Seguidores

sábado, 1 de setembro de 2018

UM TRAUMA LEVOU LAMPIÃO AO COMETIMENTO DE CRIMES BÁRBAROS...


Por Verluce Ferraz

Um substituto falso na memória do cangaceiro Lampião sempre foi largamente difundido entre os pesquisadores do Cangaço como se fosse a maior verdade: a justificativa dada por Virgolino Ferreira da Silva que afirmava haver entrado para o cangaço para vingar a morte de seus genitores. Entretanto, a importância principal da afirmativa não poderia ser aceita sem antes passar pelo crivo e embasamento das ciências, como de fato foi feito, mas sem qualquer resposta convincente, do Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, Bahia, quando feitos estudos nos crânios dos cangaceiros. É que, a época, acreditava-se que o tamanho, o formato, o peso de um crânio pudessem ser elementos de indícios que levariam uma pessoa ao mundo do crime. Os crimes sempre foram alvo de diversas pesquisas, desde Platão, Aristóteles, Montesquieu, Russeau, chegando à Escola Italiana, dos cientistas e médicos Lombroso, Ferri, Garófalo, etc. cada um apresentando sua teoria. Nessa época ainda não se estudavam o caráter subjetivo como fez Jean Martin de Charcot, professor de Sigmund Freud. Esse último desenvolveu o método arqueológico para estudar as mentes humanas que resultou na Teoria de Complexo de Édipo, consagrando-o como Pai da Psicanálise. E é com base nesse método que fui procurar as origens dos cometimentos de tantos crimes em Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Freud considerou de grande importância verificar os conteúdos da mente de uma pessoa como declarou Signorelli, que falou das lembranças substitutivas (relatado na obra de Freud).


Virgulino Ferreira da Silva, nasceu na casa de sua avó materna e foi criado pela mesma. Jacosa Vieira do Nascimento, uma parteira. Imaginemos o trauma que Virgulino não sofreu presenciado os momentos em que sua avó/mãe era convocada a fazer partos? A magnífica tarefa de receber no mundo uma criança pode não ter sido interpretada dessa forma. Um belo trabalho o de sua avó, mas uma tarefa árdua e muitas vezes deprimente; por que não era raro uma mulher, ao parir, sofrer um ataque de eclampsia chegando à morte. Entre gemidos, sangue e uma criança chorando. Outras vezes, as superstições e crendices não eram incomuns. Se precedesse a um parto um cantar de coruja rasga-mortalha, normalmente haveria um enterro. Muitas mães saiam dentro de redes para serem sepultadas. Crianças abortadas e enterradas no quintal. Cheiro de sangue e peças de roupas queimadas, quando uma criança, ao nascer, não resistiam aos traumas de um parto difícil e eram acometidas de ataques epilépticos; muitas vezes queimavam as roupas das crianças e colocavam para que cheirassem aquela fumaça para que os ataques não se repetissem. Não haviam os barbitúricos e as penicilinas eram raras. E aquela que era o seu ’porto seguro’, a sua avó/mãe Jacosa lá estava envolvida com tudo isso saindo, muitas vezes, de um quarto, sem cama e sem portas, com as mãos cheias de sangue e uma expressão de dor. 


Ponho agora tudo isso para relacionar os mistérios da mente de Virgulino Ferreira da Silva; com a certeza que vem daí o horror vivido pela criança para o transformar em criminoso e cangaceiro. O matar sangrando, o uso de rezas sob as vestes, o manter-se afastado das mulheres com a justificativa que elas traziam azar, o associar do choro das crianças ao berrar dos cabritos, a raiva de crianças e o desejo que teve de assassinar sua própria filha Expedita - não o fez porque a sua companheira Maria de Déia não permitiu - o gosto pelos perfumes para libertar-se da lembranças olfativas do sangue de uma parturiente; Virgulino absorveu na infância muita coisa que não conseguia resolver sozinho e isso lhe causou sérios traumas. Mesmo quando não presenciava um momento de um parto, por que não é necessário assistir presencialmente; mas havia a percepção e interpretação de tudo pela criança. Assim, ao tornar-se adulto, vai ocorrer o seu distanciamento das mulheres e a indecisão: ser mulher não é bom e traz azar - a minha mãe/avó é mulher... Também qui não posso deixar de colocar aqui que a figura feminina lhe traziam recordações ruins, de dor e morte. 


Momentos de angústia deve ter passado o menino Virgulino, sem saber discernir entre um trabalho de trazer à luz uma vida; noutros sair um enterro de uma pessoa cara...

Um esclarecimento - Foram levados ao Instituto Nina Rodrigues apenas os crânios dos cangaceiros para serem estudados - com certeza eram crânios de cadáveres que só mais foram enterrados depois de seus familiares haverem ingressado em juízo - Sendo concedido tal direito, as famílias sepultaram apenas as cabeças daqueles mortos, ha décadas. As mortes dos cangaceiros era objetivo do próprio Estado de Direito.


Outros dados:

Sigmund Freud analisou personagens da História como: Victor Hugo, Leonardo da Vince (1492), Dostoievsiki 1881/1821 (o parricida), Moisés, personagem bíblica, Shakespeare (1564/1616), entre outros - mostrando-nos que é possível analisar os comportamentos das pessoas através de seus atos, de suas obras. Portanto o meu trabalho de analisar Lampião não foi o assistindo e nem o escutando pessoalmente, mas com os elementos colhidos dos crimes por ele perpetrados.

https://www.facebook.com/groups/154668548512895/?fb_dtsg_ag=Adzmw27LliXMJqN_LgcKj2-Zeje-nJoFyqM-5-3tbJinvw%3AAdz0A2fc7BicfjdbpqIKFcUaKcNWSvqN9jhl-c_nOCPKtg

http:/blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário