Seguidores

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

LEMBRANÇAS DE BELMONTE: UM CAUSO DE DANTAS SUASSUNA


Por Junior Almeida

De 11 a 14 de outubro de 2018 estivemos em São José do Belmonte, Pernambuco, já na divisa com o Ceará, na reunião da “família” Cariri Cangaço, que através dos seus pesquisadores estuda o cangaço, coronelismo, messianismo e os mais diversificados temas que têm o Nordeste como fonte. Esta que foi a nossa última reunião do ano. Já tínhamos estado juntos em abril em Fortaleza, Ceará, e em junho em Poço Redondo, Sergipe. No evento mais recente, além do maravilhoso povo belmontense, pessoas de pelo menos quinze Estados do Brasil estiveram presentes na terra da Pedra do Reino.

Dentre os participantes do encontro estava o recifense Manuel Dantas, filho do Mestre Ariano Suassuna, que por ser estrela de primeira grandeza dispensa maiores apresentações. Sem estrelismos ou “rique fifes”, mesmo muito assediado, Dantas foi de uma simplicidade admirável, assim como era seu pai. Do velho mestre, Dantas também parece ter herdado a visão política e a paixão pelo Sport Club do Recife.

 Só pudera: “boa árvore, bons frutos”, já diz o adágio popular.

Dantas, assim como seu pai, é um contador de causos e, no sábado, sentado à mesa de café da manhã do hotel em que estávamos, junto com Manoel Serafim, de Floresta e Luiz Forró, de Natal, nos brindou com algumas histórias desconhecidas pela grande parte dos admiradores de Ariano Suassuna. Um desses causos eu achei interessante e decidi dividir com vocês. Segundo Dantas, foi assim:

Numa final do campeonato pernambucano de futebol, provavelmente em 2010, onde o Sport Recife decidia a taça em “casa”, Dantas ligou para seu pai, perguntando se ele gostaria de ir com ele ao jogo na Ilha do Retiro. Ariano disse que não, pois estava cansado. Qual foi a surpresa de Manuel Dantas quando viu no outro dia em toda imprensa de Pernambuco a festa do Leão comemorando o título e, a foto do Mestre na primeira página de um jornal da capital. A imagem mostrava Ariano na sede do Sport em meio aos torcedores, vestido no seu tradicional “Sport fino”, com um sorriso de orelha a orelha, é claro, e de braços abertos fazendo o sinal de positivo. O tradicional joinha.

Ué, levei um bolo do meu pai? Pensou Dantas.

O filho de Ariano disse que ficou sabendo depois que seu pai resolveu após o telefonema ir ao jogo. Foi de táxi. Desembarcou na avenida, ao lado da estátua de Ademir Menezes, entrou pela rampa da sede, passou despercebido pelo avião que enfeita uma espécie praça nas dependências do clube e, ficou parado em frente ao portão de entrada das autoridades, já na sede monumental. De início o porteiro reconheceu o escritor, mas achou que ele esperasse alguém. Passado um tempinho, o rapaz falou com o Mestre:

Quer entrar, Doutor Ariano?

Rapidamente o autor de O Alto da Compadecida foi levado ao elevador e acomodado em um dos camarotes, onde assistiu ao jogo. E o resto, como já foi dito, foi só festa, só comemoração. Um fato curioso se deu perto de Ariano ir embora pra casa. Um oficial da polícia militar quis saber com quem Ariano tinha ido pra Ilha e, se surpreendeu em saber que o escritor estava só e que tinha ido e voltaria de táxi. Muito ativo e preocupado com a segurança do ilustre torcedor o homem imediatamente chamou quatro militares sob seu comando e mandou que eles escoltassem “Doutor Ariano” até um táxi.

Muitos ficaram intrigados ao ver o escritor caminhando entre quatro soldados, dois de cada lado, e até chegaram a pensar que Ariano Suassuna estava sendo detido. Alguns cochichavam e outros até protestavam contra a suposta prisão. Um dos que teve esse pensamento foi outro oficial, que trabalhava no térreo da sede do Sport. O militar correu até os colegas para resolver a bronca.

O que aconteceu, por que estão “levando” Doutor Ariano? Quis saber um preocupado militar.

Depois das devidas explicações, que os praças apenas escoltavam o célebre torcedor do Sport, o major ficou temeroso que Ariano Suassuna voltasse pra casa desacompanhado e ainda por cima de táxi, estando Recife naquela balbúrdia e, meio constrangido fez uma proposta inusitada ao Mestre. Disse o militar:

Doutor Ariano, o Senhor se incomodaria se a gente o levasse pra casa numa viatura?

Bem humorado, de pronto o escritor aceitou a carona, e foi assim que Ariano Suassuna foi de táxi assistir seu time de coração e voltou numa viatura da Polícia Militar de Pernambuco, fazendo brotar na cabeça dos que viram a cena as mais férteis versões.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário