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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A TRAMA DA MORTE DE GONZAGA E A FAZENDA CRISTOVÃO NO CARIRI CANGAÇO SÃO JOSÉ DE BELMONTE 2018

Por Manoel Severo

O segundo dia de Cariri Cangaço São José de Belmonte iniciou com a visita técnica à fazenda Cristovão, emblemático cenário e terra dos Pereiras. Aqui morou Crispim Pereira de Araujo, famoso Ioiô Maroto, personagem principal da trama e do ataque dos cangaceiros a Casa de Gonzaga em 1922, desta fazenda partiu o bando que levaria terror a Belmonte no amanhecer de 20 de outubro de 1922, o anfitrião e Presidente da Comissão Local do Cariri Cangaço; pesquisador e escritor Valdir Nogueira; foi o responsável pela apresentação do local e pela apresentação da trama da morte de Gonzaga que teve seu ápice na sede da fazenda Cristovão.

 

É Valdir Nogueira que nos conta: "São José do Belmonte, hoje a próspera cidade do sertão central de Pernambuco, sendo uma região de fronteira, despontava como um verdadeiro arraial nas hostes do cangaço, por aqui Lampião, o rei do cangaço, deixou também seu rastro de sangue, morte e destruição, quando junto a um numeroso grupo de cangaceiros no dia 20 de outubro de 1922, invadiu a cidade para eliminar o próspero comerciante Luiz Gonzaga Gomes Ferraz. Durante o ataque, os cangaceiros também sofreram a heroica resistência do destacamento de polícia local sob o comando do bravo sargento Sinhozinho Alencar (José Alencar de Carvalho Pires) que contou naquela difícil situação apenas com oito praças e dentre esses soldados lutou bravamente o jovem belmontense Luiz Mariano da Cruz, na ocasião com 22 dois anos de idade."

Coronel Gonzaga

A Caravana Cariri Cangaço São José de Belmonte que lotou cinco pousadas na cidade, marcou o encontro defronte a Matriz de Belmonte e a manhã já ia alta quando os quatro ônibus e mais uma dezena de veículos saíram da sede do município conduzindo os mais de 200 pesquisadores que prestigiavam o Cariri Cangaço São José de Belmonte rumo as ruínas da antiga casa sede da fazenda Cristovão; coito seguro do grupo cangaceiro de Sinhô Pereira e pouso do mais forte personagem da trama da morte do comerciante Luiz Gonzaga Ferraz; Ioiô Maroto. É Valdir Nogueira que conclui: "No assalto à cidade naquele 20 de outubro de 1922, o grupo invasor tendo saído da Fazenda Cristovão às 21h do dia anterior, entrou na cidade pela Rua de São José, no meio da cabroeira invasora fazia parte um rapaz jovem de chapéu desabado e alvacento, identificado como sendo o cangaceiro Lampião.”

Valdir Nogueira, anfitrião na fazenda Cristovão

E voltemos a Valdir com um capítulo especial sobre a participação do padre José Kehrle nesse episodio: "Durante o seu paroquiato aconteceu o “massacre de outubro de 1922”. Como ordenava a tradição, a festa de outubro, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, era realizada anualmente na cidade de Belmonte. As comemorações se iniciavam com a tradicional alvorada, os sinos da Matriz repicavam, fogos explodiam no ar, banda de música e pífanos alegravam as ruas...Aquela animada noite de 19 de outubro de 1922 teve como patrono o coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz. Este senhor, ao deixar a Matriz de São José juntamente com o padre José Kehrle, seguiu para a Casa Paroquial. Lá o reverendo então o interpelou sobre a sua situação com Ioiô Maroto. Respondeu o mesmo que a malquerença entre ambos havia terminado, pois que um irmão de Ioiô entrara com ele em negociações, tendo emprestado ao mesmo a quantia de três contos de réis e cedido o vapor para serviços de Maroto, e que também havia dispensado o seu pessoal que, por prevenção trazia armado. Nesse momento uma chuva começou a cair, o reverendo insistentemente, mais de uma vez, pediu para o coronel pernoitar na Casa Paroquial. Recusando, então, o convite do padre, às onze horas o coronel deixava aquela casa e retornava ao seu lar. Lá chegando, deu de cara com seu vaqueiro, Manoel Pilé, que espantado relatou que ficara sabendo que Ioiô Maroto estava juntando um considerável número de gente em armas na sua fazenda Cristovão. 

