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quarta-feira, 22 de junho de 2016

LOURENÇO MENANDRO DA CRUZ: O "PADROEIRO"

Por José Romero Araújo Cardoso*

Extremamente afável, educado e sem gestos de alarde, Lourenço Cruz era um verdadeiro diplomata, pois conhecia como ninguém pormenores das relações públicas imbuídos em profundo respeito pelos semelhantes, independente de classe social, credo ou raça.

Posso afirmar que entre os meus tios-avós, irmãos de Francisca Martinha da Cruz Cardoso, foi com Lourenço com quem tive maior convivência, tendo em vista que conheci Romeu Menandro da Cruz, residente em São José de Piranhas (PB), em seu leito de morte, pois veio a falecer em junho de 1976. Guardei na memória as bravuras de Romeu, contadas por Corinta Cruz Cardoso. Muito tempo depois, no ano de 1988, Pedro Lins imortalizou as façanhas do valente pombalense ao lançar opúsculo intitulado “Vida e ações de Romeu Menandro da Cruz”. 

José Menandro da Cruz, outro irmão de Lourenço, não conheci pessoalmente, apenas através de fotografias. Raramente visitava os parentes em Pombal. Fixou-se em Jardim de Piranhas (RN), depois que os jagunços do “Coronel” José Pereira Lima destruíram sua farmácia em Brejo do Cruz (PB), quando dos formidáveis raids encetados pela milícia particular do chefe princesense quando da guerra civil que encharcou o solo paraibano.

Quando das freqüentes visitas a Governador Dix-sept Rosado sempre fui alvo da atenção do velho “padroeiro”. Conversava bastante com ele na sala de sua moradia rural no sítio Santana, pois na zona urbana era difícil ele ter tempo para parar e palestrar sobre as coisas interessantes que vivenciou desde que aportou no Estado do Rio Grande do Norte no ano de 1925, vindo de Pombal (PB) a convite do seu tio Jerônimo Rosado.

Tio Lourenço me contava que chegando a Mossoró foi residir no sítio Canto. Conforme Vingt-un Rosado, com quem trabalhei e convivi durante oito anos a fio na inesquecível residência das dezessete tamarineiras, Lourenço despertou de imediato a afeição dele e dos irmãos em razão da forma calma e serena que sempre foi marca registrada do seu comportamento. Vingt-un me contava que Lourenço consertava com a maior paciência os brinquedos que ele e o irmão Vingt desgastavam com freqüência devido à intensidade das brincadeiras lúicas dos dois filhos numerados em francês do farmacêutico Jerônimo Rosado e de sua segunda esposa Isaura Rosado Maia.

Lourenço contava com saudosismo sobre o trabalho árduo a serviço da empresa do ramo ferroviário dirigida por Vicente Sabóia Filho, o conhecido e popular “Saboinha”. Em treze de junho de 1927, quando do ataque de Lampião à capital do oeste potiguar,foi um dos defensores de Mossoró, entrincheirado na Estação do Trem.

Homem da extrema confiança dos Rosados, dos quais fazia parte devido aos laços genealógicos com o português Jerônimo Ribeiro Rosado, de quem era neto, Lourenço Cruz passou a freqüentar com ênfase a vila de São Sebastião. Tornou-se figura proeminente da estrutura administrativa da pedreira de gesso localizada na Espadilha, da qual era tarefeiro.



Em São Sebastião conheceu a jovem Ismênia Costa, filha do Sr. João Jacinto. Casaram-se e tiveram os segukntes filhos: Hugo (In memorian), Hubenê, Hudson (In memorian), Hugnelson, Francisco e Hélio. Hugnete, Hugnelma, Hugneide e Martinete.

O vínculo afetivo-familiar de Lourenço Cruz era mais intenso com Dix-sept Rosado, de quem se tornou braço direito. Impressionava o relato que o saudoso paraibano fazia sobre a confiança que o número 17 de seu Rosado depositava nele, pois em todas as expansões da extração de gesso feitas pelo grupo empresarial, Lourenço sempre esteve a frente dos empreendimentos, coordenando tarefas em Trindade (PE), Paulistano (PI) e região do Crato (CE).

Meu tio Lourenço tornou-se referência no que tange ao respeito desfrutado junto ao povo da antiga São Sebastião, tendo em vista que devido á forma extremamente racional que sempre caracterizou suas ações, era procurado por muito a fim de resolver problemas, dar conselhos e solucionar impasses.

Em razão do prestígio desfrutado na terra que o adotou, foi eleito prefeito do município de Governador Dix-sept Rosado, em chapa composta com o grande amigo José Ferreira de Macedo.

Lourenço nunca esqueceu um minuto sequer do primo e amigo Dix-sept Rosado. Os olhos dele ficavam marejados de lágrimas quando recordava momentos vividos ao lado do empresário e político mossoroense com raízes no Estado da Paraíba.

Certa vez indaguei-lhe sobre quais tinham sido a  maior alegria e a maior tristeza da vida dele. Não titubeou em responder que subir os degraus do palácio Potengi ladeando Dix-sept tinha sido a maior alegria, enquanto que a maior tristeza fora receber a documentação referente à burocracia da liberação do corpo do primo governador quando da chegada dos restos mortais das vítimas potiguares do acidente aviatório do rio do sal ocorrido na capital sergipana em 12 de julho de 1951.  

Lourenço Cruz faleceu na segunda metade da década de noventa do século passado, sendo enterrado no cemitério de Governador Dix-sept Rosado, onde descansa eternamente lembrado como justo e honesto em razão da forma correta como sempre se portou em vida.

*José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN. 


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