*Rangel Alves da Costa
Não adianta chorar. Não adianta sofrer. O destino não é de ninguém, apenas do destino. Errôneo é imaginar que tudo acontece segundo o desejo próprio. No outro lado está o outro e o próprio destino.
Sim, o fato aconteceu, a tristeza veio, o chão parece que vai desabar. Fingir não adianta. O que se esconde é apenas a verdade. Não há outra coisa a fazer senão enfrentar a realidade. Ainda que lanhando a pele ou apunhalando o peito.
Há que se ter em mente as palavras do Eclesiastes: É ilusão, é ilusão. Tudo é ilusão. Pessoas nascem e pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar.
E principalmente ensina: Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de construir. Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar; tempo de chorar e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de afastar. Há tempo de procurar e tempo de perder; tempo de economizar e tempo de desperdiçar; tempo de rasgar e tempo de remendar; tempo de ficar calado e tempo de falar. Há tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz.
Então, alguma lição extraída do Eclesiastes? Repito: Não adianta chorar. Não adianta sofrer. O destino não é de ninguém, apenas do destino. Errôneo é imaginar que tudo acontece segundo o desejo próprio. No outro lado está o outro e o próprio destino.
Drummond, nosso poeta maior, também já dizia no seu poema Consolo na Praia: Vamos, não chores... A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua. Perdeste o melhor amigo. Não tentaste qualquer viagem. Não possuis casa, navio, terra. Mas tens um cão. Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o 'humour'? A injustiça não se resolve à sombra do mundo errado. Murmuraste um protesto tímido. Mas virão outros. Tudo somado, devias precipitar-te, de vez, nas águas. Estás nu na areia, no vento... Dorme, meu filho.
E assim por que tudo passa. Não há dor que perdure eternamente, não há sofrimento que persista além do tempo próprio de sofrer. O ser humano possui limites e o ponto de alcance de tal limite sempre está na própria consciência humana. Então, por que continuar sofrendo, padecendo, se a porta pede para ser aberta e lá fora há um mundo a ser vivido?
É preciso fazer da dor, da angústia, do sofrimento, da aflição e do desamor, uma página virada. Tudo nela já foi escrito, tudo nela já confirmou aquilo que não se desejaria. Continuar nesta página é reler e reescrever tudo aquilo que não se deseja mais. É preciso encontrar página nova, é preciso escrever um canto novo, é preciso ir além de toda ilusão perdida.
Os lenços molhados encharcam as esperanças. Os olhos tristes não permitem sorrisos aos horizontes. As portas fechadas e os quartos escurecidos pedem luz, uma luz que nem sempre a própria pessoa permite entrar. É preciso estender os lenços nos varais. Logo a ventania cuidará de dar vida nova ao que tanto escorreu na dor. E os caminhos estão abertos aos passos que não mais desejam ficar.
Os amores vêm e os amores vão quando já não são mais amores. O coração não merece ser forçado a aceitar aquilo que não existe mais. Outros amores chegarão e outros amores ficarão se forem cumpridas as promessas de amar. Um dia assim acontecerá. Então rasgue essa página, vire a página, escreva na realidade da vida a sua nova história.
Escritor
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