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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA - O SERTÃO TEM MEMÓRIA!

*Rangel Alves da Costa

O Sertão tem Memória! Este slogan serve para identificar bem a missão e os objetivos do Memorial Alcino Alves Costa, denominação popular da Associação Cultural Memorial Alcino Alves Costa, situada na Rua Gustavo Mello, nº 07, no centro da cidade sertaneja de Poço Redondo. Um local já conhecido por todos, pois na antiga residência familiar do saudoso sertanejo.

Surgido em 2013, numa iniciativa familiar para manter viva a memória do político (três vezes prefeito de Poço Redondo), escritor, pesquisador, compositor, poeta e radialista Alcino Alves Costa, falecido a 1º de novembro de 2012, o Memorial ao longo do tempo foi se constituindo numa referência obrigatória para todos aqueles que desejam beber em profundidade da história, da cultura e das tradições do sertão sergipano, com ênfase na saga do cangaço, a partir do acervo deixado pelo homenageado.

Na condição de filho de Alcino e incentivado por amigos, idealizei e organizei o Memorial por que senti a necessidade de um espaço onde o seu acervo e a sua memória tivessem um lugar garantido para a posteridade. Não só preservar para o futuro, mas principalmente permitir o acesso a estudantes, pesquisadores e demais interessados na sua obra e na sua devoção sertaneja. E de repente já estava ampliado para contar a saga do próprio sertão.

Assim, o acervo do Memorial foi ampliado para ser também um espaço privilegiado de contanto e conhecimento das diversas feições do sertão, incluindo seus aspectos históricos, sua religiosidade, os fazeres e os costumes antigos, bem como as tradições de um povo. Ali o interessado encontrará aspectos relacionados às revoltas sociais nordestinas, ao cangaço, à música de raiz, as tradições culturais e todo o percurso histórico que permitiu o desbravamento e a formação do sertão, bem demais manifestações tipicamente sertanejas. 

O Memorial é também um espaço para reuniões e grupos de discussão, onde jovens, estudantes e todos os interessados, são convidados a ouvir palestras sobre a cultura e a história sertaneja, bem como demais temas relacionados à identidade nordestina. Diversas são as ocasiões onde grandes eventos contam com palestras de renomados professores e pesquisadores. Mesmo sem compromissos formais, pessoas ali se reúnem para um proseado e até para bebericar uma cachacinha com casca de pau.


Logicamente que sempre será um espaço de recordação de Alcino e sua obra, uma forma de reencontrar o seu mundo tão sertanejo. A saga de seu povo era o seu exercício de toda hora. E assim fez até suas forças permitirem. Com seu jeito sempre cativante de ser, sempre calçado nas suas inconfundíveis havaianas, cortando as ruas de seu Poço Redondo ou recebendo amigos de outras plagas enquanto ouvia Tonico e Tinoco, acabou se transformando em referência obrigatória acerca de tudo que dissesse respeito a sertão. 

Verdade é que o político escondia no seu verso outra feição muito mais prazerosa de lidar com o seu mundo, que era a de pesquisador, poeta, colecionador de vinis da autêntica música caipira, apaixonado pela história cangaceira. O seu tio materno, Zabelê, cangaceiro do bando de Lampião, lhe servia de orgulho e inspiração. Foi a partir do interesse pelo destino do tio que foi cavando as raízes cangaceiras até se tornar num dos mais respeitados historiadores sobre o tema. 

Não conformado com as mesmices nem com as inverdades escritas e asseveradas em torno da saga bandoleira, Alcino se propôs a dar outra feição à história. E conseguiu logo no primeiro livro publicado: “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”. E mais tarde surgiram “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”, dentro outras obras. Mas guardava escritos para muitos outros livros discutindo, contando e recontando, o percurso daqueles valentes e tantas vezes incompreendidos homens das caatingas e dos carrascais agrestinos.   

Trouxe ao presente o conhecimento de personagens importantes da história nordestina, procurou desvendar os mistérios de Angico e da epopeia lampiônica, e com isso se tornou um dos escritores mais lidos e requisitados do fenômeno cangaço. Colocou a música caipira e a viola cabocla no seu devido lugar de importância e reconhecimento. Revisitando seus arquivos, percebi o quanto de sertão existente em livros, recortes, correspondências, manuscritos, fotografias. Sertão, talvez este seja também outro nome de Alcino.

Tantas realizações não poderiam ficar apenas na memória do seu povo, nas recordações dos amigos. Como filho, esforcei-me para torná-lo ainda vivo por todo o sertão. Primeiro escrevi sua biografia com um título mais que apropriado: Todo o Sertão num só Coração - Vida e Obra de Alcino Alves Costa. Depois abri os portais de sua casa em sua memória, através do Memorial.

Foi nesta caminhada que buscamos construir o lugar da memória de Poço Redondo, do sertão, de Alcino. Um espaço onde também estará a memória de cada um, pois todos gestados de raízes que não podem ser relegadas nem destruídas pela voracidade do novo. Assim o memorial sertanejo, pois o sertão também tem viva e rica memória.

Advogado e escritor
Membro da Academia de Letras de Aracaju
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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