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sexta-feira, 4 de maio de 2018

LEMBRANÇAS DE RAIMUNDO SOARES DE BRITO

Por Geraldo Maia do Nascimento

Camões, no Canto III dos “Lusíadas” tem um verso onde diz: “Não me mandas contar estranha história, mas mandas-me louvar dos meus a glória”.  Faço minha as palavras do poeta, para louvar um pesquisador mossoroense. Um homem que dedicou a sua vida ao estudo da história da região. E que por sua dedicação, foi considerado por todos como o “Guardião da Cultura Mossoroense”. No último dia 23 de abril, o pesquisador Raimundo Soares de Brito, o nosso “Raibrito”, se vivo fosse, completaria 98 anos de idade. Nascido em Caraúbas, a 23 de abril de 1920, veio para Mossoró em 1940, ainda jovem, e permanece até quase o fim dos seus dias. Segundo Raibrito, o seu interesse para a pesquisa histórica começou quando foi fazer o treinamento para a admissão como Agente de Estatística, em Natal, no ano de 1941/42, e teve que preencher dados sobre a história sócio-econômica de sua terra natal. Aquilo o levou a iniciar as suas anotações para o futuro. Essas anotações viriam a se tornar, mas tarde, no livro “Caraúbas Centenária”, em 1959. Um pesquisador incansável, que sem qualquer ajuda de governo, instituições ou pessoas organizou um arquivo fabuloso com mais de quinze mil biografias de tantos quantos têm ou tiveram alguma influência em Mossoró e região. Sua dedicação a pesquisa foi tanta, que nem mesmo um acidente vascular cerebral foi capaz de tirar o seu entusiasmo.  Enquanto a saúde permitiu, mantém a rotina de acordar cedo e ler os jornais, de onde tirava o material que alimenta o seu monumental acervo.  Mossoró inteira, estudantes, jornalistas e pesquisadores, recorriam diariamente a sua casa, a casa de número 23 da rua Henry Koster, em busca de informações. Raimundo Brito, o intelectual, foi um homem simples que se orgulhava de poder ajudar a todos que o procuravam. Como pesquisador e historiador publicou mais de quarenta títulos pela Coleção Mossoroense, sobre temas de versam principalmente sobre Mossoró e o Oeste Potiguar. Como disse certa vez o saudoso mestre Vingt-um Rosado, "Os seus livros e as suas plaquetes permanecerão, através do tempo, como uma contribuição extraordinárias ao conhecimento da gente e da terra do oeste potiguar". A sua dedicação pela história de Mossoró lhe rendeu frutos nos últimos anos de vida. Foi destacado em 1995 com o título de “Doutor Honoris Causa” da então Universidade Regional do Rio Grande do Norte e em 1997 agraciado com o diploma “Amigo da Cultura”.  Raibrito, um autodidata, foi presidente da Academia de Letras de Mossoró (AMOL), sócio fundador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) e sócio efetivo do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP). 


Raimundo Brito foi um homem de memória privilegiada. Testemunha ocular da nossa história viu e vivenciou os homens e fatos que fizeram parte da história potiguar. Uma conversa informal com Raibrito, se constituía numa verdadeira aula de conhecimentos gerais, principalmente no que dizia respeito a região de Mossoró. Um pesquisador incansável, capaz de estudar um mesmo assunto por quase quarenta anos, como foi o caso do livro que escreveu sobre os patronos das ruas de Mossoró.  Num dos seus últimos trabalhos publicados, intitulado “Eu, Ego e os outros, Raibrito traçou uma espécie de auto-biografia através dos tipos populares que foi encontrando ao longo da vida, em cada cidade onde morou. Esse trabalho foi publicado graças a um patrocínio da Petrobras e eu tive a honra de escrever uma das orelhas do livro, em nome do Instituto Cultural do Oeste Potiguar. Raimundo Soares de Brito faleceu em Natal, em 27 de novembro de 2012, no Hospital da Unimed, aos 92 anos de idade, de falência múltiplas de órgãos. Morreu não; encantou-se, pois os escritores não morrem. É na obra que deixou como legado que Raibrito vive, pois esse é o segredo da imortalidade: ressurgir sempre que um livro seu é aberto, que uma frase sua é repetida e que um gesto seu é lembrado. E eu, estreante nas pesquisas históricas da cidade de Mossoró, com todo respeito que ele merece, atrevo-me a pedir: " Mestre, dai-me a tua bênção, para que eu tenha forças para seguir os teus passos, trilhar os teus caminhos e colher os frutos da seara que tu plantaste.

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