Por Guilherme Machado
Esta fotografia foi tirada em 1989 meses depois da morte do rei do Baião Luiz Gonzaga.
Um raro registro das minhas passagens pelo Araripe em Exu
Pernambuco. Na fazenda
dos Alencar onde o pai de Luiz Gonzaga morou como arrendador.
Luiz Gonzaga com
o pai seu Januário, e os irmãos, Maria Ifigênia e Aloísio.
O caboclo ao meu
lado (acima) é o velho João Praxedes vaqueiro de Luiz Gonzaga! Foi o velho Praxedes que
ajudou Luiz Gonzaga a fugir para o Crato CE., depois de levar uma surra da dona
Santana sua mãe.
Luiz tinha jurado um fazendeiro de morte... Eu fiquei
arrepiado com os causos contado a mim pelo velho vaqueiro Praxedes.
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POR DJ IVAN
*Texto enviado
pelo Léo Rugero
A sanfona de
oito baixos é um dos instrumentos matriciais do forró, sendo o instrumento que
marca a infância de Luiz Gonzaga e a fundamentação do estilo da sanfona
nordestina.
De acordo com o musicólogo paraibano Batista Siqueira, a sanfona de oito baixos teria substituído a viola de arame, se tornando o principal instrumento solista nos bailes rurais da região Nordeste na virada do Séc.XX.
Nesta região, este pequeno acordeon de origem vienense, composto por vinte e um botões para a mão direita e oito botões para a mão esquerda, seria mais conhecido como “harmônica de oito baixos”, “fole de oito baixos”, “pé de bode”, “concertina” ou, simplesmente, “ fole”.
De acordo com
Luiz Gonzaga, seu pai, Januário, “tinha duas habilidades, pegava no bacamarte e
tocava sanfona, para divertir a cabroeira nos dias de sábado e domingo”.
Conseqüentemente, também foi o primeiro instrumento do rei do baião. Em 1920,
quando contava com apenas oito anos de idade, Gonzaga adquiriu sua primeira
sanfona, um fole de oito baixos da marca alemã Koch. Portanto, embora este
instrumento tenha se difundido por toda a região Nordeste, foi mais
precisamente na Fazenda Caiçara, no sopé da Serra do Araripe, em Pernambuco,
que o fole de oito baixos entraria definitivamente para a história da música
nordestina.
O velho
Januário, não era apenas um afamado sanfoneiro, também sendo reconhecido como
um requisitado afinador de sanfonas. Então, durante sua infância e
adolescência, o menino Gonzaga cresceu entre os pequenos foles de oito baixos e
seus intrincados sistemas de botões. Luiz Gonzaga descreve em suas memórias que
se “aproveitava das velhas harmônicas” que seu pai consertava, e, aos poucos,
já era capaz de tocar “qualquer marca, qualquer tipo, fosse simples, si bemol
ou semitonada”.
Naquela época,
no Nordeste, ainda não haviam se difundido os modernos acordeões com teclados
de piano para a mão direita e 120 baixos para a mão esquerda, que se tornariam
o instrumento principal do forró pé de serra, sobretudo a partir da consagração
fonográfica e radiofônica de Luiz Gonzaga, anos mais tarde, no final da década
de 1940.
“Si bemol” ou “transportada” é a designação popular para a afinação específica que se consagraria como a maneira nordestina de afinar as sanfonas de oito baixos. Até hoje, a origem deste sistema é algo que se perde na noite dos tempos. Examinando sanfonas remanescentes da época de Januário, foi possível constatar que esta afinação já estava presente na região Nordeste ainda nas primeiras décadas do séc. XX, como atesta a história oral relatada por Luiz Gonzaga.
O repertório
tradicional da sanfona de oito baixos da região Nordeste se constituiria
basicamente de música predominantemente instrumental relacionada às danças
praticadas nos bailes rurais nos albores do séc.XX. Parte considerável destas danças
eram de origem européia, tal como a scottish – que se transformaria em xote, e
a quadrilha – que se tornaria o arrasta-pé. Porém, também surgiriam danças de
possível origem autóctone, como o xaxado e o baião – este último, presenciado
por Euclides da Cunha em seu relato sobre a Guerra de Canudos, no final do
séc.XIX. O poeta e jornalista Bráulio Tavares reforça esta perspectiva,
ressaltando que os “forrós sertanejos eram animados quase sempre por música
instrumental.(…) Além dos temas instrumentais, também surgia um grande número
de canções folclóricas, que estavam na memória de todos, e eram cantadas em
conjunto”.
