Jeremoabo onde se entregam ao capitão Aníbal. Recebem o mesmo presente que
Maria recebeu. São liberados. Borboleta joga-se na “lapa do mundo” e nunca mais
se soube notícias dele. Talvez não esquecendo a sua Maria, Juriti se demora
alguns dias no Canindé Velho de Baixo, porém no início de 1939 viaja para
Salvador a capital baiana.
Em Salvador
consegue trabalhar como vigia de um fábrica. Em 1941 é despedido do trabalho e
retorna para o sertão de Sergipe. É seu desejo visitar os amigos da Pedra
D`água, obter notícias de sua antiga companheira e seguir viagem para o Salgado
do Melão, a sua terra de nascimento. Chegou ao último porto do Baixo São
Francisco em uma quarta-feira e seguiu para a fazenda de Rosalvo Marinho, onde
se “arranchou” e dormiu.
O sargento
Deluz foi avisado da inesperada presença de Juriti na casa de seu cunhado
Rosalvo Marinho. O sentimento impiedoso do militar não perdoava ex-cangaceiro.
Juriti teria que pagar todos os crimes praticados durante sua vida no cangaço,
e ele seria o juiz que iria condená-lo a morte.
Assim foi
feito. A quinta-feira amanheceu e ainda muito cedo o café foi servido. Juriti
conversa animado com seu amigo Rosalvo. Deluz e seus “rapazes” haviam cercado a
casa. Surpreso, Juriti se vê na mira das armas dos atacantes e é imediatamente
preso.
Sorrindo,
Deluz diz:
- “Mais qui
surpresa! Nunca pensei qui Juriti fosse um pásso tom manso, tom faci de ser
agarrado. Teje preso cabra. Eu num quero cangaceiro perto de mim não”.
Juriti se
recompõe da surpresa e desafia Deluz, dizendo: “Deluz, você é covardi. Eu sei
quem você é. Um covardi. Mostri qui é homi e mi sorte. Só assim você vai ficar
sabeno quem sou eu. Vamu, mi sorti, covardi. Você é um covardi”.
Amarrado a uma
corda, Deluz transporta Juriti na direção de Canindé. Ao chegar a uma
localidade chamada Roça da Velhinha, nas proximidades da fazenda Cuiabá, o
sargento, friamente, ordena que se faça uma fogueira e quando as labaredas
começam a lamber a caatinga e torrar a mataria e o chão daquele triste cenário
da vida sertaneja, Juriti é jogado, sem dó e sem piedade no meio do fogaréu.
Em poucos
minutos o corpo do antigo cangaceiro havia se transformado em um monte de
cinzas. Ficando, por várias décadas, como testemunha daquele medonho momento os
botões da braguilha da calça de Juriti, além do negrume deixado pelo fogo no
local do monstruoso assassinato do antigo Manoel Pereira de Azevedo, do Salgado
do Melão.
Saudações
cangaceiras!
Alcino Alves
Costa
Texto extraído
do Blog Cariri Cangaço
Geraldo
Antônio de Souza Júnior (Administrador)
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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