Por Antonio Corrêa Sobrinho
ASSIM NOTICIOU
O “DIÁRIO DE PERNAMBUCO” A MORTE, OCORRIDA NO DIA 12 DE MAIO DE 1959, NO
MUNICÍPIO DE UNIÃO DOS PALMARES, DO TENENTE-CORONEL JOÃO ANICETO RODRIGUES DOS
SANTOS, PERNAMBUCANO, 52 ANOS DE IDADE, UM DOS TRÊS COMANDANTES DAS FORÇAS
POLICIAIS ALAGOANAS QUE, EM 28 DE JULHO DE 1938, EM SERGIPE, MATARAM O REI DO
CANGAÇO, LAMPIÃO, SUA COMPANHEIRA MARIA E MAIS NOVE OUTROS CANGACEIROS.
NOVO CRIME
AGITA ALAGOAS: O CORONEL ANICETO MORTO POR TRÊS PISTOLEIROS
Era um dos
remanescentes da luta de Angicos, onde foi massacrado o bando de Lampião – O
oficial, assassinado em União dos Palmares, teria sido vítima de políticos
governistas, de inimigos pessoais ou de irmãos de um pistoleiro a quem
assassinara.
MACEIÓ, 13
(Meridional) – Foi abatido ontem, a tiros, na localidade de Mundaú Mirim,
município de União dos Palmares, o tenente-coronel da reserva remunerada da
Polícia Militar do Estado, Aniceto Rodrigues. O crime ocorreu cerca das 18 e
trinta, em um bar do referido povoado.
O coronel Aniceto antigo participante da volante da Polícia Alagoana que degolou o célebre cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião, tombou varado por inúmeros disparos partidos das armas de três indivíduos cuja identidade ainda não foi apurada, estando o delegado de Ordem Política em diligências em União, a fim de apanhar os criminosos que fugiram para lugar ignorado.
Segundo informações ainda não de toda confirmadas, o coronel assassinado teria resistido a seus matadores, não logrando, no entanto, êxito, em face do alvo que se tornou para uma fuzilaria que teria constado de mais de trinta disparos.
Até o momento em que escrevemos estas notas, nada de oficial se conhece acerca da ocorrência, circulando variadas versões do crime, entre as quais a de que a esposa do militar teria abatido um dos pistoleiros.
O governador Muniz Falcão encontra-se no Rio de Janeiro, internado em uma casa de saúde. Em sua companhia, também seguiu, na semana última, o secretário do Interior, coronel Henrique Cordeiro Oeste. Por isso, sobre qualquer detalhe se negam as autoridades a informar.
Para Mundaú Mirim seguiu desde a manhã de hoje grande número de oficiais da Polícia, a fim de assistir ao sepultamento do coronel Aniceto.
Também no
referido local já se encontram representantes dos jornais desta cidade, apesar
de as estradas, com as chuvas caídas ultimamente, se encontrarem praticamente
obstruídas.
Homem de muitos inimigos, em torno de sua morte pairam as mais variadas suspeitas, atribuindo-se a responsabilidade do seu assassínio, inclusive a personalidades políticas da situação, uma vez que Aniceto, muito amigo do deputado Oseas Cardoso, era considerado um dos mais perigosos homens da oposição no Estado.
MACEIÓ, 13
(Meridional) – Aniceto Rodrigues dos Santos, anteontem assassinado na
localidade de Mundaú Mirim, município de União dos Palmares, contava 52 anos de
idade, era pernambucano e oficial reformado da Polícia Militar deste Estado,
como tenente-coronel, posto mais elevado que se pode atingir naquela corporação.
A sua carreira de soldado iniciou-se em novembro de 1932. Nos seis primeiros anos de vida miliciana, conseguiu elevar-se até o posto de aspirante, graças aos seus atos de bravura, em repetidas lutas contra o banditismo.
Entre as expedições de maior vulto, de que participou, salienta-se o combate de Angico, onde ajudou a eliminar Lampião e seu bando.