Para muitos, o
repertório de sanfona de oito baixos corresponde ao que há de mais antigo e
tradicional no baile nordestino. Provavelmente, esta crença reforça a impressão
de que a sanfona de oito baixos esteja constantemente associada ao passado
rural e arcaico, ainda que se considere que tenha substituído instrumentos
predecessores como a viola, o pife e a rabeca.
Em 2012, por
intermédio do Prêmio Centenário de Luiz Gonzaga da FUNARTE, pude realizar um
sonho, que foi a filmagem de um documentário de media metragem sobre a sanfona
de oito baixos na região Nordeste. A ideia deste filme era refazer o percurso
de minha pesquisa de campo que havia permeado a dissertação de mestrado
intitulada “Com Respeito aos Oito Baixos”, realizada na Escola de Música da
UFRJ, entre 2009 e 2011.
Através do
incentivo da FUNARTE, pude, ao lado de dois cinegrafistas – Débora Setenta e
Marcílio Costa, um assistente de câmera – André Fontes e um motorista –
Silvério Candido, retornar à Paraíba, Ceará e Pernambuco, em alguns dos
principais cenários por onde a sanfona de oito baixos continua a ser tocada e
reinventada, através das mãos de hábeis tocadores. No filme, se destacam as
participações de Joquinha Gonzaga, representando a dinastia da família Gonzaga;
de Nego do Mestre, sábio conhecer do passado musical da região Nordeste; de Zé
Calixto, Luizinho Calixto, Geraldo Correia e Arulindo dos Oito Baixos,
importantes sanfoneiros reconhecidos por suas atividades profissionais como
grandes solistas deste difícil instrumento; de jovens tocadores como Antonio da
Mutuca e Ivison Santos, prova viva de que o “roncado” dos oito baixos ainda
ressoam forte no solo nordestino.
Para mim, o
maior trunfo deste projeto foi ter sido realizado o lançamento oficial deste
documentário na Praça da Matriz, em Exu, cidade natal de Luiz Gonzaga, no dia
12 de junho de 2013, graças a Lello Santana e Helenilda Moreira. Foi como
retornar ao solo sagrado, “de onde veio o baião” e levar a história ao caminho
de volta para o cenário de onde surgiu aquele ser iluminado chamado Luiz
Gonzaga do Nascimento, que, caso não tivesse existido, provavelmente, não
estaríamos dançando, cantando, tocando, escrevendo e falando sobre forró, tal
como fazemos hoje em dia no Brasil.
Assim, “Com
Respeito aos Oito Baixos” é uma viagem ao âmago, ao cerne que sustenta e
fundamenta os primórdios da sanfona na região Nordeste.
TAGS: Léo Rugero, Zé Calixto
NILTON MAIA
Postado março
20, 2015 at 4:28 PM
Muito bom o
texto enviado pelo Léo Rugero, inclusive chamando a atenção para o fato de
alguns sanfoneiros de oito baixos serem também afinadores do instrumento, como
o citado Zé Calixto e o saudoso Arlindo, este considerado um dos melhores
afinadores.
Aliás, o Léo merece de todos nós, amantes da Música Nordestina, as mais sinceras congratulações pelo bonito documentário acerca do instrumento, como também pela dissertação de mestrado versando sobre o tema.
Em meu caso, foi o documentário do Léo, através do depoimento de um sanfoneiro, que chamou minha atenção para a dificuldade técnica na execução do “pé de bode”. Confesso que sequer calculava que, apertada uma tecla, se o fole estiver aberto, a nota é uma e, se fechado, na mesma tecla, a nota é outra.
Tudo isso prova o talento dos nossos sanfoneiros, muitas das vezes a nível de virtuoses do instrumento.
Aliás, o Léo merece de todos nós, amantes da Música Nordestina, as mais sinceras congratulações pelo bonito documentário acerca do instrumento, como também pela dissertação de mestrado versando sobre o tema.
Em meu caso, foi o documentário do Léo, através do depoimento de um sanfoneiro, que chamou minha atenção para a dificuldade técnica na execução do “pé de bode”. Confesso que sequer calculava que, apertada uma tecla, se o fole estiver aberto, a nota é uma e, se fechado, na mesma tecla, a nota é outra.
Tudo isso prova o talento dos nossos sanfoneiros, muitas das vezes a nível de virtuoses do instrumento.
http://www.forroemvinil.com/texto-com-respeito-aos-oito-baixos/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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