Artigo Luiz
Serra
in Blog Ponto de vista - de Nelson Freire
// Foi um
choque a notícia da morte do jornalista Ricardo Boechat em acidente de
helicóptero, que precipitou sobre uma rodovia em São Paulo. A meu ver Boechat
cativou um enorme público pela sua opinião isenta e visivelmente apartada de
prioridades ou privilégios. Nas entrevistas era incisivo na crítica com sobejo
fundamento e pertinência. Embora polêmico, por vezes, contraditório, era enfim
admirado respeitosamente por quem havia inquirido com rigor. Deixará uma lição
do fazer jornalismo, além de espírito público manifesto em seus variados
programas nas diferentes mídias, tevê, rádio, jornal ou internet.
Por outro
lado, Boechat foi vítima de mais uma sequência de tragédias, contra as quais se
batia pela busca de respostas. No seu derradeiro programa, criticou a
impunidade que produz repetições de catástrofes que poderiam ser previstas e
evitadas.
E o
helicóptero? Afinal, é um transporte seguro, em que pese às notícias de tantos
acidentes pela mídia?
Foto do acervo da amiga Angelita de Araújo, comandante de
Boeing da GOL.
Nesse ponto,
teço breve explanação pessoal para chegar a melhor resposta à indagação
anterior. Sou formado em Letras pela Universidade de Brasília há algumas
décadas. No passado exerci o mister de controlador de voo e piloto civil, após
curso na escola de cadetes da AFA. Também exerço, além do magistério noturno, a
função de revisor profissional de textos e, nesta última década, atuei na
assessoria de revisão dos relatórios finais do CENIPA, que é o centro
investigador de acidentes aeronáuticos do governo federal, exercido pela FAB.
Após exame de
centenas de relatórios de acidente com helicópteros, adstritos a proficientes
investigadores do Cenipa, e com base nas estatísticas havidas e confrontantes
aos incidentes e acidentes, eu poderia arriscar que a resposta é sim, que voar
de helicóptero é um meio seguro de transporte de pessoas. Notadamente o tipo de
helicóptero que está na cena do infausto acidente com Boechat: o Bell Jet
Ranger, em voo há mais de quatro décadas no Brasil.
O
piloto Ronaldo Quattrucci ao lado do Bell Jet Ranger que sofreu lamentável
acidente. Veja SP.
Do acidente em
tela, em que pereceram o piloto Ronaldo Quattrucci e o âncora Boechat, nada se
pode concluir de forma terminativa, pois o processo investigador pelo Cenipa
está em curso inicial. Em um panorama geral acerca de acidentes com
helicópteros podemos tecer uma suma estatística.
Pelo site do
Cenipa, atendendo à demanda por informações, os interessados podem absorver
dados disponíveis, por meio do Sumário Estatístico de Helicópteros. Na mesma
página do órgão brasileiro de prevenção e investigação de acidentes aéreos,
lê-se resumida nota da Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros (Abraphe)
em que enuncia ser o Brasil um dos maiores operadores de helicópteros do mundo.
Da mesma forma
a ANAC fez divulgar esta semana (11/02/2019) que há 2119 helicópteros
registrados no Brasil, e que, em 2018, houve 21 acidentes desse tipo de
aeronave que constam dos relatórios. Dessas ocorrências, foram sete acidentes
graves com 24 mortos, sendo que a média de fatalidades relacionadas a
helicópteros para os últimos dez anos resultando na conta de 14,4 ao ano. Se
elevarmos os números estatísticos para a aviação em geral, biênio 2017/2018,
pode-se destacar a marca de 1 acidente para 1.3 milhão de voos.
Ricardo
Boechat e Veruska Seibel, no 8º Encontro Internacional do Vinho,
2005. Arquivo: Gazeta.
O modelo de
helicóptero B06, Bell 206B Jet Ranger II, monomotor à turbina, há muitos anos
considerado o helicóptero mais seguro do mundo, por pilotos e organismos de
safety, ele próprio muito utilizado em voos de salvamento de risco e até em
combate a incêndio, exatamente é o tipo de transporte que vitimou Ricardo
Boechat.
Lembro-me de
um dileto amigo, o comte. Antônio Nascimento, da antiga Votec, que fez o famoso
voo dentro do túnel do Pasmado, no Rio, no conhecido filme Roberto Carlos em
Ritmo de Aventura, de 1968, faleceu recentemente, já idoso, após 15 mil horas
de voo, boa parte em asas rotativas.
Para concluir,
pode-se afirmar que voar de helicóptero é bastante seguro. Já há tempos no meio
da aviação se diz que dos veículos aéreos o helicóptero só fica atrás do avião.
Que o helicóptero só rivaliza em termos gerais em qualidade de segurança com os
elevadores, que vivem em monótono sobe e desce, e com o metrô; no entanto, voar
é bem mais fascinante e divertido do que estes.
No mais,
lastimam-se os admiradores de Boechat, pois ficou a marca inconfundível de um
inegável profissional da opinião, deixando verdadeiras aulas de humor e
cidadania, que a todos contagiava. E certamente já deixando saudades nas manhãs
da telinha mágica!
Luiz Serra,
acadêmico do IHGDF e autor do ensaio histórico "O Sertão Anárquico de
Lampião".
https://www.facebook.com/luiz.serra.14/posts/10213314976291330
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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