Fatos da sua vida privada, entretanto, interferiram desfavoravelmente na sua conduta de soldado. Em 1944 foi excluído da Polícia, como desertor, punição que coincidiu com o crime de morte que praticou em sua primeira esposa, dona Iraci Brito, em Piranhas.
Cinco anos depois, em 1949, foi reincluído nas fileiras da PM, com o mesmo posto de aspirante e, já um ano depois, era graduado 2º tenente. Após galgar normalmente os postos de 1º tenente e capitão, Aniceto Rodrigues reformou-se, como tenente-coronel, sendo beneficiado com as leis especiais da “praieira” e “do banditismo” que lhe conferiram duas promoções consecutivas – capitão e major.
OUTROS
DETALHES
MACEIÓ, 13
(Meridional) – O tenente-coronel, reformado, Aniceto Rodrigues, abatido por
três pistoleiros em Mundaú-Mirim, Distrito de União dos Palmares, bem na
fronteira de Alagoas com Pernambuco, participou das lutas contra o bando de
Virgulino Ferreira – o Lampião, estando presente no combate do qual saíram sem
vida o Rei do Cangaço e alguns bandoleiros, degolados em Angicos, estado de
Sergipe.
O assassinado participou também, em diferentes épocas, de outros acontecimentos sangrentos ocorridos em nosso Estado, dentre eles, o do dia cinco de maio de 1957, na cidade de Pão de Açúcar, quando se deu cerrado tiroteio, saindo ferido o senhor Cláudio Barbosa. Naquela ocasião o tenente-coronel Aniceto atribuiu ao seu inimigo, Elísio Maia, atualmente deputado estadual, a autoria da tentativa contra a sua existência.
Foi a julgamento, ainda, certa feita, sob a acusação de ter eliminado sua esposa dona Iraci Brito, quando ela se achava dormindo. Era filha do conhecido agricultor senhor Brito, do município de Piranhas, e prima-irmã da consorte do coronel João Bezerra, outro combatente do banditismo.
Existem várias versões sobre a autoria da morte do conhecido tenente-coronel Aniceto Rodrigues. Uma atribui ao deputado Elísio Maia o plano de extermínio do seu adversário. Outra a parentes da esposa assassinada. Uma terceira dá como matadores os três irmãos de Serafim de tal, pistoleiro conhecido como Pinga Fogo, morto barbaramente, pelo referido militar.
“Diário de Pernambuco” – 14/05/1959
“JÁ DEVIA TER
MORRIDO ANTES...”
RIO, 14 (Meridional) – “Já devia ter morrido antes” – disse o senador Silvestre Péricles de Gois Monteiro à reportagem sobre o assassínio do coronel Aniceto Rodrigues, em Alagoas. Como foi noticiado, a vítima participava da oposição ao governo Muniz Falcão, sendo amigo íntimo do senhor Oseas Cardoso.
"Diário
de Pernambuco" - 15/05/2018
AINDA O CRIME
DO CORONEL ANICETO
SECRETÁRIO DA
SEGURANÇA DE ALAGOAS QUER PRENDER OS CULPADOS: PISTOLEIROS FORAM RECRUTADOS EM
GARANHUNS.
MUNDAÚ MIRIM,
15 (De Alberto Jambo, especial para o DIÁRIO) – Embora sem uma pista segura dos
assassínios do coronel Aniceto Rodrigues, a polícia comandada pelo Dr. João
Batista Acioli, prossegue nas diligências, enquanto, paralelamente, se
desenvolve o inquérito.
O delegado já remeteu para a penitenciária da capital, com determinação expressa de mantê-los em incomunicabilidade, os suspeitos, Júlio de Aguiar Pessoa, cobrador da Prefeitura de União dos Palmares, e o cabo Dorgival Lucena, subtenente do distrito de Mundaú Mirim
Contra o primeiro, pesa a acusação de ser o responsável pela casa do vereador Augusto Cavalcante (no dia do crime fora ao distrito) onde se presume terem se escondido os bandidos, para a consumação do crime.
