Por Geraldo Maia do Nascimento
Camões, no
Canto III dos “Lusíadas” tem um verso onde diz: “Não me mandas contar estranha
história, mas mandas-me louvar dos meus a glória”. Faço minha as palavras
do poeta, para louvar um pesquisador mossoroense. Um homem que dedicou a sua
vida ao estudo da história da região. E que por sua dedicação, foi considerado
por todos como o “Guardião da Cultura Mossoroense”. No último dia 23 de abril,
o pesquisador Raimundo Soares de Brito, o nosso “Raibrito”, se vivo fosse,
completaria 98 anos de idade. Nascido em Caraúbas, a 23 de abril de 1920, veio
para Mossoró em 1940, ainda jovem, e permanece até quase o fim dos seus dias.
Segundo Raibrito, o seu interesse para a pesquisa histórica começou quando foi
fazer o treinamento para a admissão como Agente de Estatística, em Natal, no
ano de 1941/42, e teve que preencher dados sobre a história sócio-econômica de
sua terra natal. Aquilo o levou a iniciar as suas anotações para o futuro.
Essas anotações viriam a se tornar, mas tarde, no livro “Caraúbas Centenária”,
em 1959. Um pesquisador incansável, que sem qualquer ajuda de governo,
instituições ou pessoas organizou um arquivo fabuloso com mais de quinze mil
biografias de tantos quantos têm ou tiveram alguma influência em Mossoró e
região. Sua dedicação a pesquisa foi tanta, que nem mesmo um acidente vascular
cerebral foi capaz de tirar o seu entusiasmo. Enquanto a saúde permitiu,
mantém a rotina de acordar cedo e ler os jornais, de onde tirava o material que
alimenta o seu monumental acervo. Mossoró inteira, estudantes,
jornalistas e pesquisadores, recorriam diariamente a sua casa, a casa de número
23 da rua Henry Koster, em busca de informações. Raimundo Brito, o intelectual,
foi um homem simples que se orgulhava de poder ajudar a todos que o procuravam.
Como pesquisador e historiador publicou mais de quarenta títulos pela Coleção
Mossoroense, sobre temas de versam principalmente sobre Mossoró e o Oeste
Potiguar. Como disse certa vez o saudoso mestre Vingt-um Rosado, "Os seus
livros e as suas plaquetes permanecerão, através do tempo, como uma
contribuição extraordinárias ao conhecimento da gente e da terra do oeste
potiguar". A sua dedicação pela história de Mossoró lhe rendeu frutos nos
últimos anos de vida. Foi destacado em 1995 com o título de “Doutor Honoris
Causa” da então Universidade Regional do Rio Grande do Norte e em 1997
agraciado com o diploma “Amigo da Cultura”. Raibrito, um autodidata, foi
presidente da Academia de Letras de Mossoró (AMOL), sócio fundador da Sociedade
Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), sócio efetivo do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) e sócio efetivo do Instituto Cultural
do Oeste Potiguar (ICOP).
Raimundo Brito foi um homem de memória privilegiada.
Testemunha ocular da nossa história viu e vivenciou os homens e fatos que
fizeram parte da história potiguar. Uma conversa informal com Raibrito, se
constituía numa verdadeira aula de conhecimentos gerais, principalmente no que
dizia respeito a região de Mossoró. Um pesquisador incansável, capaz de estudar
um mesmo assunto por quase quarenta anos, como foi o caso do livro que escreveu
sobre os patronos das ruas de Mossoró. Num dos seus últimos trabalhos
publicados, intitulado “Eu, Ego e os outros, Raibrito traçou uma espécie de
auto-biografia através dos tipos populares que foi encontrando ao longo da
vida, em cada cidade onde morou. Esse trabalho foi publicado graças a um
patrocínio da Petrobras e eu tive a honra de escrever uma das orelhas do livro,
em nome do Instituto Cultural do Oeste Potiguar. Raimundo Soares de Brito
faleceu em Natal, em 27 de novembro de 2012, no Hospital da Unimed, aos 92 anos
de idade, de falência múltiplas de órgãos. Morreu não; encantou-se, pois os
escritores não morrem. É na obra que deixou como legado que Raibrito vive, pois
esse é o segredo da imortalidade: ressurgir sempre que um livro seu é aberto,
que uma frase sua é repetida e que um gesto seu é lembrado. E eu, estreante nas
pesquisas históricas da cidade de Mossoró, com todo respeito que ele merece,
atrevo-me a pedir: " Mestre, dai-me a tua bênção, para que eu tenha forças
para seguir os teus passos, trilhar os teus caminhos e colher os frutos da
seara que tu plantaste.
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