Não dando crédito às desconfianças de seu vaqueiro, Gonzaga tranquilizou-o dizendo que não havia mais questão entre ele e seu compadre Ioiô. O certo é que pelas nove horas dessa mesma noite, Ioiô Maroto havia saído de sua fazenda com os seus companheiros e cangaceiros, parentes e moradores, em número superior a 45 homens, com rumo certo para a cidade de Belmonte, onde realizaria a empreitada na forma pretendida: matar o coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz.Em decorrência da Hecatombe de outubro de 1922 na cidade de São José do Belmonte, de acordo com o longo inquérito que procedeu a comissão judiciária, de todos os elementos que constituem as provas da ação penal ficou apurado que foi o cangaceiro Francisco Vereda quem atirou no coronel Gonzaga e no padre José Kehrle"conclui Valdir Nogueira.o

 
 
Quirino Silva

Recorreremos agora ao pesquisador e escritor Sousa Neto, Conselheiro do Cariri Cangaço que nos conta:"Ouvindo amiudadas vezes as gravações feitas pelo amigo Amaury Correa de Araújo com Sinhô Pereira e Cajueiro no final dos anos sessenta sobre esse episódio tão marcante na historia daquela cidade, fui algumas vezes averiguar “in loco” e extrair por mim mesmo determinadas conclusões. É certo que os homens ricos do inicio do século passado, na ausência de estruturas financeiras formais com suficiente segurança, tinham que guardar o seu dinheiro e objetos de valor em suas próprias residências, despertando assim o interesse de todos os ripários. Por essa época grupos de cangaceiros e salteadores infestavam os sertões nordestino roubando, assaltando , extorquindo e muitas vezes até sequestrando. A ausência do estado e o diminuto contingente de agentes da lei favoreciam essas ações.Luiz Gonzaga Gomes Ferraz havia se destacado na região do Pajeú como próspero comerciante. Era alheio a guerra travada entre as influentes famílias Pereira e Carvalho por questões politicas naquela e em outras províncias da região. Até comentavam o interesse de Gonzaga de ingressar na politica por anseio de algumas outras famílias amigas, mas Gonzaga Ferraz era mesmo um grande empreendedor. 

Ivanildo Silveira na visita a fazenda Cristovão
Débora Cavalcantes e a visita a fazenda Cristovão
Dr Ernando Carvalho e a trama da fazenda Cristóvão
E continua Sousa Neto, "em março de 1922 o principal protetor de Sebastião Pereira e Luiz Padre, “major” Zé Inácio do Barro devido à austera perseguição do Governador do Ceará Justiniano de Serpa, seguiu os mesmos passos de Luiz Padre rumo ao estado de Goiás onde se homiziaram. Ficara ainda Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) com os mesmos planos já frustrado uma vez. 

"Sem o auxilio do major Zé Inácio e do coronel Antônio Pereira em declínio financeiro, mantenedores do bando, Sinhô Pereira se obriga a pedir ajuda a outros parentes mais abastados, fazendeiros amigos e comerciantes afortunados. Manter um grupo armado naqueles tempos não era tarefa das mais fáceis. No mês de maio daquele mesmo ano um comboio conduzindo mercadorias para Luiz Gonzaga foi interceptado pelo bando de Sinhô que saqueou todos os artigos. Sinhô Pereira já era avesso a Gonzaga por esse lhe negar ajuda financeira por varias vezes, inclusive recebeu certo dia como resposta da esposa de Gonzaga, Dona Martina, “que se quisesse dinheiro, que fosse trabalhar 
como o seu esposo”.  
 
