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quarta-feira, 5 de abril de 2017

A IRA DE QUELÉ RECAI SOBRE OS COITEIROS


Após a desavença do cangaceiro “Tamanduá Vermelho”, Clementino Quelé, com o cangaceiro Meia Noite, onde o primeiro ficou achando que Lampião deu mais valor ao segundo, resolveu deixar o bando. Mesmo porque não havia mais clima e tornara-se perigoso.

Algum tempo depois, com a interferência do coronel Pereira da cidade de Princesa, PB, Clementino passa a fazer parte, e comandar, uma volante paraibana. Após as brigadas contra o bando de Lampião, a Força Pública foi um refúgio seguro que encontrou.

Nas redondezas por onde sempre vivera, sendo ex cangaceiro do bando de Lampião, Quelé tinha conhecimento da maioria dos coiteiros. Certo dia, passa nas casas de vários avisando, intimidando e ameaçando de que, se descem um copo com água para um cangaceiro beber, morriam. Os coiteiros e demais sertanejos, roceiros, da região, ficaram entre dois fogos: se se negam aos cangaceiros, apanhavam ou morriam, se os ajudassem, apanhavam ou morriam nas mãos de Clementino Quelé.

Clementino José Furtado - o Clementino Quelé foi fiscal de 'rua', cangaceiro e volante. Fora apelidado de "tamanduá vermelho" por Lampião, devido sua coloração da tez ao ficar enraivecido. Tornou-se uma 'pedra' nas alpercatas de Virgolino.

Ele ‘tava com os cão nos couro’. Fez várias ‘visitas’ na zona rural de Triunfo. Resolveu então ir à casa dos pais do cangaceiro Luiz Pedro, “Pedro Alexandrino de Siqueira e dona Rufina Maria de Jesus”, onde os ameaça de morte. Depois vai à residência dos pais da noiva de Livino Ferreira, “Inocência Alves de Magalhães”, no sítio fazenda Nova, e faz ameaças de morte.

“(...) Alguns dos ameaçados ainda disseram:

- Mais Clementino, como é que nós vamos dizer não a Lampião? Se a gente fizer assim ele nos mata!

- Bem, estão avisados! (respondeu Quelé). (“A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO – SERRA GRANDE E A INVASÃO A CALUMBI” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. Paulo Afonso, 2017).

Imaginem como estava essa pobre gente entre esses dois homens que para matar uma pessoa, bastava ter vontade.

Esse ódio de Clementino Quelé por Lampião foi devido à morte de seu irmão, Pedro Quelé, em uma das investidas do bando contra os Furtado no sítio Conceição. Havia duas casas no sítio da família Furtado, quando de um ataque de Lampião, no citado sítio, com o objetivo de eliminar Clementino, O ‘Rei Vesgo’ e parte da cabroeira ficam atacando uma das casas, na qual encontrava-se o ex-cangaceiro apelidado pelo chefe de “Tamanduá Vermelho”. Na outra, quem cerca é o cangaceiro ‘Esperança’, Antônio Ferreira, irmão mais velho de Virgolino, com o restante dos ‘cabras’. Pedro era uma fera e não dava oportunidades aos cangaceiros. Em certo momento, ‘Esperança’ grita para Pedro que se entregue que ele garantia sua vida. Pedro, homem disposto e de palavra, acha que Antônio Ferreira ia cumprir a palavra dele. Mesmo sendo advertido pela esposa, Pedro abre a porta da casa e sai para o terreiro. Logo é cercado pelos cangaceiros. Antônio Ferreira chega por trás de Pedro e o mata friamente pelas costas, acertando sua cabeça. Pedro já estava morto antes que seu corpo se chocasse contra o chão.

Antônio e seus comandados vão juntarem-se a Lampião e os seus, que estavam atacando a outra casa, deixando a viúva desesperada, sentada no batente da porta com o rosto entre as mãos. Ao ter conhecimento, o ‘Rei dos Cangaceiros’ não gosta da atitude do seu irmão mais velho em ter matado daquela maneira, covarde, Pedro Quelé. Clementino refere que morrer brigando, é coisa de homem, mas, a traição não, ele não admitia.

