Por João de Sousa Lima
O ÚLTIMO
MATADOR DE CANGACEIROS
No dia 28 de
julho completará 75 anos da morte de Lampião, as pessoas envolvidas diretamente
na história do cangaço e que ainda se encontram vivas estão beirando os 100
anos de idade. É muito difícil encontrar remanescentes daquela época em se
tratando de cangaceiros ou os que lutaram em nome da ordem pública como
soldados efetivos ou contratados. Encontramos só três cangaceiros vivos e
soldados da volante em torno de doze. Coiteiros e pessoas que conheceram alguns
cangaceiros ainda existem uma grande quantidade.
Gérson
Pionório, um dos últimos matadores de cangaceiros.
Em
Paulo Afonso vive Gérson Pionório Freire, filho de João Miguel Freire e Isabel
Pionório Freire. O pai de Gérson nasceu nas barrancas do Riacho do Navio e sua
mãe em Chorrochó, Bahia. Gérson nasceu no dia 20 de janeiro de 1916, em Curaçá,
Bahia. Ele é um dos poucos militares que matou cangaceiros.
A
identidade do cidadão Gérson
O
Primeiro contato de Gérson com os cangaceiros foi quando Lampião passou com seu
grupo na fazenda Guarani, em Curaçá. A fazenda pertencia ao pai de Gérson, o
senhor João Miguel. No momento estavam o pai, a mãe, Gérson, Abdias, Ulisses e
Elza. Os cangaceiros solicitaram dinheiro, ouro, sal e animais. O ouro estava
em um cupinzeiro que existia em uma das paredes e os cangaceiros não
encontraram. Pegaram cinco contos de réis que estavam no bolso de João Miguel,
um cavalo, um burro e sete jegues.
Lampião
olhou pra Gérson e disse:
- Menino venha
cá, pise aqui esse sal!
Gérson
pisou o sal e entregou a Lampião. O cangaceiro começou a colocar o sal com uma
colherinha de chá em um pequeno cumbuco de coco que o orifício de entrada era
apertado e o sal caia fora do recipiente em sua maior parte. Gérson pegou um
livro, arrancou uma página, fez um funil e colocou o sal no cumbuco. Lampião
observando a inteligência do rapaz falou:
- É morrendo e
aprendendo!
Desde esse
episódio do primeiro encontro de Lampião, alguns anos se passaram e Gérson
resolveu ser policial, sendo apadrinhado do capitão Menezes. No dia 04 de maio
de 1936, na cidade de Jeremoabo, Gérson e seus irmãos Abdias e Ulisses entraram
na volante de Antônio Inácio como contratado. Gérson passou a ser efetivo da
polícia no dia 10 de outubro de 1940.
A
identidade de Gérson como cabo da polícia baiana.
Gérson
destacou como soldado nas cidades de Jeremoabo, Canindé, Canudos (foi
delegado), Pilão Arcado, Sento Sé, Remanso, Sobradinho, Casa Nova, Senhor do
Bonfim, Juazeiro, Napele, Tucano, Calda de Cipó, Urucé, Itabuna, Canavieiras,
Camacã, Jacareci (foi delegado), Euclides da Cunha (foi comandante), e Cocorobó
(foi delegado). Ele passou pelas volantes de Pedro Aprígio, Aníbal Vicente, Zé
Rufino e Odilon Flor.
Quando
serviu com Odilon Flor, participou do combate onde foram mortos os cangaceiros
Pé-de-Peba, Chofreu e Mariquinha. O combate aconteceu no Riacho do Negro, em
Sergipe.
A volante de
Odilon Flor seguiu os rastros dos cangaceiros e próximo a cidade de Coité (hoje
Paripiranga) chegaram na casa de um coiteiro. Os policiais cercaram a casa, no
curral tinha uma janela e avistaram umas perneiras, roupas e garrafas de
bebidas. Os policiais entraram na residência e perguntaram a mulher sobre os
cangaceiros. O marido da mulher foi chegando e os soldados deram voz de prisão.
Odilon Flor ordenou:
- Gérson vá
mais Luiz pra trás da roça e mate esse coiteiro!
O coiteiro pra não morrer prometeu entregar os cangaceiros. A volante seguiu
com o coiteiro nos rastros dos cangaceiros indo encontrá-los às onze horas da
noite. O combate noturno travado entre 15 policiais e 08 cangaceiros foi
ferrenho. Odilon Flor foi baleado nas nádegas, os cangaceiros tiveram uma baixa
de 03 componentes do grupo. Os policiais cortaram as cabeças e ainda à noite as
colocaram em um carro de boi e levaram até Paripiranga. Na cidade, a população
pôde ver as cabeças de Pé-de-Peba, Chofreu e Mariquinha. Gérson passou a
receber o soldo de sargento depois da morte dos cangaceiros.
Soldado da volante
Quando
Zé Rufino matou Corisco e baleou Dadá, Gérson e seu irmão Abdias Pionório foram
buscar Dadá em Paripiranga e a trouxeram pra Jeremoabo. Dormiram no Sítio do
Quinto, revezando os dois irmãos a guarda da cangaceira baleada.
As
orações que Gérson guarda com carinho desde sua entrada na polícia para
perseguir os cangaceiros.
A
convivência de Gérson e Zé Rufino foi marcada por discussões. Zé Rufino
descontava do soldo dos soldados pra pagar o que eles consumiam dos sertanejos
e Zé Rufino ficava com o dinheiro.
Fragmentos de uma oração
O
volante participou também da prisão do matador Peixoto, assassino que
aterrorizou várias cidades baianas. O bandido Peixoto matou um rapaz em Santo
Antônio da Glória e foi preso depois de uma longa perseguição. Peixoto fugiu da
cadeia de Glória e foi se esconder em Sergipe, na cidade de Simão Dias, sob a
proteção do fazendeiro Dorinha.
Detalhes
das orações dentro de um plástico
Gérson,
João Ribeiro, Gervásio Grande e mais alguns soldados foram a Simão Dias e
prenderam Peixoto e o levaram para Paripiranga. De lá foram levar o preso pra
Salvador. No trajeto, quando passavam em Boquim, um juiz de Direito se
aproximou dos policiais e do detento e pediu aos soldados que soltassem o preso
que ele era um coitadinho. João Ribeiro pegou um mamão e jogou no juiz. O mamão
espatifou-se nos peitos do juiz sujando sua roupa de linho branco. O preso foi
entregue em Salvador.
O
crucifixo que por tantas vezes o protegeu nos tiroteios.
Gérson
trabalhou um bom período para a família do político Nilo Coelho, vive há muito
tempo em Paulo Afonso e é sargento reformado da polícia baiana. Lúcido, conta
suas histórias e fala com saudades do tempo em que andava nas caatingas em
perseguição aos cangaceiros. Guarda junto aos documentos algumas orações e um
crucifixo que ele tem desde que entrou na polícia e acredita que só não morreu
nos tiroteios por força dessas orações.
João de Sousa
Lima
Historiador e
Escritor, Membro da
ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso. Sócio do GECC
- Grupo de estudos do cangaço do Ceará
Paulo Afonso,
Bahia, 07 de março de 2013.
http://joaodesousalima.blogspot.com.br/2013/03/gerson-pionorio-vive-em-paulo-afonso-o.html?spref=fb
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