*Rangel Alves da Costa
Inegavelmente que o Brasil passa por momentos de surpresas e espantos, pasmos e sobressaltos, de sobressaltos e assombros. Indiscutivelmente que o país ainda não compreendeu totalmente o que vem ocorrendo nos últimos dias.
Como diz o ditado, a ficha parece ainda não ter caído. Será que vivemos instantes de realismo fantástico, de acontecimentos jamais imaginados agora acontecendo, de situações tão espantosas quanto estarrecedoras que chegam a desandar consciências?
Tudo por causa dos últimos episódios envolvendo Lula. Não só Lula como tudo o que há atrás, ao lado e por cima de Lula: o ex-presidente, o líder maior do PT, a liderança incontestável perante grande parte do eleitorado, o líder nas pesquisas na corrida presidencial. E agora preso.
Sim. Lula preso. Certamente alguém diria que isso não é verdade, que impossível disso acontecer, que jamais um ex-presidente seria levado à cadeia. É realmente de não se acreditar. O pai dos pobres, o que era tido e venerado como o maior dos presidentes, e de repente simplesmente encarcerado.
Mesmo depois da condenação em primeiro grau e da confirmação da sentença em segundo grau, bem como dos habeas corpus seguidamente rejeitados, bem como da ordem de prisão decretada, dificilmente se acreditaria que Lula fosse realmente preso.
Como acreditar que Lula pudesse algum dia ser preso se ele mesmo já havia dito ser o mais justo dos homens, um verdadeiro santificado, aquele cuja honradez não merecia qualquer reparo? Como acreditar que poderia ser preso aquele que já se comparou aos santos em suas virtudes?
Não, Lula jamais poderia ser preso. Talvez seja um sonho ao avesso, um pesadelo medonho, algum impossível de se acreditar. Logo Lula, a o inatacável, preso? Mentira, deslavada mentira, só pode ser. Impossível alguém pensar em prender a santidade em pessoa. Alguma mentira deve existir nessa verdade que se apresenta agora. Mas qual?
Nenhuma mentira. Tudo verdade. Lula agora está preso e bem preso, encarcerado e bem encarcerado, trancafiado e bem trancafiado. Escondeu-se, refugiou-se em sindicato, tudo fez para não ser conduzido, mas acabou tendo de se entregar. Ou se entregava ou seria levado como um meliante comum, talvez em algemado em cima de uma caminhonete policial ou nos escuros de um camburão.
Não adiantou zombar da justiça. Não adiantou tripudiar da ordem legal. Não adiantou querer dar uma de esperto perante o decreto prisional em seu desfavor. Chamou partidários para defendê-lo, repetiu mil vezes os argumentos já repetidos milhões de vezes, vitimou-se o quanto pôde, mas não pôde fazer mais nada. O tempo passa e a ordem de prisão era para ser cumprida. E foi.
Sem acreditar no que estava ocorrendo, os partidários e fanáticos, ao invés de darem adeus ao seu santo líder, ficaram repetindo ao vento: Foi golpe contra um inocente! Foi a mais injusta das injustiças já cometida contra a honradez em pessoa! Condenado sem provas! Réu sem crime! Prisão para um santo, como podem prender um santo?
Seja como for, a verdade é que a partir de hoje, com a efetiva prisão do ex-presidente, o Brasil vai tomar outro rumo. Corrupções continuarão na política e nos governos, mas não com o festim de outrora. Improbidades continuarão, mas não de modo tão vergonhoso como até agora se tem na maioria das administrações.
O que realmente espanta é o fato da prisão ter realmente acontecido. Ninguém esperava. Mas aconteceu. E será desse espanto que surgirá a crença que ainda resta uma luz no fim do túnel desse tão aviltado e achincalhado Brasil.
Escritor
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