Clerisvaldo B. Chagas, 26 de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.067
Escreveu o escritor Oscar Silva: Quando a Coluna Prestes passou pelo Nordeste em 1924, aos meus nove anos de idade, nossa cabeça infantil foi ficando confusa, misturando as notícias dos revoltosos com as primeiras e verdadeiras histórias de Lampião, de que íamos tendo conhecimento.
Até pouco tempo, pertencendo ao grupo dos Porcino, não passava ele de um simples Virgulino Ferreira da Silva, cabra de Antônio Porcino. Como também o eram seus irmãos (...) desviados em 1918, da profissão de tropeiro a de matadores de gente.
(...) Em 1926, Lampião achou de fazer umas visitas a quase todos os municípios e distritos sertanejos. Entrou em Olho d’Água das Flores, com 106 cabras bem montados, a corneta tocando na frente. Percorreu outros distritos e ameaçou beber água do Ipanema dentro mesmo de Santana. A cidade preparou-se para recebê-lo. Em todos os becos e bocas de estradas, as sacas de lã formavam trincheiras à espera do Rei do Cangaço. Dia e noite cruzavam as ruas homens e soldados fuzis e rifles ao ombro, cartucheira na cinta e medo no coração. O menor ruído, o mais leve sinal era bastante para que as trincheiras se enchessem de homens. Em um desse dia, o sol queimava a caatinga e banhava a cidade de luz. Ao lado do serrote do Cruzeiro levantou-se a poeira e veio vinda estrada afora, direção à rua. Um grito ecoou pela cidade inteira:
-- ‘Lampião!’
Corriam homens em todas as direções. Mulheres e meninos tremiam dentro de casa. Os ferrolhos dos fuzis e alavancas de rifles faziam lacolaco atrás das sacas de lã (...). O carro de boi desceu a ladeira, as palhas da tolda reluzindo ao sol. Vinha para a cidade uma família santanense que corria do grupo de cangaceiros. Os homens se recolheram. Arrefeceu o pavor geral. O riso invadiu a cidade. E, quando o carro foi entrando, já se dizia pilhericamete:
-- Vai entrando o carro de Lampião.
Isto aconteceu. Isto em vi. (22).
Extraído do livro:
CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello.Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 150-151.
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