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segunda-feira, 25 de junho de 2018

PALAVRAS E GRÃOS

*Rangel Alves da Costa

Semear com palavras os grãos daquilo que se deseja colher, não somente para si como para outras fomes de vida.
Avistar na aridez a flor e simplesmente seguir o caminho. Ora, se a flor foi possível tudo também poderá ser possível.
Nunca ter pressa ou adiantar demais o passo ante o esperado. O tempo é oleiro que molda o barro segundo a força de cada coisa. É preciso esperar o barro ganhar segurança.
Não desistir é a melhor maneira de saber conquistar. Dois passos apenas e tudo pode estar perdido acaso se desista já perante a chegada.
Ter no silêncio a palavra maior, a maior lição, a maior sabedoria. A voz do silêncio sempre ensina. É preciso ouvir cada palavra antes de toda ação.
Pessoas, imperceptivelmente, escrevem salmos sem ter a mínima noção de tamanha sabedoria. Querem para si o melhor, fazem de seu desejo um passo. Mas nem sempre seguem na caminhada.
Outras pessoas sobem à montanha e não sabem conversar com Deus. Sobem à altura, porém não procuram sentir a magia do alto do monte, não dialogam com a natureza, não abrem os braços para alcançar o infinito.
Quantos sentimentos somem ou se perdem por medo de serem revelados. Amor, compaixão, fraternidade, amizade, tudo isso aflora sem que haja reciprocidade da pessoa para com o mundo. Então tudo se interioriza e some.
Viver as coisas simples da vida. Ser tão verdadeiro quanto a vida pede que seja. O sorriso é para ser sorrido. A lágrima é para ser chorada. O abraço é para ser compartilhado. O amor é para ser demonstrado.


Quanta tristeza esconder o dom do encantamento com o luar. Por que não correr pra debaixo da chuva e tomar seu banho? Por que não conversar com o silêncio e a imaginária dureza da pedra? Tudo é possível.
Saber que aquele resto de pão foi o pão que faltou como alimento e sobrevivência na casa empobrecida. Saber que aquela roupa jogada ao lixo serviria muito bem para vestir alguém que vive em molambos e descalço.
Tão belo e tão desnecessário o relógio de milhões, o brinco de milhões, a caneta de milhões, a gravata de milhões, o carro de milhões, a arrogância que não vale nada. E tudo vale, por preço qualquer, ao que se alegra e sorrir com coisa qualquer.
Poucos querem calçar as sandálias da humilhada. Poucos se sentem bem usando as sandálias do pescador. Poucos colocarão no seu passo a humildade como sandália. Mas, como diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades...
Ainda há uma flor a ser colhida e um canteiro a ser aguado. As folhas secas caem e são levadas pela ventania. As amendoeiras descem suas folhas, mas depois se renova com vida nova. Então que se caminhe pelo jardim para participar de sua vida e sentir as transformações.
E fazer do sonho a possibilidade. Sim, tudo é possível. E fazer do sonho a realidade. Sim, tudo é possível. Sonho bom é aquele que se deseja na medida do que se necessita. Por isso que para o humilde tudo o que é conseguido é um sonho realizado.
Já noite. Sentir o que ela traz. Preparar um cafezinho, caminhar até a porta da frente ou de trás e deixar que o pensamento frua, que a memória busque, que tudo aconteça. Lá em cima a lua. Dentro de si uma lua ainda maior.
E depois deitar. Muitos não dormem nem com a cabeça em travesseiro de penas de ganso. Mas muitos adormecem até com a cabeça em cima da pedra. E sonham. E sonham.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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