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quarta-feira, 9 de maio de 2018

VANDRÉ RETORNA AO SOLO NATAL, POR DAMIÃO RAMOS CAVALCANTI


Geraldo Pedrosa de Araújo Dias filho de José Vandregíselo e de Maria Martha Pedrosa Dias, é Vandré, um dos nossos conterrâneos, ilustre vulto paraibano. Mesmo distante da sua terra, em outras paragens, querendo ou não querendo, andinas ou brasileiras, ele não conseguiu desaparecer, vivia sendo balbuciado como se fosse um hino proibido; depois, alto e livremente cantado como canção da memória de multidões que o acompanhavam, caminhando e cantando. Se ele pretendeu ser escondido ou se esconder, a cortina, o pano ou o lençol foram curtos para cobri-lo. Primeiramente porque um cidadão da sua estatura não se encobre; depois, um artista da sua dimensão não se pertence…

Foi então que ele se reencontrou com seu dileto amigo Ricardo Coutinho que o convidou, como se fosse irmão ou a voz do pai ou da mãe:  “volte pra casa”.  E ele voltou cantando, até no palco, para acordar emoções e retroalimentar o eco de “Para não dizer que não falei das flores”. Eu vi, eram gritos abafados ou presos sentimentos que se tornaram poésis que nos canta e que nos encanta. Já tinha visto, em 1968, em Roma, estudantes brasileiros, italianos e jovens de outras nações, de mãos dadas, emblematicamente como se fosse um estandarte, caminhando e cantando, em uníssono com outras vozes que vinham dos nossos rincões, das bocas de fogo ou dos carinhosos corações. Nas ruas, nas marchas, parecia a canção hino como se fosse a pintura de Delacroix, “la liberté en guidant son peuple” ou “a liberdade guiando o seu povo”.

Nesses dias, quando Vandré faz reaparecer Vandré, ele retorna à sua terra, vai à Academia Paraibana de Letras e declama um livro de poesia, antes só recitada do alto das montanhas chilenas. O que faz também lembrar Giuseppe Verdi, na ópera Nabuco, descrevendo acorrentados escravos hebreus, cantando a ideia de liberdade que, à solta das correntes, poderia voar além dos montes: Va pensiero! “Vá, pensamento, em asas douradas, / Vá e pousa sobre as encostas e as colinas / Onde os ares são tépidos e macios / Com a fragrância do solo natal!”. Aqui e agora, depois de cinquenta anos, cantando, recitando, Vandré sente a fragrância ou o cheiro da sua terra em cio, dizendo poesias que, como foram apresentadas por Hildeberto Barbosa na APL, poderão ser canções.

Damião Ramos Cavalcanti


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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