Ingrid Rebouças
Carlos Alberto e Kydelmir Dantas
Geraldo e Rosane Ferraz e Juliana Pereira

Havia, entretanto um destacamento do Ceará sob o comando do Tenente Peregrino Montenegro, homem versado pelas barbáries cometidas em busca de arrancar qualquer informação a cerca do major Zé Inácio e seus asseclas, ultrapassando inclusive as fronteiras de seu estado para saciar o seu desejo e alcançar os seus intentos. Nas cercanias do vilarejo de Belmonte havia a fazenda Cristóvão, pertencente a Crispim Pereira de Araújo, conhecido como Yoio Maroto, casado no seu primeiro matrimonio com Maria Océlia Pereira, irmã de Luiz Padre. Ao ficar viúvo casa-se com a prima da primeira esposa por nome Francisca Pereira Neves e por ocasião do falecimento de Francisca, casa-se pela terceira vez com a cunhada de nome Generosa. Yoio Maroto era amigo e duas vezes compadre de Gonzaga aonde o respeito era reciproco.
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Por ocasião da passagem do tenente Montenegro a vila de Belmonte ficou sabendo por Gonzaga Ferraz das tropelias do bando de Sinhô Pereira naquela região e da amizade e parentesco entre o chefe cangaceiro e Yoio Maroto e rumou sem demora a fazenda Cristóvão. Ao chegar, ao finalzinho da tarde o perverso oficial já mostra a que veio e começa o seu interrogatório, como de costume a base de boas chicotadas nos criados da fazenda que acudiam pelo nome de Zé Maniçoba e Zé Preto. Foi uma noite de terror para a honrada família que ouviam palavrões dos mais alarmantes por parte da soldadesca embriagada que humilharam Yoio Maroto por algumas vezes. O ex- cangaceiro Cajueiro disse a Dr. Amaury que a sua mãe só não morreu por um milagre de Deus. 

 
Valdir Nogueira e a Trama da Fazenda Cristovão
 
 

Ainda Sousa Neto: "Logo de manhã cedo sem as informações almejadas a volante cearense tratou de sair da fazenda Cristóvão e talvez pela falta de caráter que lhe era peculiar, Montenegro afirmou que estava ali por informação e solicitação de Luiz Gonzaga. Para alguns uma justificativa herética e totalmente sem crédito.O fato é que dali por diante a semente da desavença foi cultivada, Luiz Gonzaga jurando inocência e Yoio Maroto fingindo acreditar. Sedento de vingança sempre triste e acabrunhado Yoio Maroto mandou avisar a Sinhô Pereira o ultraje sofrido juntamente com a família. Sinhô já decidido a seguir para Goiás pede então a Lampião que resolvesse essa questão de Belmonte. Sinhô Pereira tinha enorme gratidão e apreço a Yoio, que além de ser seu primo era casado com Maria, irmã de Luiz Padre.
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Luiz Gonzaga Gomes Ferraz avisado de um possível ataque por parte de cangaceiros parentes de seu compadre contratou um efetivo armado para lhe garantir proteção. Semanas após resolveu deixar Belmonte retirando-se para a Bahia e depois Sergipe buscando se estabelecer quando foi convencido a voltar ao Pernambuco com todas as garantias, inclusive do governo do estado. Esse fato provocou ainda mais a ira de Yoio Maroto que começou a ponderar ser Belmonte pequeno demais para os dois, vez por outra murmurava: aqui ou um ou outro!
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Entra em cena Antônio Maroto, irmão de Yoio que para conseguir um empréstimo de três contos de reis, convenceu Gonzaga a não acreditar na boataria de uma possível vingança por parte de Yoio e que se empenharia no sentido de convencer o seu irmão de sua inocência. O avisa da saída de Sinhô Pereira do sertão nordestino o que deixa Gonzaga exultante, e em uma demonstração de placidez despensa a sua guarda pessoal recolhendo as armas e munições. Acreditou que tudo havia acabado. Mero engodo. Ainda alertado pelos habitantes de Belmonte para não dar crédito a Antônio Maroto, alguns amigos diziam: “Gonzaga em cangaceiro não se pode confiar, Yoio está preparando o bote”! É certo que todos tinham razão. Yoio Maroto ia pouco a pouco arregimentando homens para o ataque. Entre outros contou com Tiburtino Inácio (Gavião), filho do major Zé Inácio do Barro que tinha uma irmã casada com um primo de Yoio. Depois Cicero Costa e mais alguns familiares."