Em frente dessa casa tombou o coronel Aniceto. Sobre o segundo, maior autoridade policial do local, pesa a acusação de ter ido a Garanhuns buscar os pistoleiros, ao que se presume, chefiados por um proprietário ou comerciante de nome José Pinto. Além disso, circulam rumores, na cidade, de que um menor declarara, momentos após o crime, que vira o cabo “Doge” da varanda de uma casa de esquina da rua União dos Palmares (há 10 metros do local onde tombou Aniceto), atirando no coronel assassinado.
A propósito deste detalhe, conseguimos colher, com populares, em União dos Palmares, que o cabo “Doge” dizia, publicamente, que não temia o coronel Aniceto e que queria, inclusive, ser destacado para Mundaú Mirim. Dizia, ainda, que, no quartel, tivera uma “parada” com Aniceto e este recuara.
Tais informações coincidem com as declarações da viúva do coronel, quando afirma que Aniceto lhe dissera, várias vezes, que as coisas não iam boas, com o cabo-delegado, e quando este fazia viagens para Garanhuns, era, presumivelmente, para encontrar-se com José Pinto, inimigo rancoroso de Aniceto e amigo íntimo do deputado Elísio Maia.
REGRESSA OESTE
MACEIÓ 15 (De
Alberto Jambo, especial para o DIÁRIO) –
Os
acontecimentos verificados em Mundaú Mirim precipitaram o regresso do coronel
Henrique Cordeiro Oeste, secretário do Interior, Justiça e Segurança Pública.
Conforme já informamos, o coronel se encontrava no Rio de Janeiro, em companhia
do governador Muniz Falcão. Até às 18 horas de hoje ainda não havia falado à
reportagem, mas circulam rumores de que amanhã seguirá para Mundaú Mirim, para
assumir a direção do inquérito policial.
Na capital, os comentários, do modo geral, dão o “caso Mundaú Mirim” como a primeira e mais forte “prova de fogo” do atual secretário da Segurança. Comenta-se que será um problema difícil para o coronel resolver, tendo-se em vista as ligações que se atribuem ao fato. Dada a formação do coronel, e também seu conceito, acredita-se que prenderá todos os implicados no crime, mesmo os possíveis autores intelectuais. Do contrário demitir-se-á.
REGRESSA O
DELEGADO
MACEÓ, 15 (De
Alberto Jambo, especial para o DIÁRIO) – Conforme fomos informados junto à
Primeira Delegacia da Capital, ainda hoje, o Dr. João Batista Acioly regressará
a esta cidade. Conforme conversação mantida com investigadores que participaram
das diligências, o delegado estaria malsatisfeito com as providências tomadas
pelo subdelegado do distrito de Mundaú Mirim, antes da sua chegada.
PENÚLTIMA
EMBOSCADA
Rebuscando a
memória, acrescentou: “Há cerca de seis meses, Aniceto, ao chegar em casa,
soube da presença de quatro elementos suspeitos, que estiveram à sua procura.
Pelos dados fisionômicos de tais elementos, e também pelas maneiras, disse a
alguém: “Eles querem me jantar, porém, antes eu os almoço”. Imediatamente,
conseguiu um Jeep emprestado, convidou três homens de sua confiança e saiu no
encalço dos seus perseguidores. Pelas pistas obtidas, foi ter na capital
sergipana, sem, todavia, encontrá-los. De volta, disse: “Elísio quer me matar.
Vou morrer mais cedo do que pensava. Espero que eles não errem o primeiro, pois
se eu conseguir girar numa perna, vão alguns comigo. Novo informante explicou
como Aniceto – um dos homens afeitos ao crime e dos mais experientes do estado
de Alagoas – baixava e levantava girando num pé só para ver em todos os
ângulos”.
CONFISSÃO
CONFIDENCIAL
“Aniceto numa
ocasião disse: pode ficar certo de uma coisa: a morte de minha primeira esposa
foi casual. Eu limpava uma arma quando a mesma detonou e atingiu-a”. E, para se
fazer acreditar, acrescentou: “Se eu estivesse moribundo, já sem temer a
ninguém, diria o que disse agora, não matei minha esposa”.
