Preservar os verdadeiros nomes dos
personagens que figuram neste artigo é preciso.
Foi lá pelos anos 70, não tenho
lembrança em que ano isso aconteceu, não em Mossoró, mas em suas terras.
De todos os empregados da “Firma
& Cia” João Capistrano era um dos mais responsáveis, e até apostava no
crescimento galopante da firma, cumprindo tudo que era necessário pelo
crescimento da empresa, e como desejava o seu bom andamento produtivo, nada lhe
era difícil, até chegava ao trabalho 1:00 hora antes do início das atividades
para todos.
João Capistrano tinha uma boa
conduta, motorista de primeira categoria, amigo do patrão, do pessoal
administrativo, dos colegas de trabalho, enfim, João não era qualquer um, e
apesar de não ter participação nos lucros da empresa, João era considerado um
dos seus dirigentes.
Mas o João há meses ou talvez anos
que vinha traindo os seus superiores. Não prestava contas de acordo com o que
recebia dos fregueses, alegava que o restante seria pago na próxima entrega. E
assim continuava enganando os seus superiores.
Já não tendo mais condições de
fornecer mercadorias aos comerciantes, os sócios entraram em acordo que, na
próxima viagem para entregar mercadorias, um deles iria acompanhar o João, só
assim, este, conversaria com a freguesia, explicando o motivo da suspensão de
mercadorias, vez que a empresa não tinha mais condições para fornecer aos
mesmos, pois estava faltando recursos para a compra de matéria prima para a sua
fábrica.
Ao tomar conhecimento da reunião que
aconteceu entre os dirigentes da empresa, o João não gostou, alegando que eles
deixaram de acreditar na sua palavra. E como o grupo de dirigentes da empresa
tinha o João como um operário exemplar, talvez padrão, disse-lhe que nada era
pessoal, apenas que a empresa não tinha mais condições de continuar fornecendo
mercadorias aos clientes, por falta de recursos para compra de matéria prima.
O dia seguinte, o João viajaria para
Baraúna, (cidade que já pertenceu à Mossoró), em companhia de um dos dirigentes
da empresa, o Carlos Couto, sócio minoritário da empresa, e agora o João teria
que se virar, pois o seu feito de desonestidade, estava preste a ser
descoberto. Na noite anterior, o João não dormiu, só pensando como iria se
livrar da situação que ganhara, por sua culpa, por sua máxima culpa.
Ao amanhecer do dia, o João
dirigiu-se até à fábrica, e lá já encontrou o Carlos Couto, que seguiria com
ele até à cidade de Baraúna, um dos lugares que a empresa abastecia mercadorias
aos comerciantes, e lá, era onde estavam os seus maiores devedores.
O carro já estava carregado, mas com
poucos produtos. O Carlos Couto ocupou a cabine do carro. O João entra no
automóvel e liga o carro, e toma direção ao lugar de destino. No percurso,
nenhuma palavra saiu da boca do João, salvo quando o Carlos Couto lhe
perguntava algo. E geralmente as respostas eram em tom de abuso.
Finalmente chegaram ao município de
Baraúna. O João estava nervoso. Logo no primeiro comerciante, Carlos Couto já
começou a notar a desonestidade do João Capistrano. Apresentada a nota de
dívida, o comerciante disse-lhe que não estava devendo nada ao João. E tudo que
ele comprava, era o dinheiro. Mais outros, todos confirmaram que não eram
devedores à empresa.
O João estava inquieto, não tinha
mais como se defender. Ninguém lhe devia. O Carlos Couto já não entendeu mais
nada. O homem que sempre foi de confiança, agora era um verdadeiro ladrão,
caloteiro, safado...
O João aceitou todas as palavras
grosseiras que o Carlos Couto disse contra si. Não tinha como reverter esta
situação desonesta. O Carlos Couto resolveu voltar logo para Mossoró, porque
seria inútil acusar os seus fregueses de devedores. Comprovada a desonestidade
do João, o empresário pediu que seguisse a estrada de Mossoró.
João Capistrano tomou a estrada, e
durante o percurso, nenhuma palavra saiu da sua boca, apenas remoía a decepção
da sua desonestidade dentro de si. Já rodado alguns quilômetros, o Carlos Couto
pediu para o João parar o carro, pois estava com a bexiga cheia. Precisava
esvaziá-la. João obedeceu e logo parou o carro no acostamento. O sócio da
empresa desceu e afastou-se um pouco da estrada. Dá início a sua necessidade
fisiológica.
João desceu e dirigiu-se ao patrão. E
sem mais imaginar, atirou nas suas costas.
O Carlos Couto dá um enorme grito, e
vendo o João com uma arma na mão, coisa que ele jamais esperava isso dele,
disse-lhe:
- Você enlouqueceu João? Você me
matou, João!
João quer terminar o serviço,
apontando a arma para o homem que já estava morrendo.
O homem ainda lhe implorou:
- Não atire mais, João! Eu...
