Por Raul Meneleu
Na história do
Cangaço precisamos ter cuidados em fazermos afirmativas, pois as contradições
que muitas vezes, senão em maioria, nunca foram propositais. Destaco o
depoimento da cangaceira Sila, quando, contando que na noite anterior do
fatídico dia da morte de Lampião e Maria Bonita, junto com mais nove
cangaceiros, estava sentada em uma pedra, conversando com Maria e que viu
lampejos que ela achava que poderiam ser fachos de lanternas, mas que fora
dissuadida por Maria Bonita, que lhe dissera que eram apenas luzes dos
vagalumes. Ela então talvez convencida naquela ocasião, que realmente eram
lâmpadas de vagalumes, não ficou preocupada e nem disse isso ao seu companheiro
Zé Sereno quando chegou em sua barraca. No depoimento ela diz que após o
acontecido, lembrando dessa conversa, esta lhe marcou a mente, que eram
soldados fazendo o cerco ao Angico. Mas pergunto: que hora era aquela da
conversa, se o ataque se deu cedinho pela manhã e temos testemunhos de
soldados, que disseram que às 3 horas da manhã, não tinham ainda atravessado o
Rio São Francisco?
A mente humana
pode ser convencida por algum fato lembrado, mas que necessariamente tal fato
não se deu. Boa parte das lembranças do ser humano é falsa. Jamais
aconteceu. Não passa de mentiras inventadas pelo cérebro, dizem os
psicólogos. Parte das lembranças é pura imaginação. Isso porque a memória
não é um registro da realidade – é uma interpretação construída pela mente. O
nosso cérebro inventa o mundo, das cores que a gente vê às experiências que a
gente vive. E edita essas informações antes de gravá-las.
Adília e Sila
Boa parte das
lembranças é falsa. Jamais aconteceu. Não passa de mentiras inventadas pelo
cérebro. Lembrar é imaginar, e imaginar é distorcer. Em uma reportagem de
Gisela Blanco e Bruno Garattoni publicado na revista Super Interessante de
julho de 2018, reportando sobre isso, mostra que essas lembranças sempre
afloravam no consultório de algum psicólogo, depois de sessões de terapia com
técnicas de hipnose e regressão e se descobriu muitos casos de falsas memórias,
que haviam sido acidentalmente induzidas por psicólogos durante sessões de
hipnose. É aquela história que de tanto se falar se acredita.
"É uma
interpretação construída pela mente. O nosso cérebro inventa o mundo, das cores
que a gente vê às experiências que a gente vive. E edita essas informações
antes de gravá-las, explica o psicólogo cognitivo Martin Conway, da
Universidade de Leeds. Cientistas da Universidade Harvard pediram a voluntários
que se lembrassem de uma festa em que tinham estado. Em seguida, eles deviam
imaginar uma festa que ainda não havia acontecido. Os pesquisadores monitoraram
as cobaias durante todo o experimento e descobriram que, nos dois exercícios,
sua atividade cerebral foi praticamente a mesma. Ou seja: os mecanismos que
usamos para acessar nossas memórias são os mesmos que usamos para imaginar as
coisas. Uma pessoa pode ter lembranças erradas ao ler o que está gravado
corretamente na sua memória,
Vocês podem
até se lembrar do principal, mas todo o resto será distorcido – com direito a
várias informações criadas pelo cérebro. Já que a memória e a imaginação usam
os mesmos mecanismos, a mente não vê problema em dar uma inventadinha para
completar as lacunas.
Essa tendência
é tão forte que a Justiça possui artifícios para se defender disso, e ver se os
relatos de testemunhas estão contaminados pela imaginação. Além de propor
situações que não aconteceram (como no caso do americano Paul Ingram), os
interrogadores evitam perguntas indutivas (“ele estava usando um boné, certo?”)
ou que envolvam raciocínio negativo (“isso não está certo, né?”), pois elas
acabam levando o cérebro a distorcer as memórias. Mas não há uma maneira de
determinar, cientificamente, se uma lembrança é real. Nem mesmo o detector de
mentiras consegue desmascarar falsas memórias, e por um motivo simples. Sabe
aquela máxima que diz: uma coisa não é mentira quando você acredita nela? Pois
é.
Apesar de tudo
isso, é difícil imaginar uma sociedade que não acreditasse na memória das
pessoas. Não existiria verdade nem realidade coletiva, pois cada indivíduo
viveria isolado em seu próprio mundo de lembranças. “A crença na memória é
fundamental para várias instituições da sociedade, como a Justiça e as
escolas”, afirma Schacter. Ainda bem. Pois, no futuro, nossas memórias serão
totalmente diferentes."
Sila ao lado
de seu companheiro Zé Sereno e seu bando
Então amigos,
não era porque Sila estava mentido. Ela e Maria Bonita realmente conversaram
naquela pedra e a lembrança que Sila teve quando algum tempo depois, alguns
dias depois ou talvez meses, quando ela lembrou ficou gravado em sua mente que
aquelas luzes de lanternas eram dos Soldados. Mas não poderia ser pois, a que
horas elas estavam conversando em cima daquelas pedras? Era 3 horas da manhã?
Eu duvido que isso se deu nessas horas entre 3 e 4 da manhã! Provavelmente
deveria ser, essa conversa, antes de 22h.
Mas aí já
entra da minha parte essa interrogação. Mas sinceramente acho muito difícil que
essa conversa tenha se dado as 3 horas ou 4 horas da manhã pois os soldados
ainda estavam atravessando o rio.
Raul Meneleu,
pesquisador, Conselheiro Cariri Cangaço
30 de novembro
2018
http://meneleu.blogspot.com/
http://cariricangaco.blogspot.com/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário