"O
Romance de Isaura e João Mimoso ou a Cobra Encantada da Lagoa do Padre
Andrade" é um dos primeiros folhetos de cordel do Maestro Rafael Brito.
Rafael Brito é declamador, músico, ator, artista plástico e agora também revela
sua face poeta, ao escrever, de uma canetada só, dez folhetos de cordel.. A
Cordelaria Flor da Serra ao editar esse folheto, resgata uma das mais criativas
e férteis tendência da poesia popular.
O encantamento é uma das tradições que têm raízes profundas nas narrativas populares, e é, de certa forma uma herança direta da cultura árabe, presente nos contos das Mil e uma noites, como também em tantas outras tradições, como por exemplo, na literatura oral africana e indígena. Esse preâmbulo é tão somente para fundamentar a narrativa de Rafael Brito em A lagoa da cobra encantada do Padre Andrade, ou o romance de Isaura e João Mimoso dentro de um contexto que tem como foco narrativo a tradição milenar dos povos em contar histórias de seres humanos transformados em animais.
Donzelas que viram serpentes é um tema muito presente na tradição das lendas urbanas e para ilustrar esse argumento, cito que nos anos 80 era muito comum se ouvir nas rodas de conversas, argumentos inquestionáveis de populares sobre a existência de um túmulo acorrentado que existia no Cemitério São João Batista e que no qual habitava uma moça que virou cobra, como castigo por desobediência à mãe.. Nesse cordel, Rafael Brito, narrando uma história do seu tempo de menino, resgata essa tradição, colocando na capa uma ilustração de sua autoria.
"O Romance de Isaura e João Mimoso ou a Cobra da Lagoa Encantada do Padre Andrade" será um dos lançamentos da Cordelaria Flor da Serra, às 17 horas do dia 15 de abril na Bienal Internacional do Livro do Ceará. Para conferir a qualidade poética desse folheto, leias estrofes iniciais da obra e para ler o cordel completo, faça seu pedido pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 9.99569091.
As histórias de Trancoso
Contadas no meu sertão
Nem se comparam ao roteiro
Desta minha descrição,
Pois a história que narro
Não é fruto de invenção.
Quem ouviu contar histórias
De monstros assustadores
Vai gostar da narrativa
Que contarei aos leitores,
De uma cobra encantada
Que causou muitos horrores.
Ocorreu há muito tempo
O caso no Padre Andrade,
Um bairro bem conhecido
Do subúrbio da cidade,
Relembrando que esta história
Foi pura realidade.
Existe ali uma lagoa
Cujo nome é bem estranho:
É “Lagoa do Urubu”,
Eu mesmo já tomei banho
Nela, que guarda o mistério
De uma cobra sem tamanho.
Disseram que certa vez
Um trator da prefeitura
Foi limpar a tal lagoa,
Retirando a lama escura,
Pra população banhar-se
De uma forma bem segura.
Então, de repente, a cobra
Enrolou-se no trator
E o puxou para dentro
Junto com seu condutor,
Querendo o imenso ofídio
Degustar logo o sabor.
Mas eu não quero fugir
Do meu roteiro, afinal,
Nem contar terríveis coisas
Desse enorme animal.
Eu quero é tratar do encanto
Desse bicho sem igual.
Isaura era uma moça
Das mais belas da cidade.
Bela com um bem-te-vi,
O seu olhar, de verdade,
Comprava-se à lua,
Tamanha era a claridade.
As moças tinham inveja
Daquela beleza infinda,
Pois entre as moças do bairro
Era, entre todas, mais linda.
Para os rapazes, porém,
Vinha a ser sempre bem vinda.
Então o tiro da inveja
Certo dia lhe acertou,
Pois uma moça do bairro
Um feitiço lhe lançou.
Isaura, sob esse encanto,
Em cobra se transformou.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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