E com o ódio na sua mente, apertou o
gatilho outra vez, disparando o segundo tiro fatal. Ao vê-lo morto no chão,
João arrependeu-se. Matou um homem que muito lhe ajudou.
Agora não era mais as contas que os
seus fregueses lhe deviam, aliás, nenhum lhe devia. Tinha que organizar a sua
defesa. João arrastou um canivete do bolso e cortou a sua própria testa, para
fingir que fora assaltado. Em seguida, deu um tiro em sua coxa. Mesmo
sangrando, seguiu a estrada de Mossoró, dirigindo com dificuldade. O sangue que
saía da coxa o incomodava muito. As dores eram cruéis. A testa estava toda
banhada de sangue.
Lentamente vem ele tangendo o carro
para Mossoró, devagar, com cuidado. Sentiu um mal-estar, e ao longe, avistou um
veículo que vinha em sua direção. João resolveu parar o carro para ser
socorrido pelo motorista que guiava o automóvel. Tinha que sair da sua cabine
antes do carro que se aproximava. Do contrário, ele não pararia.
Já bem próximo, o condutor do carro
observou que a sua cara estava banhada de sangue. Mesmo temendo, resolveu parar
para saber o que estava acontecendo.
João disse que fora assaltado, e que
vinha fugindo. Os assaltantes mataram o seu amigo, no caso, o Carlos Couto.
Como ele ainda estava dentro do carro, os assaltantes não conseguiram matá-lo.
O homem resolveu colocá-lo dentro do seu automóvel e voltou para Mossoró, deixando-o internado em um dos hospitais da cidade.
A polícia tomou conhecimento do suposto assalto. E foi de encontro ao corpo do Carlos Couto que estava à beira da estrada. As emissoras de rádio e jornais chegaram lá. A perícia também estava lá. Depois de feitos os ajustes no cadáver, removeram-no para o ITEP de Mossoró.
João continuava hospitalizado, mas
não iria demorar. O ferimento que sofreu na testa não foi grave, apenas o tiro
sofrido na coxa, precisava de uma pequena cirurgia.
No leito hospitalar João preparava a
sua defesa. E ao sair do hospital, foi prestar o seu depoimento à polícia. João
caiu em contradições várias vezes. Após tudo, João confirmou que matou o seu
patrão, com vergonha, ao saber que ele tomou conhecimento do dinheiro que vinha
desviando da empresa.
João vai a júri, Infelizmente João
foi condenado a passar 30 anos na cadeia, na Colônia Penal de Natal.
João era um preso exemplar, e após
alguns anos, ganhou o direito de ficar o dia fora da cadeia, mas à noite, era
obrigado a dormir lá.
Mas o João ainda tinha que enfrentar
outras circunstâncias na vida. Alguém, irmão do assassinado, o Carlos Couto,
estava de olho no João. Era uma irmã que não se conformava com a sua liberdade.
E de imediato, contratou um pistoleiro para executar o João.
João estava ali bem próximo da
Colônia Penal. O pistoleiro acompanhado de outro comparsa, aproximaram-se do
João, e no meio da conversa, almoçaram, beberam, jogaram sinucas..., e com este
aparato todo, o pistoleiro e seu comparsa conseguiram embriagá-lo.
Já embriagado, prometeram dar uma
voltinha pelas ruas de Natal. Mas a finalidade era tirar o João dali, e fazer o
que para eles era o mais importante. Matar o João.
Ao saírem da capital, pegaram a
estrada que segue para Mossoró, e em meio estradão, entraram em um matagal.
João estava incomodado, e ainda não sabia de nada, mas já desconfiava, e não
sabia para onde estavam caminhando.
O pistoleiro parou o carro. Os três
desceram do automóvel. João pergunta:
- Por que estamos nestas matas?
Um dos pistoleiros pergunta:
- Você está lembrado que matou o
Carlos Couto da Firma & Cia?
Com esta, João já descobriu que iria
morrer, e se defendeu dizendo-lhe:
- Lembro-me, mas já faz muitos anos.
O pistoleiro arrastou o revólver e
apontou para o João, dizendo-lhe:
- Você já estava sabendo que vai
morrer agora mesmo, cabra safado?
João se acovarda, pedindo por todos
os Santos que não o mate.
O pistoleiro apertou o gatilho, e o
João Capistrano caiu morto como um passarinho. Em seguida, tirou uma faca da
cintura, cortou-lhe as duas orelhas, entraram no carro, e tomaram a estrada
para Mossoró. As duas orelhas eram a comprovação do assassinato do João
Capistrano, as quais, tinham que ser entregues a irmã do Carlos Couto.
Finalmente João estava morto no meio
daquelas árvores verdejantes. De viventes que viram a execução do João, com
exceção dos dois pistoleiros, apenas as árvores e alguns pássaros que
sobrevoavam a pouca vegetação, presenciaram aquela triste morte de outro ser
humano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário