Por Sálvio Siqueira
Após a
desavença do cangaceiro “Tamanduá Vermelho”, Clementino Quelé, com o cangaceiro
Meia Noite, onde o primeiro ficou achando que Lampião deu mais valor ao
segundo, resolveu deixar o bando. Mesmo porque não havia mais clima e
tornara-se perigoso.
Algum tempo
depois, com a interferência do coronel Pereira da cidade de Princesa, PB,
Clementino passa a fazer parte, e comandar, uma volante paraibana. Após as
brigadas contra o bando de Lampião, a Força Pública foi um refúgio seguro que
encontrou.
Nas redondezas
por onde sempre vivera, sendo ex cangaceiro do bando de Lampião, Quelé tinha
conhecimento da maioria dos coiteiros. Certo dia, passa nas casas de vários
avisando, intimidando e ameaçando de que, se descem um copo com água para um
cangaceiro beber, morriam. Os coiteiros e demais sertanejos, roceiros, da
região, ficaram entre dois fogos: se se negam aos cangaceiros, apanhavam ou
morriam, se os ajudassem, apanhavam ou morriam nas mãos de Clementino Quelé.
Clementino
José Furtado - o Clementino Quelé foi fiscal de 'rua', cangaceiro e volante. Fora
apelidado de "tamanduá vermelho" por Lampião, devido sua coloração da
tez ao ficar enraivecido. Tornou-se uma 'pedra' nas alpercatas de Virgolino.
Ele ‘tava com
os cão nos couro’. Fez várias ‘visitas’ na zona rural de Triunfo. Resolveu
então ir à casa dos pais do cangaceiro Luiz Pedro, “Pedro Alexandrino de
Siqueira e dona Rufina Maria de Jesus”, onde os ameaça de morte. Depois vai à
residência dos pais da noiva de Livino Ferreira, “Inocência Alves de
Magalhães”, no sítio fazenda Nova, e faz ameaças de morte.
“(...) Alguns
dos ameaçados ainda disseram:
- Mais Clementino, como é que nós vamos dizer não a Lampião? Se a gente fizer assim ele nos mata!
- Bem, estão avisados! (respondeu Quelé). (“A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO – SERRA GRANDE E A INVASÃO A CALUMBI” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. Paulo Afonso, 2017).
Imaginem como
estava essa pobre gente entre esses dois homens que para matar uma pessoa,
bastava ter vontade.
Esse ódio de
Clementino Quelé por Lampião foi devido à morte de seu irmão, Pedro Quelé, em
uma das investidas do bando contra os Furtado no sítio Conceição. Havia duas
casas no sítio da família Furtado, quando de um ataque de Lampião, no citado
sítio, com o objetivo de eliminar Clementino, O ‘Rei Vesgo’ e parte da
cabroeira ficam atacando uma das casas, na qual encontrava-se o ex-cangaceiro
apelidado pelo chefe de “Tamanduá Vermelho”. Na outra, quem cerca é o
cangaceiro ‘Esperança’, Antônio Ferreira, irmão mais velho de Virgolino, com o
restante dos ‘cabras’. Pedro era uma fera e não dava oportunidades aos
cangaceiros. Em certo momento, ‘Esperança’ grita para Pedro que se entregue que
ele garantia sua vida. Pedro, homem disposto e de palavra, acha que Antônio
Ferreira ia cumprir a palavra dele. Mesmo sendo advertido pela esposa, Pedro
abre a porta da casa e sai para o terreiro. Logo é cercado pelos cangaceiros.
Antônio Ferreira chega por trás de Pedro e o mata friamente pelas costas,
acertando sua cabeça. Pedro já estava morto antes que seu corpo se chocasse
contra o chão.
Antônio e seus
comandados vão juntarem-se a Lampião e os seus, que estavam atacando a outra
casa, deixando a viúva desesperada, sentada no batente da porta com o rosto
entre as mãos. Ao ter conhecimento, o ‘Rei dos Cangaceiros’ não gosta da
atitude do seu irmão mais velho em ter matado daquela maneira, covarde, Pedro
Quelé. Clementino refere que morrer brigando, é coisa de homem, mas, a traição
não, ele não admitia.
Virgolino Ferreira, Antônio Ferreira, Livino Ferreira e Antônio Rosa. Três irmãos de
sangue e um irmão de criação.
