*Rangel Alves da Costa
Não há nada melhor que amar. O amor romântico, entre dois, é algo verdadeiramente insuperável. O amor é tudo, como acertadamente disse o poeta.
Não há nada mais doce e singelo que amar. O amor sentimento, tão sentimental como namoro de infância e tão inesquecível quanto o primeiro beijo.
Daquele amor que faz subir à nuvem, que faz estremecer, que rubra e avermelha, que esquenta sem calor, que transborda sem estar cheio. Um amor assim tão belo.
O amor verdadeiramente amado se torna algo como uma brincadeira boa. Ora, brincar de amar é tornar o amor um lúdico, uma graça, um sorriso ao coração. E tão essencial.
Desse modo, brincar de amar também não é ruim assim. Muita gente brinca e muito mais do que imagina nossa vão filosofia amorosa. Agora mesmo alguém este brincando de amar.
Mas o que seria, realmente, brincar de amar? Sua compreensão está no próprio contexto do que seja brincadeira. Sua definição partirá deste contexto.
Segundo os dicionários, brincadeira é o ato de brincar. Brincadeira é jogo, é diversão, é passatempo, é recreação. Brincadeira é agir ludicamente, a partir de situações que causem prazer pelo divertimento.
Brincar, pois, é divertir, é entreter, é distrair. Significa ainda dizer que não há seriedade na brincadeira, pois é a diversão que move sua prática. E com relação ao amor, como seria então?
No amor, brincar de amar é cativar o instante como se não houvesse lugar para tristezas ou sofrimentos. É tornar a relação tão prazerosa como se duas crianças estivessem se caçando pelos escondidos do coração.
Brincar de amar é afastar a sisudez para buscar a feição do contentamento. Deitar sobre a relva, correr pelos campos, de mãos dadas desafiando os caminhos mais inusitados.
Brincar de amar é soprar beijo na palma da mão, é piscar o olho perante o outro amado, é jogar bilhetinhos pela janela, é chegar correndo debaixo da chuva com flor à mão.
Ah, brincar assim é muito bom. Tão bom que faz a gente querer ficar sempre nessa brincadeira. Brincar de amar assim é tão bom que a meninice nos chega mesmo na velhice.
Mas brincar assim e somente assim, sem fazer da brincadeira um brinquedo de ferir o outro, de amargurar o outro, de afligir o outro, de tornar a relação em sofrimento e dor.
Jamais fazer do amor uma brincadeira de usar o outro. Dizer que ama e fazer sofrer é não sentir amor. Dizer que ama e zombar do amor do outro é não respeitar. Dizer que ama e apenas se aproveitar é apenas covardia.
Jamais tornar o amor um brinquedo sórdido e desprezível. Dizer que ama e viver traindo, dizer que quer e ter além do que já se tem, dizer que é de alguém e depois se dividir em tantos.
Amor tem por bases a confiança e o compromisso. Ou se ama de verdade ou se nega a si mesmo. E como ninguém quer ser tratado como um brinquedo vil, que não faça do outro uma reles brincadeira.
Eis a diferença entre amar como brincadeira e tornar o amor uma brincadeira. O amor como brincadeira é o prazer fruído a dois. Já o amor tornado uma brincadeira é jogo sujo feito por apenas um. Ou até mesmo os dois.
Escritor
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