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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

JOSÉ DO TELHADO 2ª PARTE

Por Museu Histórico de Portugal

Fez uma pequena pausa, olhando os circunstantes. Estava no meio da casa, de mãos atrás das costas, encostado levemente à mesa, onde a pálida luz da vela emprestava um certo ambiente místico de cabala.

Ninguém ousou contestar as palavras daquele que acabava de se consagrar como mestre indiscutível e indiscutido.

O José do Telhado prosseguiu:

- De hoje em diante, eu só estou aqui como Repartidor Público. Tudo o que tirarmos aos outros não será só para nós. Uma parte é para os pobres. Ali para o Douro há muita gente rica, mas também se vê por lá muito pobre. Tenho visto por aí muitos velhos, sem terras, nem nada, e mulheres com bandos de filhos. A nossa comunidade tem de ajudar os que são esquecidos por todos. Também não podemos esquecer-nos do senhor Custódio, e vamos ajudá-Io a curar-se do mal que tem. Ele precisa de dinheiro.

Ia-se fazendo ouvir um certo murmúrio. O José do Telhado suspendeu a sua fala, com ar interrogador:

- Que dizeis?

- É que não fica muito para nós - afoitou-se a adiantar o Veterano. - Quanto tempo vamos ficar a pagar para o Custódio? Ele pode não arrebitar, e levar tempo a esticar. E agora há também o mestre...

- Ao senhor Custódio paga-se enquanto ele precisar - interrompeu o José do Telhado. - E eu para mim só quero tanto como cada um de vós. Não quero mais nada.

- É de homem! É de homem! - exclamaram algumas vozes em coro.

- Ah! Se é assim... 'Tá bem! - concluiu o Veterano, tirando o chapéu da cabeça em sinal de respeitosa concordância.

- Estou aqui às tuas ordens, mestre! Ninguém cumpre mais que eu... - interveio o Avarento. - Mas acho que cada um trata de si... Não tenho nada a ver com os pobres!

Houve alguns murmúrios, uns concordantes outros não.

- O mestre é que sabe! - replicou o Sancho Pacato.

- Mas eu cumpro!... Mas eu cumpro!... - apressou-se a confirmar o Avarento.

Depois, durante um minuto, nenhum dos circunstantes tomou a palavra. Então o José do Telhado prosseguiu:

- Os ricos e os políticos é que hão-de pagar para os pobres... Os políticos têm sido a desgraça dos pobres. Prometem tudo, mas só protegem os que eles muito bem querem . Aos pobres passam a vida a mentir-Ihes. De hoje em diante eu serei repartidor público. Podeis dizê-Io a toda a gente. O povo há-de sabê-Io. E também quero que as autoridades o saibam. Porque este encargo foi-me dado pelo povo.

"Ele mesmo se intitulava Repartidor Público.

Enviado de Lisboa capital de Portugal pelo pesquisador Emídio Roberto

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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