O CASO DE
PINGA FOGO
Prosseguiu:
“Dissera-me, em outra ocasião, o coronel Aniceto: “Também não matei Pinga-Fogo.
Recebi ordem do chefe de conduzi-lo para Pernambuco, e a cumpri. Mas, já o
encontrei morto, na subdelegacia de Pajuçara. Pinga-Fogo, numa sexta-feira à
noite, estava em Jaraguá, com uma passagem aérea da Companhia Cruzeiro do Sul,
despedindo-se de Maceió. Logo cedo, um amigo meu aconselhou-o a sair dali. Não
ouviu o conselho: foi preso pela polícia e amanheceu o sábado morto”.
O CASO
GERMINIO
Outra
revelação do amigo de Aniceto foi sobre o crime feito na pessoa de Germinio
Gonçalves. Criminoso perigoso e experiente, tinha Germinio, em Aniceto, o seu
par. Após certos “serviços”, Aniceto recebeu ordem de aniquilá-lo. Aniceto era
grande amigo de Germinio, mas recebendo ordem do governo, viu-se na
alternativa: ou matar Germinio e manter o prestígio de valente de que gozava,
ou ser vítima do próprio Germinio, após uma intriga que seria forjada entre os
dois. O próprio Aniceto relatou; “ Bati na porta de Germinio, após a casa
cercada e disse-lhe: É seu compadre Aniceto, Germinio. Entrei, tirei a camisa,
pus as armas em cima da mesa e sai para o quintal, como quem vai satisfazer uma
necessidade fisiológica. Chamei-o: Germinio, você ainda tem aquela arma?
Germinio respondeu afirmativamente, enquanto puxava a arma para que eu
examinasse. Na posição que recebi a arma de sua mão, acionei o gatilho,
varando-o à queima-roupa. Caiu agonizante, fitando-me terrivelmente.
Imediatamente, o pessoal que cercava a casa entrou e um sargento (o informante
não se lembra o nome) sabe apenas que era o mesmo da cidade de Murici, deu-lhe
uma rajada de metralhadora, de misericórdia”.
EMBOSCADA EM
PÃO DE AÇÚCAR
Aniceto era um
homem temido não só pela sua frieza, mas, sobretudo, pela sua experiência no
crime, pelos seus conhecimentos de capangas de vários Estados e por ser hábil
no combate e fugas em pleno mato. Tanto é assim que, há dois anos, quando foi
emboscado pelos capangas do deputado Elísio Maia (isto, precisamente, no dia 10
de maio), logo que suspeitou da sorte que o esperava, caiu no mato e insultou
os bandidos, gritando: “Vocês são capangas de castrar bodes. Se forem homens me
persigam”. A verdade é que ninguém o perseguiu. Queriam matá-lo, mas temiam
encontrá-lo frontalmente na “caatinga”.
"Diário
de Pernambuco" - 16/05/1959
DIVERSOS
ATENTADOS
Inquerido
sobre a atual situação política do Estado de Alagoas e, ainda a respeito do
assassínio do coronel João Aniceto, disse o deputado Odilon Souza Leão que
“realmente o ambiente faz preocupar”, se bem que a morte do coronel não
surpreendeu aos que “conheceram sua vida pregressa”.
E acentuou:
- “Era um criminoso frio e premeditado, tendo assassinado a própria esposa. Serviu a diversos governos estaduais, unicamente com a finalidade de hostilizar políticos oposicionistas. Famílias inteiras sofreram sua perseguição, entre elas a do deputado Segismundo Andrade.
Criminalmente, respondia por diversos atentados de morte, se fosse vivo. É difícil dizer a razão do seu assassinato, pois muita gente em Alagoas tinha motivos para tal”.
ANICETO DIZIA
SEMPRE: NÃO VOU CRIAR OS MEUS FILHOS
Depoimento da
viúva do coronel assassinado – Acusa o deputado Elísio Maia.
