Por Luiz Serra
O imigrante
bem tratado transmite a quem recebe um galardão de convivência na aldeia
global. Em um dado tempo da história recente, o tratamento dado a imigrantes na
Guerra foi muito cruel. A se lembrar os campos de concentração de alemães,
italianos e japoneses, com suas consequências inomináveis detalhadas em livros
e filmes.
Meu saudoso
pai, Antônio Serra, foi imigrante de Portugal para o Brasil. Embarcou em 1940,
aos 23 anos, no porto de Lisboa em um navio que fez história: o vapor Serpa
Pinto, e viajava na 3ª classe por drástica reserva financeira. Uma viagem que
levaria uma semana levou quase um mês pelas abordagens dos submarinos alemães,
lembro-me de ele me contar das peripécias e riscos enfrentados pelo jovem
imigrante.
Livro
sobre o Serpa Pinto - terravista.blogspot
O Serpa Pinto
foi um transatlântico que singrou o Atlântico durante a Segunda Grande Guerra.
A história do paquete acabou em livro, O Navio do Destino, Rosine de Dion, pela
editora Record.
O célebre
transatlântico pertencia à Companhia Colonial de Navegação (lusa) e transportou
durante todo o conflito mais de 100 mil passageiros.
Durante a
viagem foi abordado em alto mar por um navio de guerra inglês e mais na costa
da África por um submarino alemão. Apesar de Portugal ter se tornado neutro na
guerra, as embarcações beligerantes queriam verificar quem estava a bordo. No
caso do submarino alemão, os militares checaram a lista de passageiros atrás de
passageiros ingleses ou judeus.
Submarino
da classe U alemão - humansatsea.com
Contou-me meu
pai da angústia que passaram durante os alarmes da possível presença nas
proximidades de submarino U-Bolt alemão, quando então as máquinas eram paradas
e o navio ficava por várias horas à deriva. Num dos episódios de parada os
alemães ameaçaram afundar o navio e que os quase 600 passageiros deveriam
embarcar em botes salva-vidas. Após o sufoco de algumas horas decidiram liberar
o navio. Numa delas enfrentavam mau tempo e o navio oscilou desmedidamente e as
malas acompanhavam o movimento ruidosamente.
Finalmente,
após quase um mês o navio aportou no Rio de Janeiro. Meus tios o receberam para
sua nova vida no Brasil. Anos após foi um comerciante do ramo de móveis e
ofereceu emprego a muitos brasileiros.
Aqui a reprodução de artigo que assinei para o Blog Ponto de Vista, do jornalista potiguar e escritor Nelson Freire.
SEPARAR FILHOS DE PAIS: UM ATO DE LESA-HUMANIDADE
Penso que não
importa se nessa era Trump tenha-se praticado tal ignomínia irreparável para o
ser humano, até mesmo, se em governos anteriores, nos EUA, também se tenha
configurada a mesma prática. Importa que os ensinamentos históricos e as decepções
registradas em livros e nas telas da arte não fizeram, em boa parte, a
humanidade evoluir societariamente. Não estamos falando de uma republiqueta
isolada e apartada das leis, em um recôndito do globo, mas de uma poderosa
nação, construída com suor e significativo aprendizado histórico, e que investe
maciçamente em educação.
O Brasil
igualmente revela estatísticas que espantam o mundo. Anunciam-se dezenas de
milhares de assassinatos por ano, que não param de amenizar, nem ao menos
estabilizar. Ao contrário, cidades antes pacíficas e atraentes já possuem as
suas “gangues da marcha à ré”, ou de tráfico de drogas ou ainda de assaltos a
banco na modalidade “novo cangaço”. Parecem capítulos de uma novela de terror.
Pintura
de um porto século XVIII - alfradique
Mas
relembrando um pouco as razões da expressão: crime de lesa-humanidade. Foi
ditada nos tempos do pós-Guerra, e na referência aos ditames de Nuremberg, em
1950 e, sequencialmente, aprovados pela ONU. Mundo afora os mesmos princípios
foram acolhidos pelos diversos tribunais penais internacionais, referendando a
pressão para que os países membros da Organização das Nações Unidas investiguem
tais crimes e procedam a punições cabíveis.
Neste âmbito de alcance aos crimes contra a humanidade, e na ótica das conclusões de Nuremberg, pode-se chegar os assassinatos em série; os casos de perseguição por motivos religiosos, políticos ou raciais, em tempo de paz ou de guerra, e conexos a estes estados; a deportação; os fatos de extermínios, e classificados internamente como tal, nos tribunais afeitos a cada nação.
No assunto em
tela, estampado na mídia, na crise da imigração irremediável para tantos seres,
e como tal tratada pelo mandatário norte-americano, a imagem ferina aos
princípios elementares da dignidade humana fez crescer assustadoramente o
clamor pela remediação do sofrimento daquelas inocentes crianças que mal
compreendem por que as estão vivenciando.
O papel da
imprensa é extremamente valioso no decurso da denúncia que atingiu mentes e
corações por todo o mundo. No Brasil as notícias infames dos assassinatos
crescem avassaladoramente e nos colocam praticamente dentro da cena dos crimes,
que excedem em crueldade. Crimes em nosso país que, de tão desmedidos, podem
perfeitamente serem classificados como atos vis de lesa-humanidade.
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