Por Tomislav R.
Femenick - O Mossoroense.
Mossoró, 14 jun. 2007.
No dia nove
passado, Mossoró iniciou as comemorações dos oitenta anos da celebre
resistência, que seus cidadãos fizeram ao ataque que o bando de Lampião
intentou contra a cidade. Três pessoas de minha família tiveram a honra de
receber, em nome dos nossos antepassados, a Medalha do Mérito da Resistência,
dada pela senhora prefeita, Fafá Rosado: eu recebi a honraria dada ao meu
bisavô, o cel. Vicente Ferreira Cunha da Mota; Haroldo Ferreira da Mota, em
nome do nosso tio, o Padre Mota, e Ricardo Jorge Duarte Galvão, em nome do seu
avô e meu tio Francisco de Araújo Galvão.
Há quarenta
anos, portanto em 1967, publiquei nos jornais “O Povo”, de Fortaleza (edição de
28 de setembro de 1967) e o “Diário de Pernambuco”, de Recife (edição de 01 de
outubro de 1967) uma matéria sobre um dos últimos sobreviventes do bando de
Lampião, e que, surpreendentemente, pacificamente vivia em Mossoró. A
transcrevo a seguir:
“Foi
recentemente localizado nesta cidade um dos mais famosos membros do grupo de
cangaceiro de Virgulino Ferreira, o Lampião, a quem serviu e acompanhou na
senda do crime, por cinco longos anos.
Asa Branca
Trata-se de Antônio Luiz Tavares, o Asa
Branca, que era conhecido como um cangaceiro de bons modos e de trato amável.
Porém, enquanto permaneceu no bando, ele vivenciou todas as peripécias que
faziam parte do cotidiano dos cangaceiros: ataques, saques, sequestros, mortes,
agruras e, também, fugas.
Hoje, com fala
macia e procurando se esquivar do seu passado, Asa Branca não deixa
transparecer, no seu atual proceder, aquele homem de ontem, quando era um dos
“cabras do Capitão Virgulino” – usando as suas próprias palavras. Antônio Luiz,
segundo nos contou depois de muito pensar, teve seu pai assassinado, quando ele
tinha apenas dois meses de vida, em Cajazeiras do Rio do Peixe, cidade do
interior da Paraíba. Depois de crescido e de compreender a causa de sua
orfandade, vingou o crime, quando ainda com a idade de 13 anos.
– “O assassino
de meu pai era protegido do chefe político do lugar – declarou-nos. Ele não
sofreu nada pela morte que praticou, mas eu talvez morresse na mão da polícia
ou dos outros cabras. O jeito foi o cangaço. Lampião me aceitou e eu fui
cumprir a minha sina. Vida dura e difícil, mas em todo caso era vida. No
cangaço a gente faz muita coisa que não gosta, mas muito pior era não viver.
Lutar com a polícia para viver era muito melhor do que ter certeza de que
morreria se caísse nas mãos dos parceiros do homem que matou meu pai”.
Um ano depois
de seu primeiro crime, isto é, em 1922, Lampião fez uma visita à propriedade
onde Antônio Luiz Tavares se encontrava escondido. A presteza com que o jovem,
de apenas 14 anos, fazia uso de armas de fogo aguçou a curiosidade do Rei do
Cangaço. Prontamente o recrutou para o seu bando. Antônio Luiz Tavares se
transformou em Asa Branca e varou os sertões do Nordeste por cinco anos com o
grupo de Lampião, tomando parte em todos os assaltos, praticando atrocidades
que a vida nômade do cangaço lhe impunha. Participou do assalto ao Apodi, como
de tantos outros, e esteve no ataque a Mossoró, atirando contra a trincheira da
Estrada de Ferro.
Asa Branca foi
preso pela polícia do Ceará e recambiado para Mossoró, ainda no tempo em que
cangaço era coisa comum no Nordeste. Aqui foi julgado e cumpriu pena de 10
anos. Paga a sua dívida para com a sociedade, ele voltou para o Ceará. Somente
retornou para Mossoró quando já estava esquecido. Agora, quando é cidadão
pacato, pai de família e trabalhador (ele fez questão de ressaltar isso), não
quer se lembrar que já fez algo errado. Trabalhando no Instituto de Educação de
Mossoró, no meio de professores e estudantes, ele se diz feliz.
Recentemente,
o cidadão Luiz Tavares da Silva foi convidado a comparecer a uma reunião do
Rotary Clube de Mossoró. Lá também estava o Dr. Abel Freire Coelho, o promotor
que o acusou quando do seu julgamento. Acusador e acusado de ontem trocaram
apertos de mãos, como dois bons cidadãos de hoje”.
Adendo:
O historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros administrador do blog Tok de História tem documento que comprova que Asa Branca começou pagar o seu feito na capital do Estado Natal. Inclusive recebi através de e-mail uma cópia. Mas apenas estou informando, e nada contraria o que escreveu o jornalista Tomislav Feminick.
http://www.tomislav.com.br/o-cangaceiro-que-vivia-em-mossoro/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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