Seguidores

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

NOS IDOS DE 1926, LAMPIÃO ENTROU TRIUNFALMENTE NO MÍSTICO RELUTO DO PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA, O JUAZEIRO DO CARIRI.

Por Nertan Macêdo

Nos idos de 1926, Lampião entrou triunfalmente no místico reluto do padre Cícero Romão Batista, o Juazeiro do Cariri.

Foi aí que ele recebeu, por ordem do taumaturgo, a celebérrima patente de Capitão Patriota para perseguir a Coluna Prestes que punha em constante sobressalto o governo Arthur Bernardes.

Agraciado pelo padrinho dos romeiros e beatos, agora ostentando seus três bonitos galões de oficial, Lampião mandou um emissário ao sertão pernambucano, Andrelino Pereira, natural da Bahia do Icó, aos comandantes de volantes que o perseguiam.

Queria saber apenas isto: como o receberiam os “colegas” pernambucanos...

Diz Optato Gueiros, em suas memórias, que a resposta não foi das mais tranquilizadoras.

Retornou Andrelino a um capão da chapada do Araripe, onde o Capitão aguardava a resposta, dando-lhe a informação seguinte:

- As coisas lá para as bandas do Salgueiro, como em Vila Bela, não andam boas. Todo mundo já sabe que vosmicê é Capitão, mas os tenentes, por uma só boca, estão dizendo que se o senhor aparecer por lá a coisa vai se complicar.

Lampião rosnou, conformado com a sua sina:

- É... Desta viagem eu queria ver de perto se esse tal de Carlos Prestes prestava mesmo. Mas, sendo assim, a espingarda vai cantar na cantiga velha...

E ordenou ao “cabra” Fogueira ler a patente, para que também Andrelino Não duvidasse da sua autoridade militar.

Quem mandou chamar Lampião a Juazeiro foi o general-deputado Floro Bartolomeu da Costa, de sombria memória no sertão cearense. O chamado foi feito em nome do padre Cícero, já que Lampião não confiava no general.

Um romeiro alagoano de Correntes, Francisco Chagas, foi encarregado de guia-lo ao Juazeiro. Encontrou o Capitão num raio de cinquenta léguas da cidade, num lugar denominado Carnaúba. Esse Chagas havia se valido da proteção do Padre Cícero. Cometera uma “presepada” de repercussão: todas as autoridades policiais de Correntes foram mortas por ele, escapando da chacina, apenas, o sargento do destacamento daquela localidade, assim mesmo com a perna quebrada. O crime fora cometido por Chico Chagas e um seu irmão, de nome Nepomuceno, no município de Garanhuns. Nepomuceno havia sido preso e espancado pelo destacamento de Correntes. Os dois emboscaram a polícia e trucidaram-na.

Lampião ao receber a carta, ficou desconfiado. Foi preciso intervir um amigo do padre Cícero, Né da Carnaúba, para atestar a validade da convocação.

Por medida de cautela, Lampião marchou para o Cariri, conduzindo Chagas à frente do bando. Pisava um terreno que conhecia bem, desde os idos de 1918, quando aderira ao cangaço. Suas irmãs haviam, naquele tempo, se refugiado no Juazeiro, receosas da perseguição policial, mas ele continuava visita-las às ocultas, vez por outra.

Ali chegou com seu irmão Antonio Ferreira, seu lugar-tenente, Sabino também nomeados oficiais legalistas, quando Chagas, o guia, fora agraciado por seu turno com a patente de tenente do exército patriota. E mais com os seguintes cangaceiros: Zé dos Santos (Seu Chico), Jorge Salu (Maçarico), Raimundo da Silva (Aragão), Manuel Boi, Inácio de Medeiros (Jurema), Sevwerino da Silva (Nevoeiro), Joaquim de Mariano, Antonio França, João José da Silva (Pinica-Pau), José de Souza (Tenente), José Lopes da Silva (Mormaço), Nunes, Marcelino, Antonio dos Santos (Cobra Verde), Antonio Batista, Antonio da Silva (Moita Brava), João Mariano (Andorinha), Laurindo Batista Gaia (Açucena), Antonio Mansinho (Cuscuz), Luiz Pedro do Retiro, Nunes da Cruz, Caetano da Silva (Moreno), José dos Santos (Três Pancadas), Sebastião Raimundo (Três Cocos), Hermínio Xavier da Silva (Chumbinho), Nunes Magalhães (Pensamento), João Soares (Juriti), Vicente Feliciano (Meia-Noite), Euclides Bezerra (Criança), Sebastião Cancão, João Cesário (Coqueiro), Antonio Caboclo (Sabiá), Félix Mata Redonda, Damásio Chá Preto,, Barra Nova, Bem-Te-Vi, Né Vieira da Silva (Lasca Bomba), Azulão Segundo, Manoel Marcelino (Bom de Vera), Josias Vieira (Gato) e Antonio José da Silva, conhecido por Beija-Flor.

O governo da República reforçou o bando com outros homens, fornecendo a todos excelentes mosquetões e trezentas balas a cada um.
Cercaram-nos a curiosidade pública, reverente e estatelada ante a sóbria figura e generosidade do Capitão, admirando lhe a indumentária colorida e bizarra e dos seus comandados.

O hospedeiro de Lampião foi o poeta João Mendes de Oliveira, que se intitulava historiador brasileiro, único vate que se gabava no sertão de ganhar dinheiro com literatura, autor de espaventosas louvações ao padre Cícero e filósofo, a seu modo, em sentenças como esta:

“A vida Melhor deste mundo é a dos outros”.

Quem não ficou satisfeito com a presença de Lampião foi o sargento José Antonio, comandante do destacamento local, e o coronel Pedro Silvino, do Crato.

Quiseram os dois prender o cangaceiro, mas o padre Cícero não consentiu:

Servem-se do meu nome e agora querem prendê-lo – obstou o reverendo.

Protegido por padre Cícero, Lampião recebeu a visita de “gente-fina” – as casacas” -, a que se refere o poeta José Cordeiro, ao descrever essa permanência do Capitão na santa cidade sertaneja.

Fonte: Capitão Virgulino Ferreira - Lampião
Autor: Nertan Macêdo
Capítulo 4 - Parte do todo
Edições: O Cruzeiro - Rio de Janeiro
Publicado em: 1970

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário