Rangel Alves da Costa
Quem não se recorda da letra dessa maravilhosa composição musical? Eis duas estrofes: “Numa luta de gregos e troianos por Helena, a mulher de Menelau, conta a história que um cavalo de pau terminava uma guerra de dez anos. Menelau, o maior dos espartanos, venceu Paris, o grande sedutor, humilhando a família de Heitor, em defesa da honra caprichosa. Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor... A mulher tem na face dois brilhantes, condutores fiéis do seu destino, quem não ama o sorriso feminino desconhece a poesia de Cervantes. A bravura dos grandes navegantes, enfrentando a procela em seu furor, se não fosse a mulher mimosa flor a história seria mentirosa. Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor...”.
O que dizer, então? A mulher que tem o poder sobre o homem. A mulher que tem magia sobre o homem. A mulher que envolve e enlaça o homem na sua teia. A mulher que faz o homem se submeter aos desejos.
E, amando, o homem cede. E, apaixonado, o homem se deixa levar. E, desnorteado pelo encantamento, se deixa levar feito asa ao sabor daquele desejo. Mulher e sereia, mulher e vestal, mulher que sempre possui o dom de domar e dominar o homem.
Por que assim? Ora, pela incompletude do homem em si mesmo e pela necessidade de buscar no outro sexo a sua valia, a sua completude. Mas mulher não é qualquer uma. A diferenciada mulher é exatamente aquela que faz o homem se encantar desde o primeiro instante e muitos mais depois de conhecê-la.
Então a mulher passa a exemplificar o prazer e a alegria, o desejo e a vontade, a volúpia e ânsia, o ter e o ser, o sexo e o querer mais. A mulher passa a ser tão importante que o homem de repente passa a ser subjugado por aquilo que chama e tem como flor.
Mas não apenas a mulher que meramente apaixona o homem e, ao apaixonar, simplesmente faz dele um reles objeto em suas mãos. Mulher que também partilha e compartilhar, que ajuda e progride, que sempre deseja o melhor para os dois. Uma guerreira cuja luta não chama a vitória somente a si.
A letra da música a qual o título se refere fala em mulher nova, bonita e carinhosa. Há uma delimitação na idade, na beleza e no jeito de ser. Contudo, não precisa, necessariamente, que carregue sobre si, e perante uma primeira visão, todas essas virtudes.
Nem toda mulher nova é convite ao desejo do homem. Nem toda mulher bonita consegue atrair o desejo do homem. Mas toda mulher virtuosa pelo carinho, cuidado, afeição, possui consigo a chave do aprisionamento do homem.
Uma mulher nova e arrogante de pouca serventia será senão a sexual. Mulher nova e bestializada em atitudes e ações, nenhum encantamento poderá provocar. Mulher bonita, mas cuja beleza não seja expansiva também em aspectos comportamentais, igualmente será desprezada. E como feia logo será vista.
Desse modo, tem-se que a beleza feminina não está somente na idade, no rosto e corpo bonitos, no seu jeito de se mostrar mulher. A real beleza feminina está numa junção de atributos que somente o tempo e o convívio poderão comprovar.
A beleza feminina não é aquela puramente percebida, mas aquela sentida na própria mulher. Sua beleza está na atitude, está na sensação de prazer e bem-estar transmitidos. Está na honradez e no caráter, na simplicidade e na cordialidade. Ora, quem deseja ter uma beleza apenas como enfeite ou objeto de uso?
A mulher que prende e encanta o homem é aquela carinhosa, afetuosa, meiga, que exala brandura. Uma mulher que dê o prazer do compartilhamento como se o homem estivesse perante um jardim.
Daí a existência de muitas mulheres, mesmo novas, bonitas e carinhosas. Mas a que prende o coração do guerreiro e transmuda sua lança em flor é aquela cuja beleza vá além da aparência. O que encanta, verdadeiramente, é o que a mulher possa aflorar do seu íntimo.
Escritor
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