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domingo, 25 de dezembro de 2016

ESPÓLIOS DE LAMPIÃO (Parte I)


É sabido por todo pesquisador que os cangaceiros levavam consigo a maioria dos seus ‘pertences’. Também se sabe que em casos, ou em alguns casos, eles emprestavam, a juros altíssimos, algum dinheiro para as pessoas.

Coronel José Pereira de Lima

Citam alguns autores que o coronel Zé Pereira, de Princesa Isabel, PB, devia uma grande soma ao “Rei dos Cangaceiros”, e, para não saldar tal dívida, aproveitou o ataque de seu bando, ele não participa, a cidade de Souza, em solo paraibano, convidado pelo jovem cangaceiro Chico Pereira, para colocar seus capangas, e o coronel mantinha um contingente de jagunços maior do que o contingente da Polícia da Paraíba, em seus calcanhares.

Cangaceiro Chico Pereira

Outra citação é que, ao transpor as águas do Velho Chico, Lampião diz “levar muito dinheiro, balas e coragem...” para terras baianas. Na Bahia, há referências de que o chefe de subgrupo, o cangaceiro Zé Baiano, o “Pantera Negra”, vivia a emprestar dinheiro a juros para o pessoal.

Tenente Zé Rufino

Logicamente não se pode negar que, principalmente na ‘fase baiana’, foi a ‘maneira de ganhar’ dinheiro que fascinou tantos jovens, principalmente sergipanos, a adentrarem nos bandos. Sabe-se, através das entrelinhas dos escritores, que o pernambucano José Osório de Farias, o comandante Zé Rufino da Força Pública baiana, comprou algumas fazendas, isso dito por ele, após deixar a Polícia, e foi com os espólios retirados dos corpos dos cangaceiros mortos por sua volante. Além das promoções na hierarquia militar, das recompensas pelas ‘cabeças’ de alguns cangaceiros, que quem matasse um teria direito ao seu espólio.

Lampião, Juriti, Sabonete e um coiteiro. O 'capitão' está pagando algum 'serviço' ao coiteiro. dinheiro, a mola mestra do cangaço.

O caso mais intrigante, até hoje, não poderia deixar de ser, exatamente, sobre os espólios de Lampião, Maria Bonita, sua companheira, e os outros nove cangaceiros abatidos na grota do riacho Angico em julho de 1938.


Lampião e Maria Bonita em close de recorte. Nessa captura, sendo ela completa, há um detalhe interessante, pois, o fotógrafo era Benjamin Abrahão, só que ele está apertando a mão do 'capitão'. Ao estudarmos a foto, e outra quase idêntica, fazendo comparações, notamos que o cangaceiro Juriti está na que o fotógrafo não está e, vice-versa. Com isso acreditamos que o cangaceiro Juriti seja o autor desse registro histórico.

A pergunta que não cala é onde foram, ou com quem ficou os espólios dos maiores, mais antigos e mais ‘ricos’ cangaceiros da época?

Seguindo a rota que as cabeças seguiram, conseguimos seguir parte desse ‘tesouro’ até a sede do comando da Força Pública, II Batalhão, na cidade de Santana do Ipanema, AL. Ali, o restante daquilo que fora um dia os espólios dos cangaceiros mortos em Angico, fora divido entre os comandantes. “Restante” por, antes ter sido ‘repartida’ várias coisas entre a tropa, coisa que causou até brigas entre os soldados. Além das cabeças, foram decepadas mãos, dedos e a parte do corpo dos abatidos que estivesse alguma joia ou coisa de valor, dentre outras profanações.

Maria Bonita e Sabonete. Cangaceiro designado para ser uma espécie de secretário da 'rainha dos cangaceiros'. Ela na cena do filme, coloca as joias em volta do pescoço. Notamos que já há anéis em seus dedos.

“(...) Além das cabeças dos cangaceiros, alguns dedos e mãos também foram decepados para a retirada de anéis, bornais foram revirados e até brigas aconteceram pela disputa (...).” (“LAMPIÃO – Sua morte passada a limpo” – BASSETTI, José Sabino. e MEGALE, Carlos Cesar de Miranda. 1ª edição. 2011)

Fotografia recortada para mostrar os anéis que os cangaceiros usavam em seus dedos. Muitos só deixavam o indicador sem anel.

Após a morte dos cangaceiros no riacho Angico, foi designado um Delegado Federal, Dr° Joel Macieira de Aguiar, para apurar o caso do “tesouro” dos cangaceiros. Em sua investigação descobre que havia pessoas de várias esferas sociais a colaborar com Lampião, na sociedade sergipana, porém, como foram saqueados os pertences dos cangaceiros, até documentos que ajudariam a provar, ou comprovar, a participação dessas pessoas, foi retirada. O interventor do Estado de Sergipe, Dr° Manoel de Carvalho Barroso, é orientado pelo delegado a pedir a seu colega das Alagoas uma verificação por parte da Secretaria de Segurança Pública sobre essa documentação. Porém, nada fora catalogado daquilo que se encontrava em poder do “Rei dos Cangaceiros” e seus asseclas naquele coito.

