*) José Romero Araújo Cardoso
A vingança de
Lampião contra o “Coronel” Zé Pereira – Entrevistas com Hermosa Góes Sitônio
(João Pessoa – PB) e Zacarias Sitônio (João Pessoa – PB)
O mais
comentado combate entre cangaceiros comandados por Lampião e soldados sob as
ordens do Major pernambucano Teófanes Ferraz Torres, famoso por ter capturado
Antônio Silvino em 1914, ocorreu no ano de 1923, entre os municípios de
Conceição do Piancó (PB) e São José do Belmonte (PE), na serra das panelas.
Essa feroz
prova de fogo ficou famosa por que àquele que se tornava o “rei dos
cangaceiros” foi ferido no tornozelo, além de perder importantes membros do
bando, como Lavandeira e Cícero Costa, o farmacêutico do grupo.
Zacarias
Sitônio e Hermosa Góes Sitônio rememoraram àqueles acontecimentos, narrando que
Lampião ficou abandonado durante doze dias, no mato, agonizando. Quando o
descobriram, o seu estado era desesperador, coberto de parasitas e com o pé
preso à perna apenas por tendões.
A guarda
pessoal de Marcolino Pereira Diniz o escoltou até os Patos de Irerê, localizado
a 18 quilômetros de Princesa, reduto do poderoso “Coronel” José Pereira.
Marcolino, imortalizado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira em famoso baião
intitulado “Xanduzinha”, era sobrinho e cunhado do “Coronel” Zé Pereira, chefe
político princesense de grande expressão na década de vinte do século passado.
Na malha
impecavelmente protomafiosa montada por Lampião, Marcolino e o seu pai, o
“Coronel” Marçal Florentino Diniz, compunham importantes agentes a serviço da
proteção ao cangaço. Foram eles os principais responsáveis pela continuidade da
carreira de bandido de Lampião. Convocaram médicos e serviçais para tratar do
calcanhar que fora seriamente afetado, atingido no tiroteio da serra das
panelas.
Em Nazarezinho
(PB), outra questão da família Pereira era reclamada por um sertanejo de nome
Francisco Pereira Dantas. Na ênfase ao rosário de ódio que começou a ser tecido
quando da morte do patriarca deste ramo familiar espalhado pelo nordeste, houve
convite de um pequeno comerciante desta localidade, de nome Chico Lopes, para
raid dos bandoleiros à cidade de Sousa (PB), saqueada em 27 de julho de 1924.
Foram comandantes do assalto os irmãos de Lampião, Antônio e Levino, Chico
Pereira, Chico Lopes, Sabino Gório e um cangaceiro de nome Paizinho,
responsável pela ação violenta de domínio da residência do magistrado local,
Dr. Archimedes Souto Maior.
A rede de
informantes de Lampião era precisa. Conforme Zacarias Sitônio e Hermosa Góes
Sitônio, o chefe cangaceiro entrou em profunda angústia quando as notícias
sobre a violência do ataque lhes chegaram. O bando havia se excedido em Sousa,
responsabilizando-se pelas mais vexatórias e vergonhosas ofensas ao
representante máximo da lei na cidade.
Astuto e
sagaz, Virgulino sabia que sua estadia pacata e tranquila na região de Princesa
estava definitivamente inviabilizada. Zé Pereira iria tomar providências
drásticas no sentido de efetivar perseguição ao seu grupo. Era dever
incontestável e indiscutível do político princesense levar avante campanha
perseguitória ao cangaço sob o domínio de Lampião. E assim o fez.
Foi instalado
Batalhão da Polícia Militar na cidade de Patos das Espinharas (PB). Os combates
entre cangaceiros e volantes se intensificaram de forma impressionante,
resultando na tragédia de Serrote Preto, na região de Água Branca (AL).
Atraídos para uma armadilha, muitos soldados e oficiais paraibanos foram
eliminados, diversos de maneira cruel.
Em seguida,
continuando a haver refregas entre os dois lados, houve o assassinato de Levino
Ferreira, primeiro irmão do “rei do cangaço” a perecer em luta. O confronto se
deu, conforme os entrevistados, no ano de 1925 em uma localidade conhecida por
Tenório, localizada na região de Flores do Pajeú (PE). Lampião culpou Zé
Pereira pela perda do parente, jurando vingança.
O cangaceiro
passou a atacar o gado pertencente ao “Coronel” Zé Pereira, bem como aos que
pertenciam aos seus agregados e familiares. Iniciava-se a vingança implacável e
perversa de Lampião.
As ações mais
violentas foram registradas em dois lugarejos perdidos nas quebradas daquele
sertão. Em propriedades conhecidas por “Caboré” e “Lagoa do Serrote”, os
bandoleiros assassinaram diversas pessoas, incluindo entre estas um ancião que
contava com mais de noventa anos e uma criança de apenas doze anos.
Amaldiçoando o solo paraibano pela perda do parente, Lampião deslocou sua área de atuação par o seu estado natal, onde a malha de coiteiros lhe serviu satisfatoriamente, articulada com o esquema criminosos estruturado em conluio com a rede de proteção ao banditismo rural que vicejava no sul do Ceará.
Entrevistas
Pessoais:
SITÔNIO,
Hermosa Góes. João Pessoa (PB), 10 de agosto de 1991.
SITÔNIO, Zacarias. João Pessoa (PB), 10 de agosto de 1991.
SITÔNIO, Zacarias. João Pessoa (PB), 10 de agosto de 1991.
(*) José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor da UERN.
http://www.estadopb.com/s/noticias/13761/
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