Por Jerdivan Nóbrega Araujo
Seu Saturnino
morava na rua Cel. Jose Avelino, esquina com a Benjamim Constant, local em que
também funcionava a sua oficina. Lembro do seu jardim e lá um velho bugarizeiro
e um Jasmineiro que exalavam um perfume gostoso nos inícios de noite. Desafio
nosso era roubar aqueles bugaris.
Saturnino Santana
Seu Saturnino
era um mestre, tanto mecânico como eletricista, mas também excelente
trombonista.
Ele era desses filhos de Pombal de pavio curto, e que não aceitava que o cliente desse diagnóstico nos aparelhos que levava ao conserto.
- se você sabe
o defeito então conserte. Dizia quando o cliente a adiantava o problema do
carro ou do motor.
Certa vez seu
Aureliano Chaves chegou empurrando o Jeep, encostou-o na porta de seu
Saturnino, chamou o mestre e adiantou:
- Seu
Saturnino, tentei ligar e não pegou. Acho que e sujeira: dê uma jeito que eu
vou ali na Câmara e volto em um minuto.
Seu Saturnino
ouviu a recomendação em silêncio. Logo que seu Aureliano se afastou, ele nos
chamou deu um balde de água, mandando que lavássemos o jeep.
Quando seu
Aureliano voltou da Câmara, perguntou se o jeep estava em ordem. Ele respondeu:
- Ta limpo!
- Quanto devo?
Perguntou.
- Dê um
trocado aos meninos que lavaram.
Assim ele fez.
Só que ao
ligar, o jeep não pegou. Seu Aureliano chamou seu Saturnino e reclamou que o
problema insistia.
A reposta de
seu Saturnino foi à seguinte:
- Bom, o carro
foi lavado. Então pelo visto não era só sujeira. Talvez o problema seja mesmo
mecânico.
Segundo
Ignácio Tavares, de quem era amigo, Saturnino “foi um músico completo. Lia e
tocava com uma habilidade impressionante. Era abusado no exercício de suas
atividades. Certa vez a banda marchava em direção a Igreja Matriz, capitaneada
por Frederico Roque e de repente, em plena caminhada, Saturnino agacha-se e
apanha alguma coisa que estava no chão. Provocou um descontrole na marcha, mas
lá pra frente tudo se normalizou.
Ao chegar ao
pátio da Igreja, Frederico dirigiu-se a Saturnino e lhe aplicou uma reprimenda
diante dos amigos.
Saturnino
irritou-se, ameaçou ir embora pra casa. Frederico então, perguntou:
- Finalmente, o
que foi que você apanhou no chão?
Saturnino tira
do bolso um parafuso velho, enferrujado e mostra pra Frederico.
Novamente
outra repreensão:
- Como é que
pode, você quase parou toda banda por conta de um parafuso velho!
Saturnino
respondeu:
- Tá vendo
aqui esse parafuso velho? Acrescentou: - vale muito mais do que certos maestros
que eu conheço, inclusive você!.
O riso foi geral.
Este foi o
Mestre Saturnino, protagonista de muitas estórias, eivadas de lampejos de
irreverências, aparentemente maliciosas, porém inteligentes, sem nenhum toque
de maldade. Foi mecânico, eletricista e renomado músico de bandas, como poderia
ser também de orquestra de câmara, sinfônica, até mesmo conjuntos regionais ao
estilo dos anos quarenta.
Foi sem dúvida
um grande Mestre perdido nas quebradas do Sertão Paraibano.
Para Otacílio
Trajano.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araujo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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