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sábado, 20 de fevereiro de 2016

O COCO E O REI DO RITMO

Por Kydelmir Dantas (*)

COCO: Ritmo comum do litoral do nordeste apareceu como dança no século XVIII. Em geral bastam um pandeiro ou um ganzá para marcar o ritmo, que é mantido pelo som de palmas, e se forma em moda de cantadores e dançadores (Nova História da MPB, 2a Edição - 1977 - Ed. Abril Cultural). 

Segundo Manezinho Araújo, o Coco originou-se no Quilombo dos Palmares, onde os negros passavam horas quebrando coco e cantando na cadência das batidas da casca, dessa fruta, nas pedras. A forma obedece ao compasso 2/4 e 4/4. 

As variações baseiam-se em vários critérios, como: 

- O lugar: Coco-de-pedra, Coco-do Sertão, Coco-de-roda. 

- Instrumentos Utilizados: 

- Coco de Ganzá = Tipo de chocalho. 

- Coco de Zambê = Instrumento de Percussão. 

- Coco de Mungonguê = Espécie de tamborim. 

- Versos Usados: Coco Agalopado, de Sétima, de Embolada, etc. 

Porém, o mestre Câmara Cascudo, no seu Dicionário do Folclore Brasileiro ressalta que, mesmo com toda a influência Africana a disposição coreográfica coincide com as preferências dos bailados indígenas, especialmente os Tupis da costa brasileira. 

Mesmo sintetizando em poucas linhas o Coco, não poderíamos deixar de falar no seu maior representante, nos dizeres de Pinto Carneiro, um dos mais ecléticos cantadores do Brasil, que a tudo interpretava com habilidade de Mestre. Era o protótipo do homem do mato, simples, alegre e inteligente, era JACKSON DO PANDEIRO. 


Nascido em 31 de agosto de 1919 e batizado de José Gomes Filho, recebeu influência total de sua mãe Dona Flora Mourão, como era mais conhecida Flória Maria da Conceição, a mais requisitada “Tiradora de Coco”, das festas de Alagoa Grande, na Paraíba, que cantava e tocava ganzá, acompanhada por outra pessoa no zabumba. Aos 8 anos de idade ele pegou num zabumba pela primeira vez e passou a acompanhar a mãe nas suas apresentações. 



Após a morte de seu pai a família foi morar em Campina Grande e o menino foi trabalhar numa padaria. Aos 17 anos, ele substituiu o baterista de um conjunto musical que se apresentava no Clube Ipiranga, tornando-se instrumentista desse grupo. Na década de 40 foi morar em João Pessoa e tocou em vários cabarés, até que em 1946 foi contratado pela Rádio Tabajara, onde começou a se projetar como ritmista no pandeiro, era conhecido por Zé Jack, devido a sua figura magra lembrar o ator americano de filmes faroeste Jack Perry, e em 1948 foi trabalhar na rádio Jornal do Comércio, de Recife (PE), adotando o nome artístico que ficaria famoso, Jackson do Pandeiro, e fazendo dupla com Rosil Cavalcante, de Macaparana (PE). 

O primeiro disco gravado, pelo selo Copacabana, foi em 1953 onde ele canta um dos seus maiores sucessos: “SEBASTIANA”, de Rosil Cavalcanti, juntamente com “FORRÓ EM LIMOEIRO”, de Edgar Ferreira. 

A partir daí, já conhecido em todo o país, vieram outras gravações que se tornaram sucessos: “Cabo Tenório” e “Moxotó” (Rosil Cavalcanti); “Forró em Limoeiro” e “1 a 1” (Edgar Ferreira); “O Canto da Ema” (Aires Viana, Alventino Câmara e João do Vale); “Como Tem Zé na Paraíba” (Manezinho Araújo e Catulo de Paula); “Chiclete Com Banana” (Gordurinha e Almira Castilho) e mais um rosário de boas músicas, com letras irreverentes ou não, que o fizeram conhecido como cantor. Porém Ele também compunha: é que uma boa parte de suas composições Jackson colocava em nome de Almira Castilho, sua parceira e esposa de 1959 a 67. Citando algumas composições suas mais conhecidas, temos: “Na Base da Chinela” (JP & Rosil Cavalcanti); “Aquilo Bom” (JP & José Batista); “Cantiga da Perua” (JP & Elias Soares); “Cabeça Feita” (JP & Sebastião Batista) etc. 

Muitos dos grandes nomes da MPB se disseram influenciados por Jackson, ou gravaram músicas que foram sucesso com e do mesmo: Alceu Valença, Caetano Veloso, Gil, Gal Costa, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Chiclete com Banana; temos na Paraíba um cantor/poeta que é um dos seus mais fiéis seguidores, Biliu de Campina, fazendo o mesmo que o Mestre fazia: a “divisão”, ou seja, dividir os versos ritmicamente usando a voz como um instrumento de percussão. Hoje, após 76 anos do seu nascimento, as palavras do Rei do Ritmo continuam proféticas, para os que lutam e defendem a Música Popular Brasileira: 

“- Mesmo com a perseguição da música estrangeira, eu aguentei a barra durante 12 anos. Eu e o Luiz Gonzaga. Nunca parei de fazer gravações.”

“Sua Figura rude não sofreu qualquer transformação, de Alagoa Grande-PB - onde nasceu - ao Rio de Janeiro, onde conheceu os lauréis da glória.” (Pinto Carneiro). 

Amém, JACKSON DO PANDEIRO, amém! (*) Escritor, poeta, sócio da SBEC.

http://lentescangaceiras.blogspot.com.br/2008/12/o-coco-e-o-rei-do-ritmo.html

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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