Material do acervo do pesquisador José João Souza
O trem vinha
de Rio Branco (hoje, Arcoverde). Dentro dele, entre os passageiros com destino
ao Recife, um morador do Sítio Catimbau, nos arredores de Buíque. Localizado
pelo repórter do Diário de Pernambuco no do vagão de segunda classe, ele teve a
sua triste história estampada no jornal no dia 26 de maio de 1936. Aos 22 anos
de idade, vestindo camisola branca e calças de brim comum, o sertanejo sangrava
nas partes baixas e vinha buscar socorro médico na capital depois de ter sido
vítima do bando de Lampião.
Solteiro,
noivo, dono de uma pequena propriedade rural, ele acabou emasculado como
represália a um possível informante da polícia. A malvadeza foi praticada por
Virgínio, cunhado de Virgulino, que usou um trinchete – faca grande e muito
afiada com cabo de madeira – para castrar o coitado. O relato, feito de forma
entrecortada pelos espasmos, é um raro registro em primeira pessoa de uma das
mais bárbaras punições realizadas pelos bandoleiros das caatingas.
O Diario havia
voltado a dar destaque às ações do bando de Lampião em Pernambuco. Para colher
o depoimento do castrado, o repórter do jornal embarcou no trem em Vitória de
Santo Antão. A medida tinha uma ordem prática. Como estava perdendo muito
sangue, era possível que a vítima não chegasse com vida ao Recife. O sertanejo
estava prostrado em um banco no fim do vagão. O mau cheiro já indicava quem era
o desgraçado pelos cangaceiros entre todos os passageiros.
Dentro do
trem, depois de ouvir “pilhéria” do condutor por estar em um vagão de classe
menor, o repórter do Diario coletou outros depoimentos sobre as ações de
Lampião. São histórias de mortes por tiro e sangramento, ameaças, roubos e
sequestros. O bando comandado por Virginio era composto por sete homens e duas
mulheres, uma das quais Maria Bonita, que trajava calça culote, com dois
parabelluns – apelido da Pistola Luger P08 – à cinta e cartucheira.
Quanto ao
emasculado, a reportagem encerra informando que ele foi internado no
pronto-socorro e apresentava “algumas melhoras”. Uma testemunha viva do
cangaço. Acima, o texto na íntegra.
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