*Rangel Alves
da Costa
Avisto um
menino. Não é um menino qualquer, pois menino do sertão. Por ser menino do
sertão já nascido entre luas e sóis, já pisando em terra seca e tendo perante o
olhar o mandacaru e o xiquexique, o facheiro e a macambira, o velame e o
fedegoso. Mas qual destino está reservado ao menino?
Um menino do
sertão
e uma estrada
de sonho
num caminho de
chão
naquele menino
eu
de lua e sol
no coração
um menino que
partiu
no menino que
ficou
aquele mesmo
menino
que tanto no
mato brincou
e teve por
asfalto destino
Aquele menino
sertanejo canta seu verso na vida. Sem a poesia na escrita, mas com poesia no
seu dia e dia, na sua lide matuta e no seu amor ao rincão. Uma vontade danada
de espantar a seca, de espantar sofrimento e dor, de mandar para bem longe a
pobreza e a miséria que tanto afligem seus irmãos. Mas acaba compreendendo que
ali apenas sertão, uma terra abençoada, porém de angústia e desolação.
Um menino do
sertão
e seu embornal
de esperanças
com menos suor
e mais pão
com mais
flores nas andanças
com menos
espinhos e desolação
um menino e
seu caminho
pela aridez de
seu chão
na terra seu
refúgio e seu ninho
mundo chamado
sertão
mesmo que só
lhe caiba tiquinho
Aquele menino
que um dia brincou de ponta de vaca, correu atrás de calango, jogou pedra em
catingueira, comeu quixaba e araçá, mas que caminhou adiante para reconhecer
outro mundo dentro de seu próprio mundo. E avistou um sertão já sem a pujança
de outros tempos, sem a grandeza da mata nem o bicho em correria, mas apenas
uma terra definhando pelo sol e descamisada pelo próprio homem na sanha de
devastação.
Um menino do
sertão
aquele menino
que chorou
ao reencontrar
o seu chão
como um
braseiro que queimou
e deixou tudo
em clarão
um menino
entristecido
que quis todo
o sertão mudar
trazer de
volta o desaparecido
e tudo poder
transformar
naquele livro
tanto lido
aquele menino
e sua luta
como formiga
em trabalho
no dia a dia a
labuta
de recolher
cada retalho
da memória tão
matuta.
Aquele menino
sou eu e o sertão é o meu. Sou menino sertanejo sem pressa de envelhecer.
Jamais haverá tempo ou idade que afaste do menino o sonho de o sertão não se
perder pelo próprio esquecimento dos seus. Um menino envelhecido, mas ainda com
forças para buscar o passado e colocá-lo no presente como única história de um
só sertão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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