Virgolino Ferreira, Antônio Ferreira, Livino Ferreira e Antônio Rosa. Três irmãos de sangue e um irmão de criação.

“-Lampião matou meu irmão Pedro Furtado na covardia e eu vou matar eles todos! Não vai sobrar um Ferreira! E o cabra que apoiar eu mato também! Pode ser quem for! E se vocês não querem dizer não a Lampião, vão embora para a rua(cidade), pois se acoitar aquele cabra covarde já tão sabendo que vão morrer! (dizia o ‘Tamanduá Vermelho’ aqueles a quem ameaçava)(Ob. Ct.)

Mesmo tendo sido advertidos, ameaçados de morte, alguns não quiseram, ou não puderam seguir as ordens dadas pelo comandante Quelé. Era praxe dos bandos cangaceiros virem, fazerem suas arruaças e sumirem entre as serras e ninguém ter, nem dar, notícias deles por um bom ‘pedaço’ de tempo. Depois de algum tempo escondido, Virgolino resolveu aparecer pras bandas da fazenda Abóboras. Quando por lá estava, Lampião sempre procurava ficar numa determinada gruta denominada ‘coito do Pilé’. Lá estando, mandava recado para alguns dos coiteiros mais próximos, para que os mesmo levassem a comida para o bando.

Dessa feita, foram ordenados da tarefa Joaquim Santana e José Freire, que moravam próximos. Os dois levam a comida para o bando e, ao retornarem, são pegos por Clementino Quelé e seus homens dentro de casa. Clementino manda descer a chibata nos dois coiteiros ali mesmo, dentro do casebre onde moravam. A bisa é à base de cipó de boi.


Após uma surra muito grande, os comandados por Quelé, a mando dele, pegam um deles, José Freire, o arrastam até o meio do terreiro da frente da casa e o matam a golpes de peixeira. O outro, sem ter condições alguma de reação, já imaginava seu fim ser igual ao fim que teve o companheiro. Tendo outros planos para ele, o comandante da volante paraibana o obriga a dizer, depois a leva-lo aonde se encontrava acampado o seu inimigo. Dentre os soldados, um que ia pertinho do prisioneiro, diz baixinho para que ele tente escapar, correndo ladeira abaixo. Achando ser ajudado pelo soldado, Joaquim Santana começa uma carreira desabalada em busca de salvar sua vida. No momento em que a fuga, ou tentativa, do preso, o comandante ordena que se abra fogo contra ele. Muitos disparos foram feitos, porém, o coiteiro continuava na mesma carreira descida abaixo. O próprio Quelé, coloca um dos joelhos no chão, faz mira e abre fogo. No momento em que se escuta o som do tiro da arma de Clementino, verse o sujeito danar-se de bruços no chão.

“(...) Quelé mestre na arte de atirar plantou o joelho no chão, cobriu o cabra na mira do fuzil e disparou! Joaquim Santana deu um salto pra frente e caiu, o tiro havia atingido nas costas e o buraco cabia apenas a ponta de um lápis, mas havia saído entre os dois peitos, na titela, como se diz por aqui, causando um grande estrago. O buraco cabia uma mão(...).” ( Ob. Ct.)

No momento dos disparos, Lampião em cima da serra, percebe o que está se passando. Ordena que seus ‘meninos’ deem vários disparos e 'pica a mula' para outro esconderijo.

Clementino Quelé, quando escuta a saraivada de bala no alto da serra, percebe que aquele não seria o dia de mais enfrentamento entre ele e Lampião. Dá meia volta e segue em direção a casa de onde tinham vindo. Passando no terreiro da casa, puxa da pistola e dá alguns tiros no corpo do pobre José Freire. Hoje, como lembrança, ou recordação daquele dia, daquelas mortes, existe um símbolo de tristeza e morte, uma cruz indicando que ali morrera alguém.

Fonte “A MAIOR BATALHA DE LAMPIÃO – SERRA GRANDE E A INVASÃO A CALUMBI” – LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. (Louro Teles), Paulo Afonso, 2017).

Foto Tokdehistória,com
Ob. Ct.
PS// ISSO E MUITO MAIS VOCÊS VERÃO NAS ENTRELINHAS DO LIVRO CITADO COMO FONTE.

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