MUNDAÚ MIRIM,
16 (Do enviado especial, Alberto Jambo) – D. Yolanda Rodrigues, esposa do
coronel Aniceto Rodrigues, falando à reportagem, declarou que seu marido dizia
sempre, principalmente, nos últimos meses: “Tenho certeza de que não vou criar
meus filhos”.
Embora não contasse detalhadamente os acontecimentos que esperava ocorrer, o coronel Aniceto Rodrigues, dissera à esposa quando da nomeação do cabo Dorgival Cortes de Lucena:
- Esse jogo tem areia. Não é por acaso que nomearam o cabo Dorgival para Mundaú Mirim. Eles podem me pegar, mas vão ter trabalho”.
INIMIGO EM
GARANHUNS
“Aniceto ficou
mais apreensivo – continuou D. Yolanda – quando, ultimamente, o cabo Dorgival
começou a fazer algumas viagens para Garanhuns, onde mora um sério inimigo de
meu marido, um tal de José Pinto, também muito amigo do deputado Elísio Maia.
Não se compreendia que o cabo Dorgival viajasse para Garanhuns, domingo último,
quando sua esposa se encontrava em Maceió, numa maternidade. Ele foi a
Garanhuns apanhar os assassinos do meu marido, chegando alta madrugada e
escondendo-os, para a consumação do crime”.
VEREADOR
ENVOLVIDO
Em outro
trecho de suas declarações, D. Yolanda alegou também que a situação piorava,
nos últimos tempos, após um desentendimento havido entre o coronel Aniceto e o
vereador Augusto Cavalcante Lins. E, aduziu: “Os três bandidos que mataram
Aniceto ficaram escondidos na casa do tal vereador, pois a propósito, ele
deixou a casa abandonada, há vários dias”.
TESTEMUNHA
OCULAR
D. Yolanda,
que fazia declarações entrecortadas de acessos de choro, portanto, sem
historiar os fatos cronologicamente, disse que fora informada de que uma
criança vira o cabo Dorgival, da varanda de uma casa, a 15 metros do local do
crime, atirando no coronel Aniceto Rodrigues.
Ante a insistência da reportagem, para que dissesse o nome da criança, afirmou que tal história lhe contaram num momento de desespero; por isto não recordava o nome da criança.
Perguntava se não suspeitava de alguma pessoa ou se pelas informações colhidas não conseguira identificar um dos três criminosos, respondeu: “Foram três indivíduos que emboscaram meu marido. Dois altos e um baixo. Um deles, não tenho certeza, mas pelas referências deve ser criminoso conhecido pelo apelido de Cabo Artur, homem de confiança de Elísio Maia”.
Disse ainda dona Yolanda que fora morar em Mundaú Mirim há cerca de 1 ano e 8 meses, sendo o seu marido, ali, querido por todos.
PRESUME-SE QUE
OS PISTOLEIROS SE REFUGIARAM NAS PROXIMIDADES
MUNDAÚ MIRIM,
16 (Dos enviados especiais do JRONAL DE ALAGOAS) – Ao que nos informou o Dr.
João Batista Acioly Sobrinho, primeiro delegado da capital, desde hoje, às 5
horas quando chegou a esta localidade, assumiu a delegacia de Mundaú Mirim.
Disse-nos:
“A respeito dos esforços que desenvolvemos, até agora ainda não conseguimos apanhar os criminosos. Nas nossas diligências ultrapassamos a fronteira deste Estado, fomos até Pernambuco. Já prendemos três pessoas para averiguação. Há inclusive entre os presos, dois em estado de estrita incomunicabilidade: um é o senhor Júlio de Aguiar Pessoa, cobrador da Prefeitura de União dos Palmares, homem que tomava conta da casa onde se presume ficaram os criminosos aguardando a chegada de Aniceto.”