“-Lampião
matou meu irmão Pedro Furtado na covardia e eu vou matar eles todos! Não vai
sobrar um Ferreira! E o cabra que apoiar eu mato também! Pode ser quem for! E
se vocês não querem dizer não a Lampião, vão embora para a rua(cidade), pois se
acoitar aquele cabra covarde já tão sabendo que vão morrer! (dizia o ‘Tamanduá
Vermelho’ aqueles a quem ameaçava)(Ob. Ct.)
Mesmo tendo
sido advertidos, ameaçados de morte, alguns não quiseram, ou não puderam seguir
as ordens dadas pelo comandante Quelé. Era praxe dos bandos cangaceiros virem,
fazerem suas arruaças e sumirem entre as serras e ninguém ter, nem dar,
notícias deles por um bom ‘pedaço’ de tempo. Depois de algum tempo escondido,
Virgolino resolveu aparecer pras bandas da fazenda Abóboras. Quando por lá
estava, Lampião sempre procurava ficar numa determinada gruta denominada ‘coito
do Pilé’. Lá estando, mandava recado para alguns dos coiteiros mais próximos,
para que os mesmo levassem a comida para o bando.
Dessa feita, foram ordenados da tarefa Joaquim Santana e José Freire, que
moravam próximos. Os dois levam a comida para o bando e, ao retornarem, são
pegos por Clementino Quelé e seus homens dentro de casa. Clementino manda
descer a chibata nos dois coiteiros ali mesmo, dentro do casebre onde moravam.
A bisa é à base de cipó de boi.
Após uma surra
muito grande, os comandados por Quelé, a mando dele, pegam um deles, José
Freire, o arrastam até o meio do terreiro da frente da casa e o matam a golpes
de peixeira. O outro, sem ter condições alguma de reação, já imaginava seu fim
ser igual ao fim que teve o companheiro. Tendo outros planos para ele, o
comandante da volante paraibana o obriga a dizer, depois a leva-lo aonde se
encontrava acampado o seu inimigo. Dentre os soldados, um que ia pertinho do
prisioneiro, diz baixinho para que ele tente escapar, correndo ladeira abaixo.
Achando ser ajudado pelo soldado, Joaquim Santana começa uma carreira
desabalada em busca de salvar sua vida. No momento em que a fuga, ou tentativa,
do preso, o comandante ordena que se abra fogo contra ele. Muitos disparos
foram feitos, porém, o coiteiro continuava na mesma carreira descida abaixo. O
próprio Quelé, coloca um dos joelhos no chão, faz mira e abre fogo. No momento
em que se escuta o som do tiro da arma de Clementino, verse o sujeito danar-se
de bruços no chão.
“(...) Quelé
mestre na arte de atirar plantou o joelho no chão, cobriu o cabra na mira do
fuzil e disparou! Joaquim Santana deu um salto pra frente e caiu, o tiro havia
atingido nas costas e o buraco cabia apenas a ponta de um lápis, mas havia
saído entre os dois peitos, na titela, como se diz por aqui, causando um grande
estrago. O buraco cabia uma mão(...).” ( Ob. Ct.)
No momento dos
disparos, Lampião em cima da serra, percebe o que está se passando. Ordena que
seus ‘meninos’ deem vários disparos e 'pica a mula' para outro esconderijo.
Clementino
Quelé, quando escuta a saraivada de bala no alto da serra, percebe que aquele
não seria o dia de mais enfrentamento entre ele e Lampião. Dá meia volta e
segue em direção a casa de onde tinham vindo. Passando no terreiro da casa,
puxa da pistola e dá alguns tiros no corpo do pobre José Freire. Hoje, como
lembrança, ou recordação daquele dia, daquelas mortes, existe um símbolo de
tristeza e morte, uma cruz indicando que ali morrera alguém.
Fonte “A MAIOR
BATALHA DE LAMPIÃO – SERRA GRANDE E A INVASÃO A CALUMBI” – LIMA, Lourinaldo
Teles Pereira. (Louro Teles),
Paulo Afonso, 2017).
Foto
Tokdehistória,com
Ob. Ct.
Ob. Ct.
PS// ISSO E
MUITO MAIS VOCÊS VERÃO NAS ENTRELINHAS DO LIVRO CITADO COMO FONTE.
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