A tolda de Lampião e Maria na Grota do Riacho Angico.

“(...) Não existe, pelo menos de conhecimento público, um inventário oficial e verdadeiro, onde esteja catalogado todo o espólio dos cangaceiros mortos em Angico (...).” (Ob. Ct.)

A coisa, na época, não era de brincadeira. Não poderia, de maneira alguma, vir a público nome de pessoas influentes dos Estados em que Lampião estendeu sua malha e concretizou seu reinado.

“(...) dizem até que, foram encontrados em um dos bornais de Lampião, “um arquivo”, com correspondências de coronéis, políticos e fazendeiros, além de uma fotografia de um oficial comandante de volante, com dedicatória e tudo ao Rei do Cangaço. E tudo foi devidamente “abafado inclusive na imprensa” (...).” (Ob. Ct.)

Cilhão - Sela para mulheres cavalgarem

Devemos lembrar que na época, o País estava sob um Regime ditatorial. A Ditadura Vargas estava em pleno exercício. Um, ou mais um, escândalo desses, o primeiro sobre o caso fora o filme de Benjamin Abrahão, não seria visto de bom grado...

Existe, dentre os pesquisadores/escritores, aqueles que acham difícil haver prova escrita de alguns ‘poderosos’ nos espólios do “Rei dos Cangaceiros”. No entanto, poderia ter sim, alguns nomes dos fornecedores e colaboradores escritos em algum papel... Que Lampião recebia colaboração de pessoas influentes é fato, porém, saber quem realmente eram, é mais uma incógnita do incógnito tema, o qual, seus nomes, parece jamais saberemos.

Maria Bonita e Sabonete. Cangaceiro designado para ser uma espécie de secretário da 'rainha dos cangaceiros'. Ela na cena do filme, coloca as joias em volta do pescoço. Notamos que já há anéis em seus dedos.

Na famosa foto, onde ficou registrada parte dos espólios junto às cabeças dos cangaceiros na escadaria da Prefeitura da cidade alagoana de Piranhas, de cara notamos uma ‘arrumação’ quando vemos máquinas de costuras e até um cilhão, sela exclusiva e apropriada para mulheres... Sabe-se que foi encomendada uma máquina para que, com ela, fosse ‘produzida’ a indumentária de Zé Ferreira, sobrinho do ‘Capitão’, que estava há poucos dias junto à cabroeira e o tio o faria mais um cangaceiro, o mais novo “Ferreira” no cangaço, mas, não deu tempo. E o que danado fazia uma sela de montaria naquele coito?

A foto famosa, tendo sido capturada na escadaria da prefeitura da cidade de piranhas, nas Alagoas. Hoje, essa escadaria não mais existe.

Relatos de ex volantes deixam registros de que o comandante da Força Pública alagoana que pôs fim a vida do “Rei Vesgo”, sua ‘Rainha” e parte dos seus cabras, apossou-se da maior parte dos espólios.

Tenente João Bezerra da Silva

“(...) Os soldados são unânimes em afirmar que João Bezerra (tenente comandante da tropa) levou para casa quase tudo de valor que foi encontrado, inclusive dinheiro, prometendo dividir com todos no dia seguinte. Os ex-militares José Panta de Godoy, Elias Marques de Alencar e Antônio Vieira, estão entre os que afirmaram em entrevista que havia muita coisa, mas que nada receberam e, acusaram João Bezerra e Ferreira de Melo de terem ficado com quase tudo. João Bezerra e Ferreira de Melo pegaram ainda em Piranhas o que quiseram, pois tiveram tempo suficiente para escolher e separar tudo de valor material e “sentimental” que acharam interessante guardar (...)”. (Ob. Ct.)

Fotos das armas que seriam as de Lampião no Instituto Geográfico e Histórico de Maceió, capital do Estado das Alagoas. Hoje, comprovadamente sabe-se que não eram essas as armas do "rei dos cangaceiros".

Com o passar do tempo, obras literárias trazem em suas entrelinhas a notícia de que partes desses objetos foram adquiridos pelos escritores, comprados mesmo e, pasmem, é através de uma dessas obras que se começa a descobrir-se que parte daqueles objetos que estão a mostra em museu, não são verdadeiros...

CONTINUA...

Foto A Noite
Benjamin Abrahão
Joãozinho Retratista

PS// fotos do cangaceiro Chico Pereira e do bando em Jaramataia foram colorizadas, digitalmente, pelo amigo Rubens Antonio

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?fref=ts

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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