Quanto ao outro, o Dr. João Batista não quis declinar o nome, nem deixar que a reportagem mantivesse qualquer contato com o mesmo, “para não atrapalhar as diligências”. Está presa também, para averiguação, a senhora Josefa Lúcio Chaves, proprietária do hotel de Mundaú Mirim, que seria uma das testemunhas oculares do crime.
DESCOBRE O
REPÓRTER
Malgrado os
esforços da reportagem, o Dr. João Batista Acioly não revelou o nome do segundo
preso. Todavia, a reportagem conseguiu apurar que tal indivíduo é o cabo
Dorgival, subdelegado da localidade, que participou das diligências com o Dr.
João Batista e, finalmente às 15:30 horas, no momento em que o corpo de Aniceto
acabava de baixar à sepultura, recebeu, mesmo no cemitério, ordem de prisão, do
tenente Durão, que acompanha o primeiro delegado.
OUTRAS
PROVIDÊNCIAS
Informou-nos
ainda o delegado, que prosseguirá nas diligências, “batendo” todas as
circunvizinhanças, pois acredita que os criminosos não conseguiram afastar-se
para muito longe. Como se sabe, os assassinos após a consumação do crime,
saíram a pé, calmamente, em demanda da estrada para fora da cidade. Presume-se
que estejam homiziados em alguma casa próxima.
DETALHE DO
CRIME
Mundaú Mirim –
A população da cidade de União dos Palmares, desde que tomou conhecimento da
audaciosa emboscada em que perdeu a vida o tenente-coronel Aniceto Rodrigues,
oficial da reserva remunerada da Polícia Militar de Alagoas, passou a comentar
o sangrento ocorrido. Surgem várias versões em torno da maneira como foi
abatido aquele oficial, numa rua central da Vila de Mundaú Mirim, distante da
sede 37 quilômetros.
O crime ocorreu às 18:30, na rua União dos Palmares, naquela Vila, entre a casa residencial do Sr. Marcos Viana Portela, comerciante, e o armazém de compras e vendas do Sr. Artur Chaves. Os criminosos, em número de três, ao que nos informaram detonaram cerca de 20 tiros, sendo o tenente Aniceto Rodrigues atingido por cinco projéteis.
Um detalhe impressionante a reportagem registrou no local da emboscada. Nas paredes da residência do Sr. Marcos Viana Portela viam-se fragmentos da mão do trabalhador Luiz Felix da Silva alcançado por uma bala, juntamente com outro colega viajava ele na garupa de um burro, na retaguarda do tenente-coronel Aniceto.
FUGA TRANQUILA
Após
constatarem que o oficial estava morto, os pistoleiros, de pé, saíram
apressados, não sendo, entretanto, molestados por nenhum dos habitantes da
Vila, inclusive o próprio subdelegado cabo Dorgival Cortez de Lucena.
Fato curioso é que, depois do crime, os matadores atravessaram a “corrente fiscal”, distante do local cerca de 120 metros e continuaram andando apressados, até apanharem um Jeep que estava a um quilômetro, na estrada da Vila, e que leva ao município de Correntes, em Pernambuco.
Em poder do coronel Aniceto Rodrigues foi encontrado um revólver 38, carga dupla, municiado. A vítima não chegou a puxar da arma, uma vez que todos os ferimentos recebidos foram de natureza grave, notadamente o projetil que alcançou a nuca, saindo na região superior orbitária esquerda, afundando-a e deixando irreconhecível a vítima.
Minutos depois, toda a vila de Mundaú-Mirim estava em polvorosa. O tenente-coronel Aniceto Rodrigues possuía ali um vasto círculo de amizades e era temido por muitas pessoas, que sabiam de sua fama de homem valente, autor de várias mortes. Pertencera à célebre volante que abateu “Lampião” no ano de 1938, na fazenda Angicos, em Sergipe.
A reportagem falou com o capitão Mário Correia de Albuquerque, delegado de União dos Palmares e responsável pelo inquérito ali instaurado, em torno do crime.
