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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

CARTA A UMA MENINA QUE ANDA POR AÍ

*Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

Bela menina, bela flor da mocidade, e que anda por aí alegrando os dias, assim continue, assim se permita viver se assim lhe contenta.
Menina bela, linda flor e meiga flor da juventude, e que andeja por aí alegrando as paisagens, que suas pétalas macias continuem em viço pelos ressecados canteiros.
Sei que não é qualquer uma que apenas passa, mas aquela que passa com encanto e beleza. Diferente de muitas outras, sua passagem é como sopro de brisa, como canção da tarde.
Beleza sem qualquer imposição de beleza. A pele da pele, o cabalo do cabelo, o lábio no lábio, a face na face. Nada, absolutamente é forjado para lhe dar majestade.
Beleza na roupa, na sandália, no corte do cabelo, na pintura e no batom? Não. De jeito não. A sua beleza está, acima de tudo, na moldura própria que lhe adorna.
Não precisa de roupa de grife, de penduricalhos da moda, de vestes de marcas para ornar sua flor. És bela por que és bela, por que não precisa de enfeites para ser olhada, avistada, adorada.
Sei que falam - até as outras meninas de sua idade - da roupa simples que veste, do seu jeito simples de ser, do seu desapego ao material. Um vestido de chita lhe cai bem, uma roupa barata também.
Sei que falam de seu chinelo de pé, de seu cabelo ao vento, de sua pele sem maquiagem, de suas orelhas sem brincos e de seus dedos sem anéis. Talvez uma concha de mar como pingente ou uma pulseira de cipó do mato.
Sei que falam de seu jeans surrado, de sua blusa florida, de sua roupa já desgastada de tempo. E certamente falam de você não se importar com nada que digam sobre o seu jeito simples e humilde de ser.


Sei que falam de seu silêncio, de sua pouca palavra, de seu sorriso escondido, de suas poucas e escolhidas amizades. Falam quando fala sozinha, falam de sua amizade com os bichos, com as flores e folhas.
Sei que falam por que não é como elas, que não gosta de viver nas calçadas ou nos escondidos, que não gosta de viver com copo à boca ou cigarro à mão, que não gosta de amizades falsas nem de estar olhando a vida dos outros.
Sei que falam por ser recatada demais, por não andar namorando um e outro, por não gostar de baladas nem de sair sem hora para retornar. Sei que falam por que respeita seus pais, por que gosta do lar e da família, e por ouvir e seguir os bons conselhos.
Sei que falam de todo e de qualquer jeito. Falam mal você sendo assim, imagine se fosse como os outros desejam. Querem moldar ou mudar o seu jeito para mais tarde terem ainda mais motivos para falar.
A beleza faz mal a quem é não é belo. A inveja cria a falsidade, a palavra indigna, o desprestígio. Mas o que lhe afetar se você foge das falsas amizades e daquilo que possa lhe macular.
Dificilmente alguém chegará perto de você para mostrar reconhecimento. Poucos são aqueles cuja verdade não admite dizer diferente. E no seu passo, no seu caminhar, você encontrará pessoas boas, mas também a maldade em forma humana.
Mas não se importe não, bela menina. Siga seu caminho, mostre ao mundo sua singela beleza. Saiba que existem flores e flores. As que os outonos logo murcham e levam e as que continuam alegrando os jardins da vida. E continuará assim, bela flor por onde passar.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
http://bogdomendesemendes.blogspot.com

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