Voldi Ribeiro, Manoel Severo e Robério Santos
Ivanildo Silveira e Bosco André
Aderbal Nogueira e Jorge Remígio, ao fundo: Arthuzinhoo

"Em recente entrevista que fiz com o Sr. Vilar Araújo, filho de Luiz Padre no estado de Tocantins, esse afirmou que José Terto (Cajueiro) já se encontrava na região central do país há mais de dois anos ao lado de seu pai, quando da chegada de Sinhô Pereira lhe ordenando a voltar ao sertão nordestino comandar essa ação. Vilar conta que o seu tio Quinzão (Cajueiro) quando tomava umas doses de aguardente, sempre narrava esse episódio. É certo que a mãe de Cajueiro, D. Antônia Pereira da Silva foi ultrajada pela força volante de Peregrino Montenegro como ele mesmo narra. O que me causou mais curiosidade foi o fato do cangaceiro tão distante ser enviado para comandar uma ação já designada a outro. Questionei com o senhor Vilar essa motivação de Sinhô Pereira e Luiz Padre. A resposta veio sem pestanejar: “Tio Chico (Sinhô Pereira) acreditava que Lampião pudesse não atender ao seu pedido”. Cajueiro chega e se integra ao pequeno grupo liderado por Lampião e principia os preparativos para o ataque." 
Sousa Neto, pesquisador e escritor.

 
 
Ruínas da Fazenda Cristovão de Ioio Maroto

Cariri Cangaço São José de Belmonte
Fazenda Cristovão e Casa de Gonzaga
12 de Outubro de 2018
Fotos de Ingrid Rebouças e Louro Teles

Imagens Imorredouras da Visita do 
Cariri Cangaço a Fazenda Cristovão...

 

 
 
 
 
 
 

A Grande Chegada da Caravana Cariri Cangaço à Fazenda de Ioiô Maroto, palco da trama da invasão e morte de Gonzaga em 1922...

 
 
 

De todos os rincões brasileiros; de norte a sul e de leste a oeste; vieram os mais de 200 pesquisadores das temáticas nordestinas, consolidando uma das maiores participações em todas as edições do Cariri Cangaço. Eram representantes de 15 estados da federação, todos imbuídos de um mesmo propósito: Amor à verdadeira história nordestina...
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As fotos acime testemunham a integração da verdadeira alma nordestina: Robério Santos de Itabaiana, Cris Silva de Natal,Vera Lucia de Poço Redondo, Luiz Antônio de Cajazeiras, Sousa Neto de Barro, Ivanildo Silveira de Natal, Nininho de Itabaiana, José Irari de São José de Piranhas ,Espedito Sobreira de Crato, Divanildo de Recife, Antônio Edson de Alagoinhas, Manoel Serafim de Floresta, João Andrade de João Pessoa, Wescley Rodrigues de Sousa, Arthur Holanda de Sousa, Thiago Gontijo de Belo Horizonte, Lili Conceição de Belo Horizonte, Tereza Raquel de Juazeiro do Norte, Edvaldo Feitosa de Água Branca, Narciso Dias de João Pessoa, Cristina Couto de Lavras da Mangabeira, Luiz Forró de Natal e Amélia Cardoso de Fortaleza... 

 
 
 

Mais um pouco da grande construção coletiva chamada Cariri Cangaço: Geraldo Ferraz de Recife, Célia Maria de João Pessoa, Jorge Remígio de Custódia, Luiz Ruben e Ângela de Paulo Afonso, Nivaldo Carvalho de Natal, Getúlio Bezerra de Brasilia, Junior Almeida de Capoeiras, Juliana Pereira de Quixadá, Cícero Aguiar de Salgueiro, Débora Cavalcantes de Recife, Rangel Alves da Costa e Milla Ferreira de Poço Redondo, Valdir Nogueira de São José de Belmonte, Camilo Lemos de Piranhas, Rita Pinheiro de Salvador, Rossi Magne de Propriá, Augusto Martins de Afogados da Ingazeira, Divonildo Sobreira de Lavras da Mangabeira, Jose Carlos de Santana de Ipanema, Wilton Silva de Crato, Quirino Silva de João Pessoa, Manoel Belarmino, Rose e Maria Oliveira de Poço Redondo e Manuel Dantas Suassuna... A isso chamo Cariri Cangaço !

 
 
 
Cariri Cangaço, 
mais que um evento, um sentimento...

http://cariricangaco.blogspot.com/2018/10/a-trama-da-morte-de-gonzaga-e-fazenda.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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