Disse, inicialmente, que estava no cinema na cidade de União dos Palmares, quando aproximadamente às 20:30 horas chegou o cabo Dorgival Cortez de Lucena, subdelegado da Vila de Mundaú Mirim e lhe comunicou haver, às 19:30, sido assassinado de emboscada a tiros o tenente-coronel Aniceto Rodrigues dos Santos. Acrescentou que saíra gravemente ferido o trabalhador Luiz Felix de Souza, que já se achava internado no Hospital São Vicente de Paula.
“Imediatamente, prosseguiu o capitão Mário Correia, pus todo o destacamento sob o comando do referido cabo, para que ele retornasse a Mundaú Mirim, a fim de realizar diligências, enquanto providenciava comunicações ao secretário do Interior e comandante da Polícia Militar. Procurei o escrivão da Polícia para seguir com o cabo até o local dos fatos. Chegando a Mundaú Mirim, procurei inteirar-me do fato e providenciar as testemunhas para o desenrolar do inquérito, que já estava sendo feito, na forma da lei.
Foram ouvidos, então, D. Josefa Lúcio Chaves, proprietária do Hotel que fica nas proximidades do local onde ocorreu a emboscada; senhores Otavio José da Mata, Miguel Guilherme de Azevedo, José Ferreira de Lima e João Tavares de Araújo. Esse último, no momento do tiroteio passava nas proximidades e refugiou-se na casa comercial do senhor Artur Chaves.
As testemunhas acima disseram que estavam próximas ao local, ouviram os tiros, que foram inúmeros, mas não reconheceram os criminosos, apesar de verem os mesmos fugir, a pé, pela estrada que demanda ao município de Correntes, no estado de Pernambuco.
A reportagem ouviu o senhor Luiz Souza Barros, comerciante em Mundaú-Mirim, e sogro do tenente-coronel Aniceto Rodrigues, que disse haver o seu genro saído, como habitualmente fazia, às 6 horas da manhã, com destino à fazenda de sua propriedade, de nome Ingazeira. Cerca das 12 horas mandou-lhe o almoço, pois Aniceto estava ali trabalhando com doze homens, no serviço de campo. Às 18:30, como sempre acontecia, aguardava a sua chegada juntamente com sua filha, a esposa do Aniceto, senhora Yolanda Barros Nascimento.
Perguntado se ouviu os tiros disse que sim, e poucos minutos depois recebeu a desoladora notícia da morte, por emboscada, do seu genro.
A Vila de Mundaú Mirim, que pertence ao município de União dos Palmares, até a hora em que regressamos, continuava em alvoroço.
16 TIROS
DISPARADOS
MACEIÓ –
Segundo colheu a reportagem, logo ao chegar a Mundaú Mirim, cerca de 16 tiros
foram disparados pelos três pistoleiros, contra o tenente-coronel Aniceto
Rodrigues dos Santos e o lavrador Luiz Felix da Silva, que o acompanhava. Dos
projetis, 6 fulminaram o militar.
RESULTADO DO
EXAME CADAVÉRICO
A autopsia foi
feita pelo Dr. Benedito Lessa, médico da cidade de União dos Palmares.
Constatou o seguinte: um orifício com entrada na nuca e saída na região supra
orbitária esquerda, ferimento na região infra escapular esquerda, com orifício
de saída na região infra-axilar esquerda, havendo perda de tecidos celulares
subcutâneos e fratura da nona costela; ferimento ao nível da região lombar
esquerda, com orifício de entrada e orifício de saída no hipogástrio, com
hérnia de tecido celular subcutâneo; ferimento ao nível da face interna do
terço superior da coxa esquerda, sem apresentar orifício de saída. Ferimento ao
nível da fossa ilíaca direita, com saída de excreções urinárias; equimose do
terço superior do braço esquerdo.
Segundo o legista, esta foi a “causa mortis”: lesões dos centros cerebrais e hemorragia interna.
"Diário
de Pernambuco” - 17/05/1959
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Imagem de
ANICETO RODRIGUES, utilizada pelo jornal para ilustrar a publicação.
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