*Rangel Alves da Costa
A humildade e a valorização do outro, sempre demonstram a grandeza de cada ser. Ninguém é mais que ninguém. Na escrita da vida, os exemplos mostram que aquele que foi negado será o capaz de servir num instante de precisão.
Não há mão ornada de dourado ou de anel de doutor que seja mais importante que a mão tosca pelo trabalho duro na enxada. Aquele de roupa velha e carcomida de tempo possui o mesmo - ou maior - valor que aquele escondido atrás de terno ou gravata.
A honradez não possui classe social ou se qualifica em pobreza ou riqueza. A honradez não se expressa de outra forma senão no caráter. Então por que negar o outro por ser diferente, por ser empobrecido, por ser “acanhado e matuto”, por ser de pouca palavra ou de verbos desconsertados pelo pouco saber?
Então por que discriminar o outro por não vestir roupa igual a que você usa, por não viver “enturmado com sua turma”, por não gostar do que você gosta, por não “curtir o que você curte”, por não beber a mesma bebida que você bebe ou comer a mesma comida que você come?
Então por que desviar o olhar e esconder as mãos ante aquele que chega com roupa de trabalho debaixo do sol, que vem com o rosto lanhado de tempo e com os pés calçados em velho roló, que tem vontade de se aproximar para uma palavra ou um cumprimento, porém teme que seja negado?
Nada mais temos que um corpo vão que será transformado em pó. Nada mais somos que uma aparência daquilo que realmente queríamos ser. O que queremos ser e não somos está exatamente do desejar além do temos e somos em nós mesmos.
As máscaras um dia caem. As fantasias um dia dão mostras à realidade. As ilusões sucumbem para dar vazão à verdade. Pobre do ferro que se imagina ferro pela eternidade. O tempo enferruja o ferro, a maresia estraçalha os seus restos. O que somos, então?
Somos apenas o que nos resta ser. Nada além disso. Somos uma biologia que aos poucos vai se negando. Somos uma química cuja experimentação vai desfazendo conceitos. Talvez sejamos apenas o barro. Sim, carne e osso que nada são mais que barro. E tão quebradiço que depois em pó se transforma.
Em todos, indistintamente. Orgulho, soberba e egoísmo, só fazem bem aos corações doentios. Presunção, vaidade e arrogância, só fazem bem àqueles que não gostam nem de si mesmos nem de ninguém. A vida e o mundo clamam por humildade, por respeito, por fraternidade. De todos com todos, indistintamente.
Olhe bem dentro dos olhos daquele carente sertanejo após receber um cumprimento ou abraço seu. Chegam a brilhar de satisfação. E quanto custa entrar numa casinha de cipó e barro, conversar com a família, demonstrar sincera amizade? Quanto custa abraçar aquele velho amigo de infância, relembrar causos antigos e partilhar momentos de amizade?
Quanto custa descer do pedestal da arrogância e se humanizar perante aqueles irmãos de mesmo sertão e mesmo mundo? Quanto custa reconhecer que é igual ao outro, que um dia poderá precisar do outro, que se seu passo faltar uma mão fraterna poderá ajudar a seguir em frente.
Verdade: ninguém é mais que ninguém! E pelos caminhos da vida, nas misteriosas curvas da estrada, de repente aquele que você nunca esperou estará por perto para ajudar. Mas será que você merece ser ajudado? O que você faz que o torne capacitado a ser reconhecido? Como vê, tudo depende de você.
Muito mais pobre do que você, muito mais carente do que você, mas de uma riqueza humana sem igual. E depois de agradecer, você ter o desprazer de recordar que nunca havia dado a mínima importância àquela pessoa. Assim. Bem assim.
Bem assim mesmo acontece. Pessoas passam pelas pessoas e é como se não passassem perante ninguém. Pessoas avistam pessoas e talvez um muro fosse de muito mais importância. Pessoas que são assim. Menosprezam, ignoram, fazem de conta que o outro sequer existe.
E chegam a perguntar: Eu conheço você? Não importa que conheça ou não. Não importa que seja do próprio meio ou não. Neste mundo tão pequeno e de idas e volteios inesperados, tudo mundo acaba conhecendo todo mundo. E aquele que se nega reconhecer, mais tarde haverá de implorar para ser avistado.
Uma questão de valorização. Ou a simples medida daquilo que realmente somos: apenas um nome numa pessoa. Nada mais que isso. Todo o restante é de frágil ferro que pelo tempo vai ser carcomido. Ou o barro que ao pó retornará.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário