Por Rangel Alves da Costa
Uma verdadeira lenda rural (e não urbana, logicamente) vem se
espalhando nos últimos dias no município vizinho de Porto da Folha. Relatos dão
conta que um “bichão” vem atacando e assombrando pessoas nas terras
buraqueiras. Tendo cuidado com os exageros, prefiro acreditar nas palavras do
sertanejo, no homem da roça. O primeiro relato surgido dava conta de um ser
monstruoso, meio humano e meio bicho, de porte alto, “fedorento que só o raio
da silibrina”, que de repente surgiu para atacar um homem que seguia, já na
noite, por uma estrada de chão em direção à sua residência.
O bicho apareceu e
não houve jeito de espantá-lo através da foice que o trabalhador carregava. O
monstruoso somente correu quando um automóvel apareceu ao longe e iluminou
naquela direção. Amedrontado, esbaforido, cansado da luta para se defender, mal
o homem alcançou lugar para se proteger e o “bichão” apareceu novamente. Nova
luta inglória, pois o bicho raivoso e fedorento atacava ainda com mais fúria,
até que o farol de uma motocicleta novamente salvou o sertanejo. Como visto, o
“bichão” só tem medo de luz, de iluminação, de farol, bem próprio das coisas da
escuridão. Com o novo sumiço, o homem juntou as forças que tinha e correu em
disparada, aos gritos e berros, até chegar à residência de um conhecido, logo
adiante. Chegou aos prantos, tremendo feito vara verde, sem poder sequer falar
sobre a sua lastimosa situação. Dizem que até hoje o homem não se recuperou do
apavorante encontro com o “bichão”. E agora surgem informações sobre o
aparecimento de outro ser assombroso, todo enegrecido, com ponta na testa e
outras aberrações, também imenso e malcheiroso. Dessa vez o encontro se deu por
uma mãe e sua filhinha. E novamente foram salvas por um farol de veículo. Mas
nos exageros do povo, ou no poder de invencionice popular, já se dá conta de
outros aparecimentos do “bichão”. Um desses relatos diz que o ser monstruoso
tudo faz para passar entre as pernas da pessoa que está sendo atacada, pois
assim a vítima também será possuída pelas forças do mal. Como disse, exageros e
mentiras à parte, não se pode desacreditar totalmente em tais aparições
aterrorizantes. O mundo está revirado e onde quase já não há lugar para o bem,
logo o mal começa a atacar. De todo jeito, é melhor ter cuidado com a noite,
com as estradas e seus labirintos. É preciso ter cuidado também com o homem,
pois o lado “meio homem” do bicho pode ser qualquer um que continuamente
carregue o mal no coração. Contudo, muito ainda virá por aí e essas histórias todas
redundarão em verdades que ninguém - mas ninguém mesmo - vai querer acreditar.
Quem viver verá!
Rangel Alves
da Costa
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